0

Faleceu, em Santarém (PA), em 22 de novembro de 2021, Dia do Músico e de Santa Cecília, Padroeira dos que se dedicam à Arte de Euterpe, o cantor e compositor Antônio Rocha Waughon.

O artista nasceu na Vila de Belterra (PA), então distrito administrativo do Município de Santarém, em 10 de novembro de 1944. Graduado em Administração de Empresas, era aposentado como servidor da Justiça do Trabalho da 8ª Região, tendo funcionado na Secretaria da 1ª Vara do Trabalho de Santarém.

Era filho de Raimundo (Dico) Waughon e Maria Julieta Rocha Waughon.

Deixa viúva a Srª. Marlene Mattos Whaugon, com quem teve quatro filhos (Jules Benos, Tonye Gil, Hilde Leno e Cibele Godinho).

Waughon, sobrenome popularmente abreviado para Von, era descendente dos chamados “Confederados” norte-americanos que migraram para Santarém, em meados no século XIX, juntamente com outras famílias, como Riker, Jennings e Hennington, da qual sou descendente pelo lado materno.

Antônio Waughon era cantor (tenor) de primeira linha e grande amigo desde a juventude. Pessoa de fino trato e muito bem humorado.

Costumava dizer que, dentre os cantores brasileiros, tinha predileção por Vicente Celestino.

Foi integrante do Conjunto Musical Tapajoara, por mim organizado e dirigido, em Santarém (PA), em 1964, do qual participaram Rosildo Silva (Trompete), Paulo Lima (Percussão), Vicente Malheiros da Fonseca (Trombone, Piano e Direção), Fernando Sirotheau – “Magro” (Contrabaixo), Antônio Waughon (Cantor), Ronaldo Galúcio (Guitarra), José Agostinho da Fonseca Neto (Clarinete) e Agostinho Paixão (Trompete). O conjunto foi criado com o objetivo de ajudar o Clube Paroquial Imaculada Conceição a promover shows e angariar recursos para obras sociais.

Antônio Waughon atuou, por mais de 50 anos, em diversos outros conjuntos musicais que tocavam em bailes e shows, inclusive na casa de espetáculos “Cristo Rei” (hoje, desativada), nos programas “Domingo após a Missa” e “E-29 Show”, conduzido pelos radialistas Osmar Simões, Ércio Bemerguy e Edinaldo Mota, em Santarém.

Compôs mais de 150 músicas e gravou alguns discos.

Participamos, ele e eu, de inúmeros eventos culturais em Santarém, em Belém e em Porto Alegre (RS).

Em 1970 foi realizado o 1º Festival de Música Popular do Baixo-Amazonas, cuja Presidência da Comissão Organizadora tive a honra de exercer, por indicação de seus idealizadores e organizadores – uma plêiade de jovens idealistas –, dentre os quais tive a satisfação de integrar naqueles áureos tempos de juventude, que contou com o respaldo dos mais experientes, como Wilson Fonseca, Wilde Fonseca, Emir Bemerguy, Machadinho e outros.

Antônio Waughon teve destacada participação no extraordinário 1° Festival de Música Popular do Baixo-Amazonas, realizado em Santarém, em 1970, em que obteve o 1° lugar no gênero Tema Regional ou Folclórico, com a música “Corrida”, de sua autoria, por ele mesmo interpretada.

O espetáculo final do Festival teve lugar no Cinema Olímpia, de Santarém, com enorme sucesso e com a presença de numeroso público que lotou literalmente as dependências daquela casa.

O evento foi transmitido, ao vivo, pela Rádio Rural de Santarém.

A Comissão Julgadora do Festival era constituída pelo Maestro Waldemar Henrique (Presidente), Wilson Fonseca (Maestro Isoca), Wilde Fonseca (Maestro Dororó), Emir Bemerguy, Isaac Dahan, Avelino do Vale, Nélia Vasconcelos Dias, Sebastião Ferreira, Edenmar da Costa Machado (Machadinho), Cecília Simões e Vicente José Malheiros da Fonseca.

O acompanhamento musical ficava ao encargo do Conjunto “Os Hippies”.

Foram inscritas, no Festival, 245 músicas e os prêmios foram concedidos a músicas de cada um dos três gêneros definidos pela Comissão Organizadora do evento: Música Jovem; Tema Regional ou Folclórico; e Música Popular Brasileira (MPB).

As obras colocadas em segundo e terceiro lugares, em cada gênero, também foram premiadas.

Houve ainda premiação para o “Melhor Intérprete”, João Octaviano Mattos Neto (“Prêmio Expedito Toscano”); e o “Melhor Arranjo Musical”, para a música “Iemanjá”, composta e interpretada por João Sílvio Gonçalves e Íris Fona (“Prêmio Prof. José Agostinho da Fonseca”).

A música vencedora do gênero “Música Jovem”, foi a canção “Corina” (Letra: Edwaldo Campos de Souza. Música: Renato Siqueira. Intérprete: Francisco José Lemos – Joe).

Antônio Waughon tornou-se vitorioso no gênero “Tema Regional ou Folclórico”, com a música “Corrida”.

E o vencedor do gênero “Música Popular Brasileira” foi Oldemar Alves de Souza, com a composição “… E a vida passa”, interpretada pelo cantor Carlos Meschede.

Sobre o 1° Festival de Música Popular do Baixo-Amazonas, escrevi alguns textos, como os que foram publicados no site do jornalista Jeso Carneiro, há cerca de 10 anos (1ª parte e 2ª parte), no site Uruá-Tapera, da jornalista Franssinete Florenzano, em setembro do corrente ano (“Recordações da Casa da Juventude e Festivais de Música”):

https://www.jesocarneiro.com.br/artigos/1%c2%ba-festival-de-musica-popular.html

https://www.jesocarneiro.com.br/artigos/1%C2%BA-festival-de-musica-popular-parte-ii.html

https://uruatapera.com/recordacoes-da-casa-da-juventude-e-festivais-de-musica/

No livrinho “Santarém Cantando nº 2” consta a publicação de todos os premiados, além de outras informações, que também podem ser encontradas, com detalhes, nos livros “Meu Baú Mocorongo” (Wilson Fonseca) e “A Vida e a Obra de Wilson Fonseca – Maestro Isoca”, de minha autoria.

A viagem do Maestro Waldemar Henrique, de Belém para Santarém, em 1970, onde esteve, pela única vez – por minha interferência –, para presidir a Comissão Julgadora do 1º Festival de Música Popular do Baixo-Amazonas, permitiu o encontro pessoal dos dois compositores e maestros paraenses (Wilson Fonseca e Waldemar Henrique), para o qual tive a privilégio de contribuir e presenciar.

Diretor do Theatro da Paz, Waldemar Henrique, ao ensejo daquele Festival, convidou, então, Wilson Fonseca para um recital em Belém.

A ideia, no entanto, foi ampliada para a realização de um evento mais abrangente, que consistiu em amostras de cerâmica tapajoara, artesanato, pintura, poesia, fotografias, música etc., com a participação de dezenas de artistas e intelectuais santarenos.

Refiro-me à “Semana de Santarém”, outra magnífica realização artístico-cultural da qual participei intensamente, inclusive como compositor e intérprete, em outubro de 1972, na capital paraense, acontecimento que contou com a presença e o apoio do Governador do Estado do Pará, Fernando Guilhon. Um sucesso histórico.

Foi durante o período da realização da memorável “Semana de Santarém”, no Theatro da Paz, em Belém, em outubro de 1972, que meu pai, Wilson Fonseca, a convite de Waldemar Henrique, escreveu um registro especial, do próprio punho, no livro de visitantes ilustres do belíssimo teatro, utilizando-se da linguagem universal dos músicos.

Isoca grafou, naquele livro, a sua mensagem e a ilustrou com as notas iniciais dos temas de duas músicas, no pentagrama: “Canção de Minha Saudade”, do próprio Wilson, e “Louco de Amor”, de Waldemar.   

Na ocasião, fui testemunha de que o Maestro Waldemar Henrique logo reconheceu a “Canção de Minha Saudade” (1949), de autoria de Wilson (música) e Wilmar Fonseca (letra).

Mas, curiosamente, Waldemar Henrique não reconhecera a sua própria composição, feita ainda na juventude.

Papai revelou ao amigo que se tratava de “Louco de Amor”, composta por Waldemar, na juventude, mas que ele próprio já havia esquecido.

Essa canção fazia parte do repertório do tenor Joaquim Toscano (pai do tenor Expedito Toscano), que havia residido em Belém.

Papai ainda fez outra surpresa a Waldemar Henrique.

Para admiração e emoção de Waldemar, com o Theatro da Paz lotado de mocorongos (santarenos) e apreciadores, Wilson Fonseca executa, ao piano, durante a mesma “Semana de Santarém”, aquela bela canção do amigo Maestro, cantada pelo tenor Antônio Waughon, cujo tema o Maestro Isoca aproveitou para a homenagear o autor de “Tambatajá” e “Uirapuru”, sutilmente citados pelo compositor santareno, em sugestivos contrapontos, na última parte do seu Dobrado nº 45 (“Waldemar Henrique“), dedicado ao colega músico, em 1995.

Como se observa, Antônio Waughon cantou, no Theatro da Paz, na “Semana de Santarém”, em 1972, a canção “Louco de Amor” (ou “Canção de um vagabundo”), acompanhado, ao piano por Wilson Fonseca (Maestro Isoca), na presença do Maestro Waldemar Henrique, autor daquela bela canção (que ele não havia registrado no catálogo de sua obra musical e nem mais se lembrava daquela música, composta na juventude, com letra do poeta Antônio Tavernard), cujo tema musical Wilson Fonseca aproveitou, em parte, para compor o Dobrado n° 45 (“Waldemar Henrique”).

“Louco de Amor” era canção que integrava a peça de teatro de revista “Na Casa da Viúva Costa” (1931).

O Dobrado “Waldemar Henrique” (Wilson Fonseca) foi gravado no CD “Sinfonia Amazônica” (volume 2), em 2003, pela Orquestra Jovem “Wilson Fonseca”, sob a regência de meu irmão Maestro José Agostinho da Fonseca Neto (Tinho), e no CD “Pará Instrumental” (volume 3), gravado em 1995 pela “Amazônia Jazz Band”, sob a regência do Maestro Andi Pereira.

A estreia desse Dobrado ocorreu em 15 de setembro do mesmo ano (1995), quando Wilson Fonseca, por meu incentivo, em particular, tomava posse como membro vitalício da Academia Paraense de Letras (Cadeira nº 7), em sucessão ao Maestro Waldemar Henrique, que falecera em 29.03.1995.

Wilson Fonseca e Waldemar Henrique foram fundadores, ao lado de outros músicos, da Academia Paraense de Música (1981). Meu pai foi o primeiro Titular da Cadeira nº 24 (Patrono: José Agostinho da Fonseca, meu avô paterno), que hoje tenho a honra de ocupar.

Há um registro fonográfico histórico da “Semana de Santarém”.

Trata-se do Long Play “Santarém do Meu Coração” (1973), que contém gravações, ao vivo, de músicas apresentadas na “Semana de Santarém”, no Theatro da Paz, idealizada pelo Maestro Waldemar Henrique, Diretor daquela tradicional Casa de espetáculos.

Esse disco inclui a bela canção “Corrida”, de Antônio Waughon.

O LP foi gravado por sugestão e supervisão do musicólogo paraense Vicente Salles, que fora membro vitalício da Academia Brasileira de Música. O lançamento do disco esteve a cargo da Sociedade Musical de Santarém.

É oportuno registrar a relação das músicas gravadas no LP “Santarém do Meu Coração”:

  1. Hino de Santarém – Música: Wilson Fonseca (1941). Letra: Paulo Rodrigues dos Santos (1948). Coro a 4 vozes mistas e orquestra. O hino foi oficializado pela Lei Municipal nº 245/71, de 22.10.1971. Fragmento: gravação pela Orquestra Sinfônica Nacional e Coro da Rádio MEC – Regência: Nelson Nilo Hack, Rio de Janeiro (RJ), 1972.
  2. Terra Querida – Canção (1961). Letra e Música: Wilson Fonseca. Coro a 4 vozes mistas e Piano. Coro da Catedral de Santarém. Solista (tenor): Expedito Toscano. Piano: Wilson Fonseca. Gravação extraída de registro doméstico, em fita cassete, em homenagem aos intérpretes da obra (coro e solista).
  3. Sempre as Praias – Samba (1969). Música: Vicente Fonseca. Letra: José Wilson Fonseca. Canto, Violão e Conjunto Musical. Voz e Violão: Vicente Fonseca. Acompanhamento: “Os Mocorongos” (Piano: Wilson Fonseca. Órgão e Contrabaixo: José Agostinho da Fonseca Neto. Violão: Vicente Fonseca. Bateria: Djalma Vasconcelos. Ritmista: Conceição Fonseca).
  4. Seresta do Amor – Bolero. Letra e música: Laudelino Silva. Canto, Cavaquinho e Violão. Canto: Edenmar Machado (Machadinho). Cavaquinho: Laudelino Silva. Violão: Moacir Santos.
  5. Rachelina – Valsa Lenta (1922). Música: José Agostinho da Fonseca. Conjunto Musical. Intérpretes: “Conjunto Serenata” (Flauta: Pedro Santos. Saxofone-Alto: José Wilson Fonseca. Órgão: Vicente Fonseca. Piano: Wilson Fonseca. Contrabaixo: José Agostinho da Fonseca Neto).
  6. Sonho Predileto – Canção (1968). Música: Wilson Fonseca. Letra: Emir Bemerguy. Canto e Piano. Voz: João Otaviano Matos. Piano: José Agostinho da Fonseca Neto.
  7. Pratos Regionais – Samba (1936). Música: Wilson Fonseca e José Agostinho da Fonseca. Letra: Felisbelo Sussuarana. Peça da Revista Teatral “Olho-de-boto”. Coro a 4 vozes mistas e Piano. Intérpretes: “Os Tapajônicos” (Sopranos: Iris Fona, Nélia Dias, Eulália Matos, Marigilda Neves, Cecília Simões e Conceição Fonseca. Contraltos: Helba Barros, Helena Meira, Regina Silva, Graça Campos, Salete Campos e Neide Sirotheau Corrêa. Tenores: Antônio Waughon, Laurimar Leal e Vicente Fonseca. Baixos: Augusto Simões, Tadeu Maia, Nelson Meira e José Wilson Fonseca). Piano: Wilson Fonseca. Regência: Wilde Fonseca.
  8. Lenda do Boto – Do folclore da Amazônia (1954). Letra e Música: Wilson Fonseca. Coro a 4 vozes mistas e Piano. Coro da Catedral de Santarém. Solista (tenor): Expedito Toscano. Piano: Wilson Fonseca. Gravação extraída de registro doméstico, em fita cassete, em homenagem aos intérpretes da obra (coro e solista).
  9. Motivo Amazônico – Toada Moderna (1971). Música: Vicente Fonseca. Letra: José Wilson Fonseca. Canto, Violão e Conjunto Musical. Voz e Violão: Vicente Fonseca. Acompanhamento: “Os Tapajônicos” (parte) e “Os Mocorongos” (Piano: Wilson Fonseca. Órgão e Contrabaixo: José Agostinho da Fonseca Neto. Violão: Vicente Fonseca. Bateria: Djalma Vasconcelos. Ritmista: Conceição Fonseca).
  10. Saudade – Canção (1970). Música: Vicente Fonseca. Letra: João Luís Sarmento. Canto e Piano. Voz: João Luís Sarmento. Piano: Vicente Fonseca.
  11. Perfume – Fox (1939). Letra e música: Wilson Fonseca. Canto, Piano e Contrabaixo. Voz: Edenmar Machado (Machadinho). Piano: Wilson Fonseca. Contrabaixo: José Agostinho da Fonseca Neto.
  12. Corrida – Marcha. Letra e Música: Antônio Waughon. Canto e Conjunto Musical. Voz: Antônio Waughon. Acompanhamento: “Os Hippies” (Saxofone: Reginaldo Salgado. Órgão: José Agostinho da Fonseca Neto. Guitarra: Diogo Gonçalves. Contrabaixo: José Vieira. Bateria: Izaías Vieira. Ritmista: Bianor Lima. Croners: Odilson Matos e Ray Brito).
  13. Maria das Dores – Valsa (1955). Piano. Piano solo: Wilson Fonseca. Dedicada à sua filha Maria das Dores.
  14. Canção do Forasteiro – Samba (1925). Música: José Agostinho da Fonseca. Letra: Emir Bemerguy (1970). Aproveitamento da melodia da música “O Relógio” (letra: Felisbelo Sussuarana, da peça da Revista Teatral “Eu Vou Telegrafar”). Canto, Violão e Conjunto Musical. Voz e Violão: Vicente Fonseca. Acompanhamento: “Os Mocorongos” (Piano: Wilson Fonseca. Órgão e Contrabaixo: José Agostinho da Fonseca Neto. Violão: Vicente Fonseca. Bateria: Djalma Vasconcelos. Ritmista: Conceição Fonseca).
  15. Canção de Minha Saudade – Canção (1949). Música: Wilson Fonseca. Letra: Wilmar Fonseca. Fragmento: gravação da Orquestra e Coro Edison Marinho (Rio de Janeiro-RJ). Solista: Jefferson Ribeiro. Rio de Janeiro (RJ), 1972.

A performance da gravação desse disco histórico, já esgotado, foi realizada sob a coordenação de uma equipe dirigida por meu irmão José Agostinho da Fonseca Neto (Maestro Tinho).

A “Semana de Santarém”, no Theatro da Paz, em Belém, contou com o patrocínio do Governo do Estado do Pará (Administração: Fernando Guilhon), Fundação Cultural do Estado do Pará, Universidade Federal do Pará e diversas pessoas e empresas de Santarém (PA).

O evento, bastante concorrido, foi encerrado com um concerto da Orquestra e do Madrigal da Universidade Federal do Pará, que interpretaram diversas composições de Wilson Fonseca, tais como “Centenário de Santarém” (Abertura Sinfônica), “Quando canta o uirapuru” (Canto Amazônico), “Be-lém Belém” (Canto Triunfal) e “Acalanto” (de minha autoria).

No ano seguinte, em 1973, um grupo de artistas santarenos apresentou-se, com extraordinário sucesso, em Porto Alegre (RS), a convite e patrocínio da VARIG e da Companhia Rubem Berta: Wilson Fonseca (maestro, compositor, poeta e pianista), Emir Bemerguy (poeta), Edenmar da Costa Machado (Machadinho, cantor e violonista), Antônio Waughon (cantor), Vicente Malheiros da Fonseca (compositor e pianista), Laudelino Silva (compositor e cavaquinista), Moacir Santos (compositor e violonista) e Alfonso Gimenez (fotógrafo).

Esse grupo de artistas da “Pérola do Tapajós” fora convidado para participar de uma programação de arte levada a efeito em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, no dia 8 de dezembro de 1973, por ocasião da 30ª Assembléia Geral Ordinária do Colégio “Rubem Berta”.

O concerto dos artistas de Santarém foi coroado de pleno êxito. Até o Maestro Isoca e o poeta Emir Bemerguy, um tanto tímidos, cantaram. Eu creio que tenho uma foto que retrata este momento. A casa estava lotada e a plateia nos aplaudiu demoradamente. Houve também apresentação de duas mocinhas, que dançaram e cantaram músicas típicas do folclore gaúcho. Elas aparecem numa das fotos, com o grupo de santarenos, o dirigente da VARIG e sua esposa. 

No final do concerto, a plateia pediu que apresentássemos músicas de carimbó. Antônio Waughon (acostumado a cantar em conjuntos de baile) não se fez de rogado e entrou no clima do carimbó. Eu fui para o piano, o Machadinho e o Moacir, no violão, o Laudelino no cavaquinho, e os outros na percussão improvisada ou ajudando no canto. O concerto virou uma festa. Todos dançaram empolgados com o ritmo contagiante do carimbó paraense. 

Era 8 de dezembro, dia da Festa de N. S. da Conceição, Padroeira de Santarém e também de Porto Alegre. 

Foi realmente um momento de glória para a música santarena, brilhando no extremo sul do país. 

Em 1974, um grupo de músicos da terra querida, inclusive Antônio Waughon, Wilson Fonseca, Wilde Fonseca, Machadinho e eu, dentre outros, participamos da recepção ao Presidente da República Emílio Garrastazu Médici, em viagem institucional à nossa região, no Hotel Tropical (atualmente, Hotel Barrudada), em Santarém.

Antônio Waughon foi integrante do “Coral de Santarém”, para o qual compus, em 1975, a música do respectivo Hino, em parceria com meu pai, Wilson Fonseca (Maestro Isoca), com letra de Emir Bemerguy.

Para a comemoração dos 15 anos de idade da jovem Eliane Frazão, filha de Wilmar Frazão, eu compus duas músicas com o nome da debutante, no mês de julho de 1977. Um samba, com letra de João Luís Sarmento; e uma valsa, com texto poético de Emir Bemerguy. Ambas as composições foram cantadas por Antônio Waughon, durante a festa dos 15 anos de Eliane, no tradicional clube social Centro Recreativo, em Santarém.

Em 2001, o festejado cantor belterrense gravou, em CD, a valsa “Pérola do Tapajós” (letra: Felisbelo Sussuarana; e música: Pedro Santos e Wilson Fonseca, de 1935); e “Canção da Saudade” (letra: Paulo Rodrigues dos Santos”; e música: José Agostinho da Fonseca, meu avô, composta em 1936).

Éramos confrades como membros da Academia de Letras e Artes de Santarém (A.L.A.S.), onde ele ocupava, desde a fundação da entidade, em 2004, a Cadeira nº 9, que tem como Patrono o cantor Expedito Toscano de Vasconcelos (notável tenor santareno).

Concluo esta singela elegia com a letra da música “Corrida”, de autoria do talentoso amigo e estimado confrade Antônio Waughon, que agora integra o Coro dos Anjos na Casa do Senhor:

Corrida disparada,

num impulso sem parar

irmãos de mãos lutando

lado a lado sem cessar.

Progresso que desponta

na Amazônia que é de fé,

o gigante se levanta.

Pra corrida está de pé.

Se vê a Transamazônica, mais quente,

Curuá-Una, pra frente,

Santarém-Cuiabá é presente,

o sonho se torna realidade,

o Brasil país de verdade,

sucesso à liberdade.

O páreo assinalado

pra corrida da vitória;

pra frente entusiasmado,

pois o dia é de glória.

O jóquei ganhou tudo,

com a corrida com desdém,

houve hurras de vitória.

Coube o prêmio a Santarém.

Vicente Malheiros da Fonseca
Vicente José Malheiros da Fonseca é Desembargador do Trabalho de carreira (Aposentado), ex-Presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região (Belém-PA). Professor Emérito da Universidade da Amazônia (UNAMA). Compositor. Membro da Associação dos Magistrados Brasileiros, da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho, da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 8ª Região, da Academia Brasileira de Direito do Trabalho, da Academia Paraense de Música, da Academia de Letras e Artes de Santarém, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, da Academia Luminescência Brasileira, da Academia de Música do Brasil, da Academia de Musicologia do Brasil, da Academia de Música do Rio de Janeiro, da Academia de Artes do Brasil, da Academia de Música de Campinas (SP), da Academia de Música de Santos (SP), da Academia Paraense de Letras Jurídicas, da Academia Paraense de Letras, da Academia Brasileira de Ciências e Letras (Câmara Brasileira de Cultura), da Academia Brasileira Rotária de Letras (ABROL) - Seção do Oeste do Pará, da Academia de Música de São José dos Campos (SP), da Academia de Música de São Paulo, da Academia de Música de Presidente Prudente, da Academia Brasileira de História, da Academia de Música da Amazônia, da Academia de Filosofia do Brasil, da Academia de Musicologia de São Paulo. Membro Honorário do Instituto dos Advogados do Pará. Sócio Benemérito da Academia Vigiense de Letras (Vigia de Nazaré-PA). Sócio Honorário da Academia Paraense de Jornalismo.

Relatos de tragédias amazônicas

Anterior

A cada 24h, 4 mulheres são mortas. A cada 8 minutos, um estupro

Próximo

Você pode gostar

Comentários