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Apesar da alta no consumo de streaming no Brasil, resultando em aumento considerável do faturamento de música gravada acima da média mundial, o setor ainda sofre com os cancelamentos dos shows e falta de suporte para artistas independentes.   

O ano de 2020 foi devastador para o mercado de uma forma geral e muitos setores sofreram os impactos da pandemia. Para o mercado fonográfico, não foi diferente. Apesar do crescimento do consumo digital, impulsionado pelo streaming e as produções de lives que invadiram as plataformas digitais, o setor ainda sofre com os cancelamentos de show e eventos culturais, gerando um prejuízo global de US$ 30 bilhões, de acordo com a revista especializada “Pollstar”. 

O impacto de shows e eventos públicos cancelados afeta também a arrecadação dos direitos autorais, que de acordo com a revista Forbes, no Brasil, sofreu uma redução de 20% do valor do ano passado, se comparado ao ano de 2019. Mais de R$100 milhões deixaram de ser arrecadados como resultado desses cancelamentos.   

Em contrapartida a esse cenário, o digital vem ganhando cada vez mais força e dando a oportunidade para muitos artistas, produtores e negócios da indústria fonográfica se reinventarem e ganharem espaço em um mercado extremamente competitivo. Hoje, as plataformas digitais como Spotify, Apple, Deezer e Amazon são responsáveis por 62,1% da receita global de música, alcançando um público vasto que pode acessar o que gosta de ouvir em qualquer hora e lugar.  

De acordo com os dados divulgados pelo relatório de 2020 da IFPI (Federação Internacional da Indústria Fonográfica), o Brasil teve um uma alta de 24,5% na renda de consumo de música gravada, sendo o maior crescimento em duas décadas, desde o início da era digital no país. Esse crescimento, ainda de acordo com o relatório, está diretamente ligado ao crescimento geral do streaming musical, incluindo os serviços pagos de música.  

Neste panorama, artistas, produtores, gravadoras e distribuidoras já consideram o streaming como o canal para reaquecer o mercado e ainda como uma solução que pode gerar muitas oportunidades. Grandes artistas estão surfando na visibilidade que as plataformas oferecem e consolidando ainda mais a sua base de fãs, liderando os rankings das paradas musicais e ainda aproveitando para divulgar cada vez mais o seu trabalho, como é o caso de Os Barões da Pisadinha. Hoje assinados pela gravadora Sony Music, os Barões da Pisadinha, difundiram um ritmo regional do Nordeste para todo o país e são um dos mais ouvidos em todas as plataformas, desbancando inclusive grandes nomes internacionais. E este cenário se repete com muitos outros grandes nomes da música nacional que conseguem investir fortemente em promoção e divulgação nos meios digitais para crescerem ainda mais o consumo dos seus catálogos e novos lançamentos. 

Contudo, em meio ao resultado positivo desses grandes artistas, é preciso olhar também para os artistas independentes que não possuem suporte de grandes gravadoras e distribuidoras. Em sua grande maioria são responsáveis por suas próprias produções e contam com os seus contatos de mercado para conseguir produzir o seu trabalho. Para este grupo, a visibilidade nas plataformas ainda é uma conquista difícil e muitas vezes sem um orçamento para investir em um plano promocional, conseguir se destacar no funil do mercado musical, mesmo com os facilitadores das agregadoras digitais para distribuir suas músicas para as plataformas de streaming, o que gera incertezas e muitos desafios. Desta forma, esses artistas buscam alternativas para conseguir se destacar usando suas plataformas sociais, e o TikTok tem sido um grande aliado para os novos talentos que, com uma produção de conteúdo bem pensada, podem conseguir viralizar o seu trabalho, sua imagem e construir uma base de seguidores, crescendo também em outras plataformas.  

Apesar de tudo isto, o mercado de música independente encontra-se aquecido e cada vez mais vem ganhando o seu espaço nos streamings, representando uma parcela muito significativa do mercado. A busca do público por conteúdos originais, de qualidade e de novos artistas tem sido um destaque também neste momento de pandemia. O ano de 2021 ainda pode trazer muitas incertezas, por isto é um ano para que os artistas que possuem autonomia para produzir busquem por inovação, colaborações entre si e sejam criativos para conquistar o meio digital.  

*O artigo acima é de total responsabilidade da autora.

Paula Santos
Graduada em Music Business, ingressou no mercado da indústria fonográfica em 2011. Atuou na área de marketing de grandes gravadoras do mercado como EMI Music e Universal Music, além de ter sido Label Manager de selos importantes tais como Decca, Concord, Caroline International e Because Music.

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    1 Comentário

    1. Muito bom o artigo! Interessante entender como o mercado da música vem funcionando nesses últimos tempos onde tudo ficou tão incerto. Realmente o desafio maior está na mão dos artistas independentes, mas os fenomenos não param de surgir na internet e que bom que a viralização dentro de plataformas como o Tik Tok proporcionam isso hoje para esses artistas que não teriam a mesma visibilidade do que outros que estão sob o guarda-chuva de uma grande gravadora.

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