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Pesquisadores da Universidade de Washington chegaram à conclusão, em um estudo publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences nesta segunda-feira, 9 de setembro, de que a falta de interação social causada pelos confinamentos necessários durante a pandemia de Covid-19 pode ter causado o envelhecimento precoce dos cérebros de adolescentes em até quatro anos. Os cientistas do Instituto de Ciências do Aprendizado e do Cérebro da instituição começaram a analisar como o desenvolvimento cerebral de cento e sessenta adolescentes da área de Seattle evoluía ao longo do tempo, usando ressonâncias magnéticas. O estudo, iniciado em 2018, envolveu meninos e meninas com idades entre 9 e 19 anos. Quando as medidas de confinamento foram implementadas em 2020, os pesquisadores precisaram interromper o acompanhamento regular, retomando em 2021, desta vez com foco nos efeitos dos confinamentos no cérebro dos jovens.

A pesquisa mediu a espessura do córtex cerebral, que é a camada externa do cérebro responsável por funções como raciocínio e tomada de decisões. Os resultados revelaram que o cérebro dos meninos envelheceu prematuramente 1,4 anos, enquanto o das meninas envelheceu 4,2 anos. Essa aceleração do envelhecimento foi observada pela redução na espessura do córtex, um fenômeno que ocorre naturalmente com a idade, mas que foi exacerbado pelo estresse crônico gerado pela pandemia. A perda de espessura no córtex está associada a uma diminuição na flexibilidade de pensamento e no tempo de processamento cognitivo, fatores geralmente atribuídos ao envelhecimento.

O maior impacto nas meninas pode estar relacionado à dependência das interações sociais. Enquanto culturalmente os meninos tendem a se reunir para atividades físicas e esportivas, as meninas podem depender mais de relacionamentos interpessoais para suporte emocional e definição de identidade. Portanto, a ausência dessas interações durante a pandemia, somada ao isolamento social, pode ter amplificado o estresse no sexo feminino.

O estudo não prova definitivamente que os confinamentos causaram diretamente as mudanças no cérebro, porém ele sugere uma correlação entre o afinamento do córtex e o aumento de condições como ansiedade, depressão e outros transtornos comportamentais. Um estudo anterior, realizado pela Universidade de Stanford, também observou alterações semelhantes no cérebro de adolescentes durante as restrições da pandemia, comparando o estresse desse período a traumas da infância, como violência e negligência. Especialistas sugerem que esse “envelhecimento precoce” dos cérebros adolescentes pode aumentar os riscos de transtornos futuros, como TDAH, depressão e, potencialmente, até doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson. Desde 2021, vários relatórios do Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos revelaram níveis alarmantes de pensamentos suicidas entre adolescentes. Um estudo recente do CDC mostrou uma leve melhora na saúde mental dos jovens, mas ainda indicou que 53% das meninas do ensino médio continuam relatando sentimentos persistentes de tristeza.

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