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“Calma que agora podes curar tua artrose fazendo constelação familiar”. Li essa frase dia desses numa conversa de rede social. Mas antes de rebater o sarcasmo do meu interlocutor, me detive no que, de fato, alimenta a criação de frases como essa. A ignorância, já sabemos desde Platão, é simplesmente a falta de conhecimento. O desconhecido gera o medo. E o medo gera falácias criadas para defender despropósitos. Está criado o combo perfeito para a difusão das inverdades que hoje são chamadas de “fake news”.

Esclareço aqui que não vou abrir uma defesa para as terapias de constelação familiar, mas instigar, a ti que me lês, a procurar informações concretas sobre as Práticas Integrativas e Complementares de Saúde, as PICS, onde está não apenas a terapia da constelação, mas também a acupuntura, a fitoterapia, o reiki e a aromaterapia, para citar algumas.

O nome é autoexplicativo “práticas complementares”, ou seja, são cuidados que vêm complementar, adicionar, somar, ser mais uma via de tratamento para casos de saúde. Ninguém está dizendo que o reiki vai substituir teu tarja preta pra depressão, ou que a constelação vai “curar a tua artrose”, como sugeriu o autor da frase que abriu este texto. A função principal das PICS é ser uma aliada e não uma substituta inimiga dos fármacos ou dos médicos.

Porém, é importante que a gente questione os motivos que têm tornado as PICS cada vez mais buscadas. Será que é porque a medicina comum, com suas medicações industrializadas e compartimentadas, que indica um remédio para cada doença – ao invés de buscar as causas para tratar o todo, o ser humano – já não faz mais o efeito que precisamos? Ou será que é porque simplesmente cansamos de tanta medicação e percebemos o quanto nos intoxicamos a cada pílula? Ou ainda, e talvez o mais assertivo, será que os médicos nos olham com o cuidado que precisamos ou nos veem apenas como um número, uma CID a ser anotada para despachar uma receita?

Essa é a grande diferença e o grande trunfo das práticas integrativas: olhar a pessoa, o ser humano em suas nuances, inseguranças, medos e traumas. Olhar para o que adoece e precisa ser cuidado e não para a doença apenas como algo que precisa ser extirpado. É, antes de tudo, ser um mapa, um guia para a cura, seja em sua totalidade ou para compreender as razões de algumas curas não serem possíveis.

Isso não significa que essas práticas sejam rainhas absolutas. Jamais!

Da mesma forma que um mapa apenas mostra o caminho sem, no entanto, fazer o caminho por nós, as PICS auxiliam a entender os processos que adoecem e podem, sim, diminuir traumas, sumir com a dor e trazer cura, mas não se colocam como substitutos de medicação alguma. Tu jamais verás um terapeuta reikiano ou aromaterapeuta dizer “para de tomar seu hormônio da tireoide porque a terapia x vai te curar”. E se alguém te sugerir isso pode ter certeza que é um charlatão. Portanto, tentar depreciar as PICS dizendo que o SUS agora vai tratar doenças crônicas apenas com as práticas é não apenas agir de má-fé, mas demonstra um nível de ignorância, preconceito e egoísmo entristecedores. O egoísmo é por não compreender que a dor do outro é sempre dele e só ele sabe mensurar o tanto que dói e o tanto que já fez para que deixasse de doer.

E este texto é só para dizer que devemos comemorar o fato da prefeitura de Belém ter conseguido implementar as Práticas Integrativas em suas Unidades Básicas de Saúde. Isso é o que podemos chamar de progresso: quando o ser humano se dispõe a olhar outro ser humano como um igual e não como um estorvo a ser despachado.

O mundo tá carecendo de amor, de interpretação de texto e análise do discurso, sabemos. Talvez seja por estar sobrando ironia, ignorância, desinformação, empatia e alteridade.

*Dani Franco é jornalista paraense, aromaterapeuta clínica e integrativa, oraculista e facilitadora do sagrado feminino.

Dani Franco
Dani Franco é jornalista (MTB 1749), gestora cultura, oraculista (leitura de cartas e tarô) e aromaterapeuta (filiada à ABRAROMA nºS545)

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