Publicado em: 17 de março de 2025
Em janeiro de 2025, moradores de Ponta de Pedras, Alter do Chão e Pindobal ficaram preocupados com o aparecimento de uma densa massa verde nas águas das praias. A Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), por meio do projeto Águas do Tapajós – Fase II, coordenado pela pesquisadora Dávia Talgatti e financiado pela organização não governamental The Nature Conservancy (TNC), conduziu um estudo para analisar essa ocorrência de floração de cianobactérias, avaliando a presença de toxinas associadas e seus possíveis impactos ambientais e à saúde pública.
As coletas de água foram realizadas em 6 de janeiro de 2025 nestas praias, situadas na margem direita do rio Tapajós. As amostras foram analisadas por equipes do Laboratório de Águas e Plantas da Amazônia (Lapam), no Campus Oriximiná, e do Laboratório de Estudos de Impactos Ambientais (Leia), no Campus Santarém, ambos da Ufopa. Foram avaliados parâmetros limnológicos, como pH, temperatura, oxigênio dissolvido e condutividade elétrica, além da identificação e quantificação das cianobactérias presentes e da concentração de microcistinas, toxinas produzidas por essas bactérias.
Os parâmetros limnológicos analisados apresentaram variações dentro dos padrões esperados para o rio Tapajós, indicando condições relativamente estáveis de balneabilidade e preservação da fauna aquática nas praias estudadas. No entanto, a presença de florações de cianobactérias sinaliza alterações na qualidade da água, evidenciadas pelas concentrações de microcistinas detectadas e pela quantidade de indivíduos do grupo das cianobactérias. Embora os valores observados estejam abaixo do limite recomendado para águas recreacionais segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), eles ultrapassam o limite estabelecido para consumo humano, o que representa potenciais riscos à saúde das populações ribeirinhas que utilizam a água para consumo, banho e outras atividades domésticas.
O consumo de água com presença de microcistinas acima do limite permitido pode causar efeitos adversos à saúde, como problemas hepáticos e gastrointestinais. Além disso, a proliferação de cianobactérias pode afetar a fauna aquática, levando à morte de peixes e outros organismos, o que pode desequilibrar o ecossistema local. O período de chuvas contribui para essas florações, porém o lançamento de esgoto no rio é um dos grandes responsáveis.
A análise qualitativa do material demonstrou presença de Microcystis wesenbergii, Microcystis aeruginosa, Aphanocapsa delicatissima, Eucapsis densa, Merismopedia tenuissima, Pseudanabaena mucicola, Oscillatoria curviceps e Dolichospermum sp. A contagem em câmaras de Utermöhl revelou uma densidade de 3.209,6 ind/ml na praia de Ponta de Pedras, dominada por Dolichospermum sp. Em Alter do Chão, a densidade foi de 7.996,8 ind/ml, com predominância de Microcystis spp., enquanto em Pindobal, a densidade foi de 8.820 ind/ml, com predominância de Merismopedia sp. e Dolichospermum cf. crassum.
O relatório destaca a importância do monitoramento contínuo e sugere medidas para a mitigação dos riscos decorrentes desse fenômeno. Entre as recomendações estão o desenvolvimento de estratégias de gestão ambiental, prevenção da contaminação e mitigação dos impactos associados à proliferação de cianobactérias. A formulação de políticas de conservação e para a segurança hídrica das comunidades locais e visitantes do rio Tapajós é essencial.
Assista ao video explicativo da UFOPA:
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