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Durante debate sobre o filme “O Clube das Mulheres de Negócios”, dirigido por Anna Muylaert, na manhã do domingo, dia 11, parte da programação do Festival de Cinema de Gramado, a atriz Cristina Pereira, de 74 anos, revelou publicamente que foi vítima de estupro aos 12 anos, quando estava a caminho da escola.

“Cheguei ao colégio com o uniforme aberto e ninguém se preocupou, só queriam saber por que eu estava chegando atrasada. Ninguém veio me perguntar o que aconteceu comigo. Uma criança não chega atrasada na escola. Qualquer pessoa adulta descobre se uma criança sofreu uma violência, mas a pessoa finge que não viu”.

Cristina explicou que nunca havia falado publicamente sobre o assunto antes e que o crime ocorreu em uma época em que não se falava sobre violência sexual, muito menos sobre educação sexual. O depoimento de Cristina emocionou profundamente todas as pessoas presentes na sala, em especial as mulheres, que reagiram com lágrimas e aplausos. Anna Muylaert, que já conhecia a história, acolheu a atriz pessoalmente. O debate chegou a ser interrompido por alguns momentos, mas foi retomado pela própria disposição de Cristina em continuar na sala.

O filme “O Clube das Mulheres de Negócios” critica o patriarcado e as estruturas de poder, propondo uma inversão de gênero em seus protagonistas. No longa, as mulheres “dominam o mundo” e muitas vezes apresentam comportamentos violentos e ambiciosos, enquanto os homens são frequentemente desumanizados e tratados como objetos. Cristina interpreta Cesárea, uma empresária poderosa e dominadora que cria onças em sua propriedade e comanda o clube que dá nome ao filme.

Ao comentar a cena em que sua personagem banaliza o abuso sexual que seu neto Candinho sofreu da própria tia, Cristina surpreendeu a todos ao revelar a violência que sofreu em 1961. “Quando o Candinho chora, sou eu que choro, e são muitas meninas de 12 anos, como aquela menina que estava a caminho do colégio”, disse a atriz, que explicou que nunca falou sobre o assunto enquanto sua mãe era viva, pois sabia o quanto isso era traumático para ela.

“Eu nunca falei sobre esse assunto enquanto minha mãe era viva. Era um assunto muito dramático, muito traumatizante para ela. Foi um segredo que ela guardou sozinha. Ela não tinha com quem falar. Deve ser muito difícil para a mãe também, pois ela deve se perguntar ‘por que aconteceu isso com minha filha? Será que deixei de fazer alguma coisa? Será que eu fiz alguma coisa?’”

A atriz complementou:

“Não existia educação sexual. Não se falava de muitas coisas que hoje a gente fala. Esse diálogo que hoje em dia a gente tem. Eu era uma menina de classe média, minha mãe trabalhava. Meu pai nunca soube, pois minha mãe não quis que ele soubesse. Eu nunca conversei nem com minha irmã durante muitos anos. E agora eu queria falar pela primeira vez porque eu queria falar sobre a cena do Candinho”.

Cristina Pereira fez questão de enfatizar a importância de falar sobre o tema e a necessidade do acesso à educação sexual nas escolas para prevenir e combater a violência sexual, principalmente contra crianças e adolescentes, já que infelizmente sua história é apenas uma entre milhões, assim como o crime hediondo que aconteceu em janeiro de 2024 em Belo Horizonte, quando uma menina de também 12 anos foi encontrada morta em uma calçada depois de ter sido estuprada e asfixiada por Davi Martins Santos, um homem de 25 anos.

Assista a trechos capturados do momento (X/Reprodução):

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