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“Ainda Estou Aqui”, filme de Walter Salles baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva sobre sua própria família, estreou ontem na 81ª edição do Festival de Veneza com grande aclamação do público presente. Este é o primeiro longa-metragem de Salles desde “Na Estrada” de 2012, e sua exibição no festival foi foi ovacionada por quase 10 minutos, deixando o diretor, Fernanda Torres e Selton Mello visivelmente emocionados.

Estrelado por Fernanda Torres, Selton Mello e Fernanda Montenegro, “Ainda Estou Aqui” retrata o Brasil durante a ditadura militar, mostrando a história real de Eunice Paiva, mãe de cinco filhos, que se torna uma ativista após o desaparecimento de seu marido, Rubens Paiva, sequestrado pela Polícia Militar. Também faz parte do elenco a atriz paraense Maeve Jinkings. A atuação de Fernanda Torres como Eunice recebeu aclamação da crítica internacional, com muitos já prevendo que ela será uma forte candidata na temporada de premiações, possivelmente repetindo o feito de sua mãe, Fernanda Montenegro, indicada ao Oscar por “Central do Brasil”, também dirigido por Salles – e conhecida como uma das maiores injustiças da premiação estadunidense, que concedeu a estatueta para Gwyneth Paltrow por uma atuação que não chega aos pés da icônica personagem “Dora”.

Fernanda Torres é uma artista que consegue carregar com um êxito inquestionável a pressão que é ser filha de dois ícones do teatro, televisão e cinema brasileiro, Fernanda Montenegro e Fernando Torres. No dia 19 de maio de 1986, então com 20 anos, ela entrou para a história ao se tornar a primeira brasileira a receber o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes, por sua atuação no filme “Eu sei que vou te amar”, dirigido por Arnaldo Jabor. Antes dela, nenhum ator brasileiro havia sido premiado no festival, e seu feito só foi igualado em 2008, quando Sandra Corveloni recebeu a Palma de Ouro de melhor atriz pelo filme “Linha de Passe”, de Walter Salles e Daniela Thomas. Em Veneza, esta é a segunda vez que Walter Salles concorre ao Leão de Ouro: a primeira foi em 2001 com “Abril Despedaçado”

“Ainda Estou Aqui”, através da luta da família Paiva, aprofunda o retrato da resistência à ditadura militar brasileira ao capturar a dor e o protesto contra os abusos daquele governo. Críticos de publicações como IndieWireDeadline e The Hollywood Reporter foram unânimes nos elogios tanto sobre a performance de Torres quanto sobre a abordagem de Salles ao retratar um período tão sombrio da história brasileira. O longa ainda não tem data de estreia definida, mas a expectativa, que já era alta, está ainda maior após o sucesso em Veneza.

Em entrevista coletiva, Salles destacou que decidiu transformar o livro em filme como uma forma de não permitir que os horrores daquela época sejam esquecidos e também de alertar sobre os perigos de retrocessos democráticos. Marcelo Rubens Paiva compartilhou com a imprensa a importância de escrever o livro sobre sua mãe, especialmente quando ela começou a sofrer de Alzheimer. Para ele, a obra é uma denúncia contínua contra a ameaça à democracia, que vê em risco não só no Brasil, mas em várias partes do mundo. Fernanda Torres comentou sobre o estoicismo de Eunice: “Ela enfrentava a tragédia com um sorriso, evitando melodramas, e não queria que seus filhos se tornassem vítimas da ditadura”.

Outro filme brasileiro que concorre em Veneza é “Manas”, de Marianna Brennard, a mostra “Giornate degli Autori”. O filme aborda a violência contra a mulher e é estrelado por Jamilli Corrêa, Dira Paes e Rômulo Braga. Fora da competição, será exibido o novo documentário da cineasta Petra Costa, “Apocalipse nos Trópicos”, que explora o fundamentalismo religioso no Brasil durante a pandemia de covid-19 e o governo de Jair Bolsonaro. Na mostra “Veneza Clássicos”, será exibido “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, adaptação da obra de Guimarães Rosa dirigida por Roberto Santos e, na “Horizontes Curtas”, “Minha Mãe é uma Vaca”, de Moara Passoni. Em “Veneza Imersiva”, poderá ser vista a animação em realidade virtual “40 Dias Sem o Sol”, de João Carlos Furia. Além das produções brasileiras, o cineasta Kleber Mendonça Filho, diretor de “Bacurau” e “Aquarius”, integra o júri principal do festival. A atriz e diretora Bárbara Paz também participa, compondo o júri “Luigi De Laurentiis”, que premia o melhor longa-metragem de estreia.

Os vencedores do Leão de Ouro de 2024 serão anunciados no dia 7 de setembro, durante a cerimônia de encerramento do 81º Festival Internacional de Cinema de Veneza.

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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