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O vereador Malaquias Mottin (PL), alvo de mais de 50 entidades da sociedade civil, que exigiram sua cassação por defender a derrubada de mangueiras centenárias, retirada das garças que se abrigam nas árvores da área central da cidade e atacar uma promotora de Justiça do Ministério Público do Estado do Pará, escapou da degola mas não se emendou. A Câmara Municipal de Santarém, num ato eminentemente corporativista, já prevendo o “efeito Orloff (eu sou você amanhã), não aceitou o requerimento. Só um votou a favor da cassação, o vereador Biga Kalahare (PT). Houve duas abstenções (Erasmo Maia e Elita Beltrão) e 13 foram contra, do total de 23 vereadores. O presidente da sessão e o vereador denunciado não votam. Dos sete ausentes, um (Jandeilson, o presidente) estava viajando.  

Pois bem. Em clara retaliação, Malaquias perpetrou violentos ataques de cunho homofóbico a Biga, durante um podcast, na noite da última quinta-feira (1º). Ontem, Everaldo Martins Filho, presidente do Diretório Municipal do PT de Santarém, divulgou uma nota de solidariedade ao vereador Biga Kalahare, realçando a tentativa de desqualificá-lo com base em estereótipos ligados à masculinidade e orientação sexual. O mandato também anunciou que tomará medidas judiciais a fim de garantir que a imunidade parlamentar não sirva de escudo para atentados contra a dignidade humana, o meio ambiente, o patrimônio histórico e a ética no serviço público.

Malaquias – vejam só! – em discurso na tribuna, criticou o mau cheiro provocado pelas fezes das garças e listou estabelecimentos comerciais que estariam sendo afetados. Acontece que as garças viviam em uma ilha que existia em frente à cidade e migraram para a área urbana após o desaparecimento dela, pelo fenômeno das chamadas “terras caídas”. Em uma de suas falas no plenário, Malaquias também responsabilizou as mangueiras por acidentes. “Tem um rapaz que bebe, leva uma mulher na garupa, leva uns apertos, se distrai, e acaba se chocando com uma árvore que está à sua frente. Se não houvesse árvore ali não teria ocorrido o acidente”, afirmou, para espanto e indignação geral.

Como se não bastasse, Malaquias ofende agentes públicos que cumprem seu dever constitucional, como a 13ª Promotora de Justiça de Santarém,  Lilian Braga, a quem o vereador chamou de “demagoga” por sua atuação na defesa ambiental, além de atacar a honra de servidores do Ibama.

Malaquias Mottin ouviu um ralho da vereadora Bárbara Matos (PP) em plena sessão da Câmara. Mas continua sem noção. Movimentos sociais, sindicatos, coletivos juvenis, organizações indígenas, estudantis e ambientais estão atentos à intenção do vereador de derrubar mangueiras centenárias localizadas em ruas e praças da cidade, ignorando o valor histórico, ambiental e cultural dessas espécies arbóreas, além de desrespeitar a convivência tradicional da população santarena com a natureza. “Essas árvores centenárias não são apenas elementos da paisagem urbana — são parte viva da história, da cultura e da identidade de nossa cidade. […] A proposta de eliminá-las revela não apenas uma desconexão total com a realidade socioambiental da região, mas também um profundo desrespeito à população santarena”, diz trecho da nota de 50 organizações e coletivos, entre eles Movimento Tapajós Vivo, Conselho Indígena Tapajós Arapiuns, Grupo de Defesa da Amazônia, Fase Amazônia, Pastoral da Juventude, Sindicato dos Bancários, Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém, DCE da Ufopa, PT, PSOL, PCdoB, PV, UNE, CUT e Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito.

Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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