Monumentos, vitrais e azulejos. Túmulos e pétreos. O Cemitério da Soledade, o mais antigo de Belém, agora é um museu a céu aberto e parque urbano, no coração de Belém. Após belo trabalho das equipes do Laboratório de Conservação, Restauração e Reabilitação (Lacore), da Universidade Federal do Pará e da Secretaria de Cultura do Estado, com apoio da GM Engenharia, o espaço foi aberto à visitação, ontem, ao fim da primeira etapa dos serviços de restauro e requalificação, pelo governador Helder Barbalho e pelo prefeito Edmilson Rodrigues, ladeados pela primeira-dama Daniela Barbalho, vice-governadora Hana Ghassan, secretário de Estado de Cultura, Bruno Chagas; deputado Igor Normando; reitor da UFPA, Emmanuel Tourinho; secretário de Segurança Pública e Defesa Social, Ualame Machado; secretária de Ciência e Tecnologia, Edilza Fontes; presidente da Fumbel, Michel Pinho; Delegado-Geral Walter Resende, pesquisadores, escritores, arquitetos, educadores, artistas e jornalistas.
O Soledade funcionou durante trinta anos, de 1850 a 1880, e tem importância religiosa histórica, antropológica, arquitetônica e paisagística. Personagens importantes na história do Pará estão ali sepultadas, como o Barão de Igarapé-Miri e o General Gurjão, além de santos populares.
O projeto do CNPq intitulado “Ciência da conservação e da restauração na Amazônia: contribuições para a salvaguarda do Cemitério Monumental Nossa Senhora da Soledade”, entre 2011 e 2014, contou com a participação de pesquisadores da UFPA, Museu Paraense Emílio Goeldi, UFBA, USP, UFMG e LNEC/Lisboa, e levou ao convite, feito em 2013, para o Lacore integrar a equipe que elaborou o projeto de restauro coordenado pelo então secretário de Estado de Cultura, Paulo Chaves. Em 2021, já no governo de Helder Barbalho, o convite foi renovado para participar da execução da obra de restauro por meio de um convênio tripartite entre Secult, UFPA/Lacore e Fadesp, envolvendo pesquisadores e discentes de graduação e pós-graduação de diversos cursos da UFPA, principalmente da Faculdade de Conservação e Restauro (Facore) e dos Programas de Pós-Graduação em Ciências do Patrimônio Cultural (PPGPatri) e de Arquitetura e Urbanismo (PPGAU).
As técnicas utilizadas no restauro resgataram o Soledade como lugar de ensino e pesquisa, desde o emplastro de bentonita aplicado pela primeira vez neste patrimônio pelo Professor Mário Mendonça em 1993, até os novos materiais e técnicas desenvolvidos nas diversas pesquisas do Lacore. Importantíssimo neste processo de salvaguarda é o envolvimento de discentes da UFPA na execução prática de restauro, experiência única e pioneira no Estado do Pará, aliando o ensino, a pesquisa e a extensão, com a oferta de cursos e palestras, além da oportunidade de formação e de geração de conhecimento e pesquisas, observa a professora doutora Thais Sanjad, que assim como Flavia Palácios atuou junto à coordenadora geral do projeto, Rose Norat.
Arquiteta e urbanista, doutora em Ciências, área de concentração Geoquímica e Petrologia, mestre em Ciências da Arquitetura e especialista em Restauração e Preservação do Patrimônio Arquitetônico, Rose Norat é diretora da Faculdade de Conservação e Restauro/FACORE do Instituto de Tecnologia/ITEC/UFPA, já dirigiu o Departamento de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural/DPHAC e a Diretoria de Projetos da Secretaria de Estado de Cultura do Pará; foi diretora Diretora de Patrimônio Histórico da Fumbel e gerente de Projetos da Fortaleza de São José de Macapá.
O trabalho de restauro contou, ainda, com coordenações específicas de Alexandre Loureiro, Pâmela Bahia e Amanda Loureiro, inclusive de Carolina Gester e Mayra Martins.
As pesquisas do Lacore no Cemitério da Soledade foram apoiadas pelo edital universal do CNPq e geraram dissertações de mestrado e teses de doutorado. Todas analisaram materiais usados na construção do cemitério, itens como as pedras que compõem os monumentos, os azulejos, os vidros e vitrais que ainda existiam em alguns túmulos e as grades e metais aplicados em alguns monumentos e túmulos do cemitério.
Foram investidos mais de R$ 16 milhões no restauro e em toda a estrutura funerária, obras na parte hidráulica e elétrica, a criação de uma nova entrada voltada para a travessa Doutor Moraes, a construção de calçamentos com acessibilidade, banheiros, área para administração, iluminação e paisagismo. A capela, o muro e o pórtico de entrada receberam nova pintura. A segunda fase da obra, após a abertura do museu, seguirá com ações de restauração nos mausoléus e esculturas centenárias que compõem o cemitério histórico de Belém.
O Cemitério da Soledade fica na avenida Serzedelo Corrêa e é um marco arquitetônico na capital paraense, patrimônio tombado pelo Iphan e de grande importância para a memória parauara, que Belém ganha de presente nos seus 407 anos.
O espaço abriga um museu com exposição permanente sob curadoria do Sistema Integrado de Museus e Memórias da Secult (SIMM). O trabalho seguiu as normas do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que aprovou o projeto inicial do arquiteto Paulo Chaves (1946-2021). Terá ações culturais e de educação patrimonial, além de área expositiva na capela e informações expográficas. Está aberto para visitação de quinta a segunda-feira, de 9h às 17h. Às terças e as quartas-feiras ficará fechado para trabalhos internos. O Secretário de Estado de Cultura, Bruno Chagas, contou que o Soledade foi inspirado em estruturas europeias, como o conceito de jazigo, numa época em que Belém vivia situação de epidemia. O cemitério também foi marco da expansão urbana, porque ali não era o centro da cidade como é hoje, era área rural e que passou a ser ocupada. Tanto o titular da Secult quanto o governador Helder Barbalho e o prefeito Edmilson Rodrigues fizeram questão de registrar em seus discursos a importância do projeto do saudoso arquiteto Paulo Chaves, gesto bonito muito aplaudido por todos.
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