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  Foto: arquivo
Foto: Semma
Foto: Ádrio Denner
Santarém acaba de perder mais um de seus ícones, o “Casarão Tapajônico”, também conhecido como Solar dos Braga ou dos Macambira, localizado na rua Siqueira Campos, entre as travessas 15 de Agosto e 15 de Novembro.
Na sexta-feira (19), uma equipe de fiscalização da Secretaria Municipal de Meio Ambiente constatou que o prédio havia sido demolido, restando apenas a fachada, como é comum em casos de burla à legislação de proteção ao patrimônio histórico, artístico e cultural.
O casarão onde moraram dois dos primeiros e mais célebres políticos de Santarém, Sylvio Leopoldo de Macambira Braga, advogado, escritor, deputado federal e principal responsável pela instalação da usina hidrelétrica de Curuá-Una, e Cléo Bernardo de Macambira Braga, advogado, jornalista, poeta e cronista, pracinha da FEB nos campos da Itália na II Guerra Mundial, professor de Direito na UFPA e, no Colégio Moderno, de História e Economia, 
deputado estadual, ambos cassados pelo golpe militar de 1964, foi derrubado para dar lugar a um estacionamento.

O casarão tem mais de 150 anos. Lá chegou a funcionar uma luteraria, tocada pelo luthier Hugo Martinez e pelo violonista Sebastião Tapajós.  De acordo com o secretário de Meio Ambiente, Podalyro Neto, que interditou o local, o atual proprietário, cujo nome não foi revelado, admitiu que não tem licença, já foi notificado para pagar multa, que varia de R$ 5 mil a R$ 5 milhões, e cumprir obrigação de fazer . A Semma também já avisou o Ministério Público Federal e o Estadual sobre o acontecido, além do Instituto de Proteção ao Patrimônio Histórico e Arquitetônico Nacional – Iphan, e solicitou oficialmente para a Secretaria de Infraestrutura e Secretaria de Cultura do município que tipo de documentos o empreendedor pediu a esses órgãos. 

Há um ano tramita na Câmara Municipal projeto de lei que cria o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Artístico e Natural, além de instituir o Fundo Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural, sem desfecho. Um ato público pelo fim do descaso com a cultura foi realizado na noite de domingo por integrantes do Movimento Arte e Cultura de Santarém, movimentos sociais e estudantis, além de profissionais de vários segmentos da sociedade. Cerca de 150 pessoas saíram da Praça São Sebastião, com velas, terços e vestidos de preto caminharam e fizeram paradas em frente a prédios históricos, passando pelo Museu Fona para alertar sobre a reforma do prédio, pela antiga Casa de Saúde, onde o prédio foi demolido de forma misteriosa há alguns anos, depois seguiram pela Adriano Pimentel e, em frente ao casarão onde funcionava a antiga padaria Lucy, demonstraram tristeza e revolta pela demolição da antiga construção, com azulejos portugueses, para ser transformada em um hotel de propriedade do deputado Antonio Rocha(PMDB). 

Chama a atenção o fato de ser o secretário de Meio Ambiente Podalyro Neto quem embargou a obra que destruiu o Casarão Tapajônico, assim como foi ele quem foi atrás do deputado Antonio Rocha por causa da destruição do prédio da antiga Panificadora Lucy, e quem tomou providências quando colocaram máquinas no Morro do Mirante. A Secretaria Municipal de Cultura, os vereadores, os deputados representantes de Santarém têm sido ausentes, mudos e quedos enquanto símbolos históricos e culturais de Santarém estão virando literalmente pó.  Uma questão que se impõe saber urgentemente: a área do Mirante – em frente à antiga Padaria Lucy – é contemplativa do encontro das águas dos rios Tapajós e Amazonas.
Vão deixar construir um prédio que impeça essa visão, além de tapar a orla com paredão, aumentando o calor intenso da cidade? 

De Cléo Bernardo: 
“Essa corrupção, que envergonha e afronta a Nação, porque de governistas e de oposicionistas, à semelhança de outrora, não é somente em matéria de dinheiro ou de exploração do trabalho. Existem em penca os corruptos das ideias falsas. Existem sobrando os contrabandistas dos juramentos, conforme o poder mais alevantado que se erga. Hoje a palavra solenemente empenhada virou vaso noturno. É a subversão dos princípios, dos valores, dos encargos, trocando máscaras e substituindo mascarados. As tais razões de Estado se confundem com os morcegos: nem pássaros nem ratos são.” (Uma Bandeira Branca, 22/05/1977).
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, presidente da Academia Paraense de Jornalismo, membro da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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