Publicado em: 13 de junho de 2025
Ontem, 12 de junho, foi o Dia Mundial contra o Trabalho Infantil, e o grande poeta João de Jesus Paes Loureiro reviveu um poema seu de 1985, publicado no cartão de Natal da Unicef daquele ano.
Ei-lo:
POEMA DOS DIREITOS DAS CRIANÇAS
1º Princípio
Todos são iguais perante a vida
As crianças terão a garantia total de seus direitos
Sem exceção de raça, credo, cor e sexo ou classe social
Pois a criança além de ser menor
É o homem em estado de poesia.
2⁰ Princípio
Todas as crianças têm direito
à plenitude física, espiritual e social
nas dignas condições de liberdade
Assim como o pássaro têm direito ao canto
Assim como as nuvens têm direito ao voo
Assim como o pólen tem direito à flor
3º Princípio
Todas as crianças têm direito
a nome e nacionalidade
São estrelinhas iguais de alma e carne
no útero azul e vasto da amplidão
4º Princípio
A segurança social é um bem comum
como a luz, o ar e a água que bebemos
Que não haja criança sem escola
Que não haja criança sem comida
Que não haja criança sem acesso
à educação, à cultura e ao desporto
sem a quentura da casa e da família.
5º Princípio
As crianças nas quais
a vida não brotou
com todas as suas pétalas perfeitas
terão direito a uma forma digna
de cuidados e certezas e verdades
e integração na vida social.
6º Princípio
Todas as crianças necessitam de amor
pelo amor com que nos amam
Assim como cada um de nossos filhos
Assim como cada um que é nosso irmão
Que as sozinhas crianças sem família
tenham no Estado família e proteção,
Nos albergues do afeto e da ternura.
7º Princípio
A educação de base é necessária
gratuita e obrigatória
AÍ se planta o grão da liberdade
Aí se planta o sonho e a esperança
educação integradora na cultura,
capaz de abrir a todas as crianças
o campo da igualdade no trabalho
uma terra de iguais para viver.
8º Princípio
A criança terá socorro sempre
assim como também todo o menor
Nas catástrofes, enfim, nas agressões do meio
primeiros sempre
a receber afeto e proteção.
9º Princípio
Que nenhuma criança ou algum menor deja deixado
em abandono, crueldade, exploração
Que jamais seja pasto de maus-tratos
que não o caleje o trabalho antes do tempo
Uma criança é uma criança, uma criança…
Por isso é a pátria da ternura humana.
10º Princípio
Todas as crianças
e todos os menores
devem ser educados na igualdade
na amizade entre os povos
e na prática da paz universal.
Parágrafo único
Todas as crianças
nos hão de reensinar a vida,
a qual nelas floresce, em seus mistério.
Uma criança é uma criança
e todas as crianças.
Por isso quando alguma nos sorri,
seja em qualquer berço,
seja em qualquer mesa,
é como todas as crianças do mundo a nos dizer:
“Eu te amo! Eu te amo!
E tu… me amas?”
João de Jesus Paes Loureiro
Os números globais divulgados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontam sinais de progresso, mas também lembram que a erradicação total do Trabalho Infantil ainda está distante. Atualmente, 138 milhões de crianças entre 5 e 17 anos trabalham em todo o mundo, uma queda significativa em relação aos 160 milhões estimados em 2020 e aos alarmantes 245,5 milhões registrados no ano 2000. A redução de quase 50% em 25 anos é ainda mais significativa se considerada a explosão populacional: nesse mesmo período, a população infantil global aumentou em 230 milhões.
A queda no número de crianças submetidas a “trabalhos perigosos”, como aqueles exercidos nos setores da mineração, indústria e agricultura, também foi expressiva. Eram 79 milhões em 2020 e são hoje cerca de 54 milhões. Apesar dos avanços, a OIT alerta que, mesmo com os cenários mais otimistas, ainda serão necessárias décadas para que o trabalho infantil seja completamente erradicado em escala global. Fatores como pobreza, desigualdade, conflitos armados, deslocamentos forçados e lacunas educacionais continuam a empurrar crianças para o mercado de trabalho prematuramente.
No Brasil, o panorama é preocupante. Apesar do compromisso firmado em 2015 com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU (entre eles, a meta de eliminar o trabalho infantil até 2025), o país ainda está longe de alcançar o objetivo. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2023, revelam que mais de 1,6 milhão de crianças e adolescentes brasileiros entre 5 e 17 anos ainda estão em situação de trabalho infantil. A realidade nacional expõe entraves estruturais, sociais e econômicos profundos: altas taxas de pobreza, racismo estrutural, ausência de políticas públicas de proteção à infância e falhas nos sistemas educacional e de assistência social.
Em 2019, o Pará registrou 118.768 crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos em situação de trabalho infantil, o equivalente a 5,8% dessa população no estado, estando acima da média nacional de 4,8%. A maioria dos trabalhadores infantis era formada por meninos (68,1%), negros (84,2%) e moradores da zona rural (59,2%). Alarmantemente, 37,2% estavam submetidos às piores formas de trabalho infantil, segundo a lista TIP, e 98,7% dos adolescentes entre 14 e 17 anos ocupados atuavam na informalidade. Entre as atividades mais comuns estavam o comércio de alimentos, a produção florestal e os serviços domésticos, destacando um cenário de vulnerabilidade social acentuada e exploração precoce da força de trabalho infantojuvenil no estado.
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