Anos atrás tive um diagnóstico de Transtorno de Ansiedade Generalizada e, além do tratamento com os ansiolíticos clássicos, o psiquiatra da época me orientou a procurar um terapeuta, sendo enfático no nome de duas profissionais que, segundo ele, “eram mais a minha cara, porque já trabalham com artistas, pessoal da música, da cultura, gente mais sensível”.
Saí de lá me perguntando sobre essa “gente mais sensível” que é “a minha cara” e pensei quem eram as terapeutas que trabalhavam com eles. Na minha cabeça de jornalista cri cri formada pela UFPA, tratamento sério podia ser com psicólogo freudiano, no mínimo. Desconfiava de tudo o que me cheirasse a coach e “bundalelê” demais, já tinha passado por sessões de meditação ativa do finado Osho e pra mim era tudo balela (tem doc na Netflix pra quem quiser se aprofundar) porquê de fato não tratava, não ia na raiz, e eu queria uma “cura”.
Foi só quando cheguei na consulta com uma das tais terapeutas holísticas é que passei a entender que além dos muros das academias universitárias, existe um outro universo que atende tanto pelos clássicos Freud e Lacan, quanto com as teorias do Jung e suas diversas possibilidades de expansão. Foi nessa consulta que, pela primeira vez, consegui entender o que é a terapia holística e que, apesar da comunidade neo-hippie-namastê-pós-rajinesh ter dado fama ao termo, ela existe há muito mais tempo que os modismos e vem auxiliando pessoas, como eu, a encontrar um caminho menos duro para lidar consigo.
Didaticamente, o termo “holístico” nada mais é que a compreensão do todo, um sinônimo para integrativo, e que aponta algo que deveria básico na medicina: a visão integral do ser humano em suas perspectivas biológicas e psicológicas, sem separação. Olhar para o ser humano como um SER e não como partes a serem estudadas como (des)aprendemos aqui no Ocidente.
Não foi à toa que muita gente passou a buscar a Índia e o Tibet lá nos anos 60, 70 e 80, pois tanto a Medicina Ayurvédica quanto a Medicina Tradicional Chinesa trabalham a partir do conceito do holismo, tratando não apenas a causa de cada “doença”, mas sua origem, unindo as compreensões de corpo, mente e espírito, mostrando que a doença nada mais é do que o espírito em busca da saúde, em busca da sanidade, e o que é sano, é são, está curado, é puro e integral.
É claro que naquela primeira consulta eu não sabia nada do que acabei de escrever, mas quando entrei na sala da terapeuta, entendi o que o psiquiatra disse com “a minha cara”. A terapeuta holística não ia me dar conceitos pra que eu encaixasse o meu CID neles, ela ia me mostrar como fazer o meu caminho de dentro, pra buscar em mim as causas não apenas de uma doença, mas me mostrar o que em mim desencadeia um transtorno. E isso pode ser feito com a ajuda das mais diversas terapias, desde a psicoterapia até a homeopatia, passando pelas terapias florais e aromaterapia, dentre tantas. O primeiro passo é sair da ignorância que o preconceito nos joga (eu demorei pra assumir isso), só assim a gente consegue olhar pra si com mais generosidade, compaixão e integridade.
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