Nascido em Santarém (PA), onde não havia, na época, qualquer curso superior, vim residir na capital paraense para prosseguir meus estudos.
Durante os anos de 1967 a 1971, estudante do Curso de Direito na Universidade Federal do Pará, morei na Casa da Juventude, localizada na Av. Almirante Barroso, quase esquina com a Trav. Humaitá, em Belém (PA).
Compositor desde criança e, com mais intensidade desde, pelo menos, 1968, vivi o período áureo dos Festivais de Música. Cheguei até a concorrer em alguns desses certames, como também integrei o corpo de jurados, em outros, inclusive do “1º Festival da Música Popular da Amazônia”, promovido pela Casa da Juventude (“CAJU”), que contou com a participação, dentre diversos outros concorrentes, de Simão Jatene, compositor, ex-governador do Estado do Pará. Tempos bons!…
Minhas atividades não se restringiam à Magistratura e ao Magistério.
Desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região, sediado em Belém, magistrado trabalhista de carreira por mais de 48 anos, aposentado desde 13 de agosto passado, ex-Presidente do TRT-8ª Região, exerci também o magistério superior na área jurídica, por cerca de 30 anos, e fui contemplado com o título de Professor Emérito outorgado pela Universidade da Amazônia (UNAMA), além de ser compositor.
Eu costumava dizer que “estava” Magistrado ou Professor, profissões que exerci com grande satisfação.
Porém, sinto que “sou” músico, a minha essência mais profunda, certamente por tradição familiar ou talento que Deus me proporcionou, especialmente no âmbito da composição musical.
Muito do que falarei aqui diz respeito à música.
Na adolescência, fui sacristão na Catedral da Igreja de N. S. da Conceição, Padroeira de Santarém. E assisti a muitos ensaios de músicas sacras, pelo Coro da Catedral, sob a regência de meu tio Wilde Fonseca (Maestro Dororó), com acompanhamento de meu pai Wilson Fonseca (Maestro Isoca), ao órgão. Por várias vezes, também toquei órgão naquela Igreja.
Quando estudei no Instituto (Conservatório) Musical “Padre José Maurício”, em São Paulo, na década de 60 do século XX, eu preparava as lições de piano no próprio Conservatório, por gentileza proporcionada pela professora Rachel Peluso, uma das proprietárias daquela instituição educacional, pois não dispunha do instrumento na residência de meu tio Wilmar Fonseca, onde fiquei hospedado na capital paulista.
Quando retornei a Santarém e, depois, vim estudar o Curso de Direito em Belém, morei na Casa da Juventude. Inicialmente, comprei um violão; depois uma escaleta. E ficava, assim, “caçando com o gato”, à falta do piano. Ao me tornar magistrado trabalhista, em 1973, o sonho de comprar um piano continuava. Até que, na década de 80 do século XX, chegou a hora de adquirir o piano, meu instrumento musical preferido, pois o preço era atrativo.
Exerci o magistério em Santarém, em 1966, ainda estudante do curso secundário no Colégio “Dom Amando”, como Professor do Colégio Estadual “Rodrigues dos Santos” e num Curso de Admissão ao Ginásio, gratuito, lecionando Língua Portuguesa e Geografia, destinado a jovens carentes daquela cidade; e nos anos de 1967 e 1968 fui Professor de Instrução Religiosa, no Colégio Estadual “Augusto Meira”, na capital paraense, quando ainda universitário do Curso de Direito, residente na Casa da Juventude, onde compus diversas músicas e me preparei para a vida e para a profissão jurídica, num ambiente que me proporcionou sólida formação ética e cristã.
Recordo que em cada quarto, na CAJU, no 3º pavimento, existiam dois beliches. No nosso quarto ficávamos eu, Herbert Tadeu Pereira de Matos, Raimundo Felizardo Bentes (todos acadêmicos do Curso de Direito) e, mais tarde, Darivaldo da Costa Coimbra, todos oriundos do Município de Santarém. Em outros quartos, grandes amigos também, estudantes de medicina, engenharia, agronomia e outros cursos, egressos de diversas cidades do interior do Pará e vários Estados brasileiros.
Um dos momentos saudáveis de entretenimento era, por exemplo, o torneio de futebol, aos finais de semana, disputado entre moradores dos quartos da “CAJU”, quando jogávamos bola num campinho ao lado do prédio onde é sediada a Casa Juventude.
Assistimos pela televisão, na “CAJU”, os jogos do Brasil na Copa do Mundo de 1970, no México, ocasião em que o nosso país se tornou tri-campeão mundial de futebol. Momentos inesquecíveis!
Foi a convite do Padre Raul Tavares de Sousa (93 anos), dirigente da Casa da Juventude, que me tornei professor de Instrução Religiosa no Colégio Estadual “Augusto Meira” (1967-1968), em Belém.
Desde criança, fui conduzido, por meu pai (Wilson Fonseca – Maestro Isoca), no sentido de preservar a tradição da família Fonseca, na arte da música. Essa tradição iniciou-se com meu avô paterno, José Agostinho da Fonseca (1886-1945), e já se encontra na quinta geração.
Após estudar, em São Paulo, nos anos de 1962 e 1963, no Instituto (Conservatório) Musical “Padre José Maurício”, dirigido pelas irmãs professoras Rachel e Gioconda Peluso, bem como terminar o Curso Ginasial no Lyceu Coração de Jesus, na capital paulista, retornei para Santarém e ao Colégio “Dom Amando”, antes de ingressar na Universidade.
Além do piano, participei de conjuntos musicais, inclusive na animação de festas dançantes, executando teclados eletrônicos. Integrei os conjuntos “Tapajoara” e “Os Tapajônios”; a Banda Marcial do Colégio “Dom Amando” (líder do naipe de sopros); e a Banda de Música “Prof. José Agostinho”, tocando instrumentos de metais (sax-horn ou trompa, trombone de piston e barítono, espécie de eufônio, semelhante ao bombardino).
Nos anos de 1964, 1965 e 1966 fui agraciado como o aluno que mais se destacou nas atividades musicais do Colégio “Dom Amando”, pelo que tive o privilégio de receber três Medalhas e troféus de honra ao mérito.
Participei, ainda, de programas de auditório, em grupos musicais, para acompanhar, no teclado eletrônico, os “calouros” que se apresentavam na casa de espetáculo “Cristo Rei” (hoje, desativada), notadamente no “Domingo após a Missa” e no “E-29 Show”, conduzido pelos radialistas Osmar Simões, Ércio Bemerguy e Edinaldo Mota, em Santarém. Naquele programa de auditório lembro que toquei ao lado dos excelentes músicos Moacir Santos (violonista/guitarrista), Fernando Sirotheau (contrabaixista) e Laurimar Soares Queiroz (baterista). Além dos calouros, apresentavam-se também artistas, geralmente cantores, que integravam o “cast” (elenco) da Rádio Educadora (hoje, Rádio Rural de Santarém), que transmitia, ao vivo, o evento. A experiência foi bem proveitosa, inclusive porque tínhamos que improvisar e estar atualizado com as músicas de sucesso da época. Naquele tempo ainda não havia televisão em Santarém.
Por não contar com o piano, na capital paraense, quando estudante universitário, comecei a dedicar-me também ao violão, muito embora tivesse uma escaleta (espécie de teclado de boca) que servia apenas para “quebrar o galho”. Foi com a ajuda do violão que intensifiquei a minha experiência como compositor.
Participei de vários festivais e eventos de música, seja na comissão julgadora, na comissão organizadora ou mesmo como concorrente.
Em 1967, foi realizado, em Belém, o primeiro Festival de Música, nos moldes daqueles organizados no sul do país. Esse Festival foi promovido por alunos da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Pará, que funcionava no Largo da Trindade, onde hoje é sediada a Ordem dos Advogados do Brasil, Secção do Pará. Na ocasião eu estava cursando o 1º ano da graduação universitária. Dada a minha vivência musical, fui convidado para integrar a Comissão Julgadora do certame – como representante dos universitários – do histórico 1º Festival Paraense de Música Popular, organizado por alunos da Faculdade de Direito (UFPA), onde eu, ainda como calouro, estudava. Foi o primeiro festival, no gênero, realizado na capital do Estado do Pará. A Comissão Julgadora foi presidida pelo Maestro Waldemar Henrique, então Diretor do Theatro da Paz. No intervalo do Festival, como grande atração, apresentou-se o notável compositor Chico Buarque de Hollanda.
Eu era, então, aluno do 1º ano do Curso de Direito e havia estudado música no Instituto (Conservatório) Musical “Padre José Maurício”, em São Paulo (SP), dirigido pelas irmãs santarenas Rachel e Gioconda Peluso, a fim de prosseguir no aprendizado de música sob a orientação de meu pai Wilson Fonseca (Maestro Isoca).
Talvez ainda exista, em meus velhos arquivos, alguma foto de minha participação como membro da Comissão Julgadora daquele extraordinário 1° Festival Paraense de Música Popular (1967), publicada no jornal “A Província do Pará”.
No ano seguinte, em 1968, residente, em Belém, na Casa da Juventude, dirigida pelo Cônego Raul Tavares de Sousa, centro de minhas atividades culturais, recreativas e religiosas, participei ativamente da organização do 1º Festival da Música Popular da Amazônia, realizado na Quadra de Esportes do Ginásio “Serra Freire”, ocasião em que também integrei a Comissão Julgadora desse certame musical, sob a Presidência do Maestro Waldemar Henrique. A atração do evento, no intervalo, não era mais um famoso compositor ou cantor do sul país, mas a apresentação – creio que pela vez primeira, em Belém – de um Grupo de “carimbó” de Marapanim, interior do Estado do Pará, na Quadra de Esportes do Ginásio “Serra Freire”, na capital paraense, que ainda não conhecia essa importante manifestação cultural do Pará. A dança do carimbó, vinda de Marapanim, foi uma verdadeira apoteose, que impressionou a todos os presentes no evento.
Naquela época, lançados os sucessos musicais de Chico Buarque, Tom Jobim, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Geraldo Vandré, Edu Lobo e tantos outros, não só procurávamos aprender as novidades, como também dispúnhamos de um importante programa semanal na Rádio Guajará, para fazer as críticas e os comentários que entendíamos adequados para as canções compostas por uma plêiade de excelentes compositores e poetas, tão jovens como nós. A mim cabia, em particular, tecer considerações sobre a parte musical da composição, em face de minha experiência nessa área. Outros colegas, residentes na Casa da Juventude, faziam comentários sobre a letra e a mensagem que o poema poderia ensejar. Havia participação destacada dos ouvintes do programa de Rádio.
Nessa época, passei a me dedicar, de modo mais intenso, à carreira de compositor.
É verdade que antes disso, eu já havia composto a minha primeira valsinha (“Experimentar“), em 1958, com menos de 10 anos de idade, dedicada a meu tio Wilmar Fonseca; e o “Pequeno Estudo em Sol Menor”, em 21.05.1969, que permaneceu, durante trinta e quatro anos, apenas com a melodia cifrada. Em 12.09.2003, adaptei essa peça para canto (soprano ou tenor) e piano, acrescentando-lhe uma letra, também de minha autoria, para nova composição, sob o título de “Pequena Ária em Sol Menor”, utilizada em outras composições que escrevi (“Ritual Sinfônico” nºs. 1, 2, 3 e 4).
Entre 1958 e 1968 compus algumas coisinhas, mas não guardei registro de todas essas composições musicais.
Em fevereiro de 1968, universitário de Direito, compus, durante as férias em Santarém, o samba “Queixumes do Fim“, com letra de Emir Bemerguy, que me proporcionou outras parcerias, como a “Praça da Matriz“[1].
Em seguida, veio a “Missa Popular“, com texto em português, de autoria do poeta Emir Bemerguy, que era tocada nas Missas celebradas pelo Padre Raul Tavares de Sousa, na Casa da Juventude. Essa composição, cujas partes musicais eu compus nos anos de 1969 e 1970, também foi cantada na Missa de Colação de Grau das Pedagogistas de 1970, professoras formadas pelo Colégio Santa Clara, de Santarém, de que faziam parte minha irmã Maria da Conceição Malheiros da Fonseca e Maria Zuíla Lima Dutra, colega de magistratura trabalhista e esposa do jornalista Manuel Dutra. A peça compõe-se de 7 partes: Entrada, Kyrie, Hino de Meditação, Ofertório, Cordeiro de Deus (Agnus Dei), Comunhão e Hino Final. As letras do Kyrie e do Cordeiro de Deus (Agnus Dei) são as tradicionais (em português).
A Missa Popular foi a primeira música sacra que compus, parte em Belém, na Casa da Juventude, e parte em Santarém.
O catálogo de minha obra musical registra diversas outras peças sacras, tais como:
- “Homenagem ao Papa João Paulo II” (Para a sua chegada em Belém-PA);
- “Ave Maria”. Texto tradicional em latim. Em 2005, eu dediquei essa composição à Sua Santidade o Papa Bento XVI (Joseph Ratzinger) – que havia sido eleito – a quem enviei a peça e, por intermédio da Secretaria de Estado do Vaticano, recebi uma Bênção Apostólica (expediente datado de 24.06.2006). Escrevi dezenas de arranjos para essa música;
- “Pater Noster”. Texto tradicional em latim.
- “Para Minha Mãe” (Quarteto de Cordas). Dedicada à minha querida mãe.
- “Maria” (Ave Maria dos Migrantes) – Coro a 4 vozes mistas e Órgão de Tubo, com Pedal. Música vencedora do Concurso Nacional de Composição de Música Sacra, promovido pela Paróquia Nossa Senhora de Boa Viagem – Igreja Matriz de São Bernardo do Campo (SP), em 2010. A música foi apresentada na inauguração do Grande Órgão, adquirido pela Paróquia, como parte da programação dos festejos dos “200 anos de criação da Paróquia – 1812/2012”. Dediquei essa obra sacra ao Papa Francisco – Cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, o primeiro Sumo Pontífice sul-americano na história da Igreja Católica, eleito em 13 de março de 2013, no Vaticano. A peça foi enviada ao Papa Francisco, de quem tive a graça de receber nova Bênção Apostólica (Ofício nº 1.355, de 10.10.2013 – Secretaria de Estado do Vaticano). Escrevi diversos arranjos para esta peça sacra, inclusive para Orquestra.
- “Cânticos em Honra da Santíssima Trindade“– Canto e Órgão. Peça com 8 partes, baseadas na tradição da música gregoriana, ao estilo francês, conforme solicitado pelo letrista: Entrada, Penitencial, Glória, Salmo Responsorial (DN 3), Aleluia, Ofertório, Comunhão e Final. Textos poéticos escritos por Padre Ronaldo Menezes, em comemoração à Festa da Santíssima Trindade.
- “Pequeno Requiem” – Quarteto de Cordas; e Quinteto de Metais.
- “Hino da Catedral Metropolitana de Belém”. Letra: Pablo Neves Marinho.
- “Credo” [Niceno-Constantinopolitano] – Canto e Piano. Letra: Tradicional.
- “Ecclesia de Eucharistia” – Coro a 4 vozes mistas e Órgão; e Coro a 4 vozes mistas e Órgão de Tubo, com Pedal. Letra: Pablo Neves Marinho.
- “Hino ao Beato João Paulo II” – Coro a 4 vozes mistas e Órgão; e Canto e Piano. A música foi composta na época em que João Paulo II – Karol Józef Wojtyła (1920-2005) – ainda era Beato (2013), atualmente canonizado Santo da Igreja Católica. É oportuno registrar que em novembro de 2015 ocorreu a Festividade de Inauguração da Nave da Igreja São João Paulo II, situada na Travessa Mauriti, nº 1.753 (entre as Avenidas Marquês de Herval e Visconde de Inhaúma), em Belém (PA), quando recebi honroso convite para o evento, promovido pela Casa da Juventude – Comunidade Católica, dirigida pelo Cônego Raul Tavares de Sousa.
- “Sublime Cordeiro” (Canto Sacro). Coro a 4 vozes mistas e Piano. Letra: Pablo Neves Marinho.
- “Santo Anjo”. Letra tradicional.
- “Sinal da Cruz”. Letra tradicional.
- “Oração a Santa Rita de Cássia“. Letra tradicional.
- “Prece de Amor“(Canção). Coro a 4 vozes mistas e Piano; e Quarteto de Cordas e Piano.
- “Hino da Paróquia de Nossa Senhora do Bom Remédio“.
- “Saudação a Dom Irineu“(“Vim para servir”). Hino. Saudação a Dom Irineu Roman, nomeado em 06 de novembro de 2019, pelo Papa Francisco, como Primeiro Arcebispo Metropolitano da recém-criada Arquidiocese de Santarém (PA). Posse em 02 de fevereiro de 2020. Lema episcopal: “Vim para servir”. Canto e Piano. Canto e Orquestra. A música foi executada, em primeira audição pública mundial, na sala de desembarque do Aeroporto de Santarém – “Maestro Wilson Fonseca”, quando o Arcebispo Dom Irineu Roman foi acolhido pela Orquestra Jovem “Maestro Wilson Fonseca”, sob a regência do Maestro José Agostinho da Fonseca Neto.
- “Canto para Maria“(Valsa). Letra: Juarez Bezerra Regis de Souza.
- “Salve Rainha“. Letra tradicional.
- “Nossa Senhora, Mãe da Nossa Fé“(Bolero). Letra: Juarez Bezerra Regis de Souza. Elaborei diversos arranjos, inclusive para Orquestra.
- “Maria“(Canção). Letra: Juarez Bezerra Regis de Souza.
- “Prece à Virgem“(Canção). Letra: José Rodrigues Pinagé.
Escrevi vários arranjos para peças sacras de autoria de meu pai (Wilson Fonseca) e meu avô patrono (José Agostinho da Fonseca).
Na juventude, eu vivenciei o tempo áureo da bossa-nova: Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Baden Powell, João Gilberto; depois, Chico Buarque, Edu Lobo, Caetano Veloso.
Seria inevitável a influência dos mestres da música brasileira na minha obra musical, sobretudo quando andei arranhando violão, enquanto estudante universitário (1967-1971), antes de comprar meu piano (1986). Outrora, eu compunha com ajuda do violão, piano ou até escaleta. Depois, abandonei a ajuda de qualquer instrumento para compor e passei a escrever música diretamente no pentagrama, o que dá mais liberdade ao compositor, conforme aprendi com meu pai. E continuo compondo algumas bossas-novas.
Na Casa da Juventude, onde morei quando acadêmico de Direito, em Belém, eu descia do 3º para o 2º pavimento, para estudar, com livros, apostilas, violão, escaleta e gravador, que servia para gravar aulas e também para registrar algumas inspirações do jovem compositor. Quantas vezes eu anotava a melodia de uma nova música, escrevia as cifras e gravava o esboço, com voz e violão, para não perder a idéia…
Uma de minhas maiores satisfações era enviar logo a nova produção para o meu pai apreciar e me dar os seus sábios ensinamentos, com os quais nem sempre eu concordava. Não raro, ele me dizia que eu estava ousando demais, pois o velho daria outra solução mais tradicional para este ou aquele trecho musical. Ele era um mestre.
Diversas composições que fiz naquele período, inclusive durante as férias em Santarém, estão conservadas em gravações domésticas, de voz e violão, às vezes acompanhado pela Neide, minha esposa, fazendo a percussão numa caixa de fósforo. São fitas cassetes que guardo com carinho. Naquela época eu imaginava ser cantor e violonista. E isso tudo depois de ter sonhado em ser maestro e pianista… Acabei simples compositor, que é como me sinto mais à vontade…
Em 1970, com apenas 22 anos, ainda residente na Casa da Juventude, resolvi fazer uma experiência no âmbito da música mais erudita. Participei do Concurso de Compositores Paraenses, organizado pelo Programa de Televisão “Momento de Arte”, dirigido e apresentado pelo Prof. Milton Assis, Presidente da Academia de Música “Alencar Terra”. Nesse concurso, obtive o 3º lugar na classificação final, com a composição “Canção a um Grande Amor”. A entrega dos prêmios – uma medalha de ouro e um diploma – deu-se nos estúdios da TV Guajará de Belém (Canal 4), com transmissão ao vivo para o público, quando tive a satisfação e a honra de assistir, pessoalmente, a execução da obra musical que compus, interpretada pela Orquestra Sinfônica da Universidade Federal do Pará, com arranjo orquestral de meu pai (Wilson Fonseca), com quem mantive e mantenho profícua parceria musical há muitos anos.
A convite do Prof. Milton Assis, passei a atuar, por diversas vezes, no programa “Momento de Arte”, integrando o Júri que escolhia e classificava os melhores cantores e instrumentistas do Programa de Televisão (TV Guajará), na capital paraense.
Em 1970, ainda, ao lado de uma plêiade de jovens idealistas, participei ativamente da organização e da realização de um dos maiores movimentos artísticos populares dos últimos tempos de Santarém – o 1º Festival de Música Popular do Baixo-Amazonas. E, em Belém, ainda cursando a Universidade, recebi a comunicação de que eu fora escolhido Presidente da Comissão Organizadora daquela Festival. Em contato com as autoridades governamentais, com a imprensa e musicistas da capital do Estado do Pará, consegui apoio financeiro, publicidade e alguns integrantes do Júri, dentre os quais o Maestro Waldemar Henrique, para a realização do Festival. Uma vez mais, integrei a Comissão Julgadora do certame, presidida pelo Maestro Waldemar Henrique, que, pela primeira vez, foi a Santarém e conheceu pessoalmente o meu pai, Wilson Fonseca (Maestro Isoca). O espetáculo final teve lugar no Cinema Olímpia, de Santarém, com enorme sucesso e com a participação de numeroso público que lotou literalmente as dependências daquela casa.
Incumbido da Presidência da Comissão Organizadora do 1º Festival de Música Popular do Baixo-Amazonas, realizado em Santarém, em 1970, consegui patrocínio para levar o Maestro Waldemar Henrique a fim de presidir o júri daquele certame. Esse fato permitiu o encontro pessoal dos dois compositores e maestros paraenses, para o qual tive a privilégio de contribuir. Diretor do Theatro da Paz, Waldemar Henrique convidou, então, Wilson Fonseca (Maestro Isoca) para um recital em Belém. A idéia, no entanto, foi ampliada para a realização de um evento mais abrangente, com a participação de dezenas de artistas santarenos, a “Semana de Santarém”, outro magnífica realização artístico-cultural da qual participei intensamente, inclusive como compositor e intérprete, em outubro de 1972, na capital paraense.
Foi durante o período da realização da memorável “Semana de Santarém”, no Theatro da Paz, em Belém, em outubro de 1972, que meu pai, Wilson Fonseca, a convite de Waldemar Henrique, escreveu um registro, do próprio punho, no livro de visitantes ilustres do belíssimo teatro, ilustrado com as notas inicias dos temas de duas músicas: “Canção de Minha Saudade”, do próprio Wilson, e “Louco de Amor”, de Waldemar. Curiosamente, o amigo de meu genitor não reconhecera a sua própria composição, feita ainda na juventude. Para surpresa e emoção de Waldemar, Wilson Fonseca executa, ao piano, durante a “Semana de Santarém”, aquela bela canção do Maestro, cantada pelo tenor Antônio Waughon, cujo tema o Maestro Isoca aproveitou para a homenagear o autor de “Tambatajá” e “Uirapuru”, sutilmente citados pelo compositor santareno, em sugestivos contrapontos, na última parte do seu Dobrado nº 45 (“Waldemar Henrique“), dedicado ao amigo músico, em 1995. Aliás, Wilson Fonseca sucedeu justamente a Waldemar Henrique, nesse mesmo ano de 1995, na Cadeira nº 7 da Academia Paraense de Letras, e, com ele, foi cofundador da Academia Paraense de Música (1981), como primeiro Titular da Cadeira nº 24 (Patrono: José Agostinho da Fonseca, meu avô paterno), que hoje tenho a honra de ocupar.
Gostaria de destacar, ainda, que na “Semana de Santarém”, no Theatro da Paz (1972), foi executada, pela Orquestra e Madrigal da Universidade Federal do Pará, a peça “Acalanto“, de minha autoria (letra e música), com arranjo orquestral de meu pai; e a apresentação, em 1973, de um grupo de artistas santarenos, em Porto Alegre (RS), a convite da VARIG e da Companhia Rubem Berta: Wilson Fonseca (maestro, compositor, poeta e pianista), Emir Bemerguy (poeta), Edenmar da Costa Machado (Machadinho, cantor e violonista), Antônio Waughan (cantor), Vicente Malheiros da Fonseca (compositor e pianista), Laudelino Silva (compositor e cavaquinista), Moacir Santos (compositor e violonista) e Alfonso Gimenez (fotógrafo).
Em 1977, compus a música do “Hino ao Centenário do Theatro da Paz”, com letra do poeta Emir Bemerguy, que dediquei a Waldemar Henrique e dele recebi um cartãozinho do próprio punho e um ofício, como Diretor do Theatro da Paz, em agradecimento à dedicatória, que guardo com carinho. Escrevi diversos arranjos para esse hino, inclusive para Orquestra Sinfônica.
Além de arranjos que elaborei para obras musicais de meu pai e meu avô patrono, também escrevi alguns arranjos para músicas do Maestro Waldemar Henrique: “Uirapuru”, “Valsinha do Marajó” e “Boi-Bumbá” (Flauta, Clarinete e Piano a 4 mãos).
Lembro-me de que o amigo José Gumercindo Rebelo, já falecido, fez a versão da letra da música “Via Transamazônica”, que compus em 1970, quando residíamos na “CAJU” (1970), sob o título, em inglês, “Big Transamazonic Way” (1971). Nesse tempo começava a construção da rodovia Transamazônica.
No último ano em que morei na CAJU (1971), no dia de minha colação de grau como Bacharel em Direito, participei do “1º Festival Estudantil da Canção”, concorrendo, em Belém, com três composições, das quais duas ficaram entre as dez finalistas: “Apocalíptica” e “Motivo Amazônico”.
Nessa época e posteriormente participei, em Belém e Santarém, de outros eventos artísticos, inclusive como membro de Comissões Julgadoras de Festivais de Música. Presidi o corpo de jurados do Festival de Botos, em Alter do Chão, Município de Santarém, durante as festividades do Sairé.
Tive o privilégio de ser um dos quatro vencedores do Concurso Internacional de Composição 2006, promovido pelo Quinteto Amizade, de Brasília (DF), com a música “Irurá” (chorinho), para Quarteto de Cordas e Percussão.
Compositor desde 1958, o catálogo de minha obra musical registra mais de 1.000 peças, em diversos gêneros (canto, coral, piano solo e a 4 mãos, sacras, violão, banda, conjuntos camerísticos para formações instrumentais e/ou vocais e peças orquestrais), vários hinos (mais de 130), inclusive para instituições jurídicas (alguns oficializados); a série de “Valsas Santarenas” (atualmente, 128 peças); o ciclo de canções sobre poemas de Fernando Pessoa (“Poeta Fingidor”; “Tenho Tanto Sentimento”; e “Ao longe, ao luar”); o ciclo de canções dedicadas a cantoras líricas (cerca de 20, inclusive em homenagem às sopranos paraenses Adriane Queiroz e Carmen Monarcha); o ciclo de canções sobre o boto amazônico (cerca de 10); a “Sinfonia do Tapajós” (composta para o lançamento do livro “Meu Baú Mocorongo”, de Wilson Fonseca, com a primeira audição – 4º movimento – “Oração – Ave Maria”, executada pela Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz, em minha cidade natal); a Abertura de Concerto nº 1, com 12 movimentos (Orquestra Sinfônica) etc.
Músicas de minha autoria foram gravadas em discos, inclusive no exterior, tais como:
- LP “Santarém do Meu Coração” (Semana de Santarém, 1972). Participei, como compositor, cantor, violonista e pianista, da gravação do Long Play “Santarém do Meu Coração“, que registra parte das músicas apresentadas na Semana de Santarém, inclusive composições de minha autoria, de meu pai (Wilson Fonseca – Maestro Isoca), de meu avô paterno José Agostinho da Fonseca e de outros músicos de Santarém.
- LP “Terra Querida” – Conjunto Musical “Os Hippies”, 1977.
- LP “Canção de Minha Saudade”. – Conjunto Musical “Os Hippies”, 1980.
- LP”Encantos de Santarém (Ray Brito e Tinho)” – 1987.
- CD “Sinfonia Amazônica” (volume 1) – Coro e Orquestra Jovem “Maestro Wilson Fonseca” – 2002.
- CD “Sinfonia Amazônica” (volume 2) – Coro e Orquestra Jovem “Maestro Wilson Fonseca” – 2002-2003.
- CD “Toca Pará” (Grupo Bronzes da Amazônia – Quinteto de Matais) – lançado em11 de dezembro de 2015, na Capela de São José Liberto, em Belém (PA), durante a realização do concerto do grupo, na programação do 42º ENARTE (Encontro de Artes de Belém), com as músicas “Chorinho Pai D’Égua”; “Bronzes, pra quê te quero”; e “Valsa Santarena nº 77”, além de obras musicais de Wilson Fonseca, meu pai, e Lorena Sirotheau da Fonseca Lestra, minha filha, com arranjos por mim escritos.
- CD “Raízes – Um Piano na Amazônia“, gravado no Auditório Musibéria, Serpa, Portugal (abril de 2018), pela pianista gaúcha Carla Ruaro. Música: “Valsa Santarena nº 107”.
- CD “Família Fonseca: Do Erudito ao Popular” – Trio de Flauta, Violoncelo e Flauta (Frederico Mendes de Oliveira Mil Homens – Flauta; Samuel Pessatti – Violoncelo; e Cleusa Marisa Rosati – Piano. Lançado no Concerto de Música de Câmara, promovido pelo Projeto SESC Partituras, no Centro Recreativo, em Santarém, em 17 de novembro de 2018, em comemoração ao aniversário natalício de Wilson Fonseca (Maestro Isoca), falecido em 2012; ao ano do Jubileu de Prata do Instituto “Maestro Wilson Fonseca”; e aos 60 anos da valsinha “Experimentar”, minha primeira composição musical, quando eu completava 70 anos de idade.
Participei, como pianista e arranjador, da gravação do CD da série “Projeto Uirapuru – O Canto da Amazônia” (volume 1), lançado em 1996, sob os auspícios da Secretaria Estadual de Cultura (SECULT), com músicas de Wilson Fonseca, meu genitor.
O CD “Encontro com Maestro Isoca” registra a gravação, ao vivo, do último recital em homenagem a Wilson Fonseca, ocorrido na capital paraense, em 08 de janeiro de 2002, idealizado pela Professora Glória Caputo e organizado e produzido por mim, com participação do Maestro, familiares e diversos artistas, inclusive estrangeiros, dois meses antes de seu falecimento. Participo desse CD, como pianista e arranjador, gravado sob os auspícios da Prefeitura Municipal de Belém (administração: Edmilson Rodrigues).
A minha composição “Ave Maria” (2003) foi interpretada, em primeira audição pública mundial, pelo notável tenor paraense Atalla Ayan, acompanhado da Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz, em Belém, sob a regência do Maestro Mateus Araújo, em 10 de outubro de 2006.
Dediquei essa obra musical sacra ao Papa Bento XVI e tive a graça de receber do Sumo Pontífice da Igreja Católica uma Bênção Apostólica, conforme expediente, oriundo da Secretaria de Estado do Vaticano, datado de 24 de junho de 2006, assinado pelo Monsenhor Gabriele Caccia (Assessor).
[Gabriele Giordano Caccia é um prelado italiano da Igreja Católica que trabalha no serviço diplomático da Santa Sé. Trabalhou nos escritórios da Secretaria de Estado e atuou como Núncio Apostólico no Líbano e nas Filipinas. Ele foi nomeado Observador Permanente da Santa Sé nas Nações Unidas em 2019 – Wikipédia].
Escrevi mais de 50 arranjos para essa composição musical.
Enviei o OFÍCIO TRT/GAB/VJMF/Nº 014/2006, datado de 1° de junho de 2006, ao Papa Bento XVI (Joseph Ratzinger) com os seguintes arranjos por mim elaborados para a peça sacra: Quintetto o Orchestra di Archi (Strings) e Piano; Trio per Fagotto (Bassoon), Corno (Horn) e Piano; Sopprano o Tenor e Orchestra Sinfonica; e Sopprano o Tenor e Piano.
[Bento XVI, nascido Joseph Aloisius Ratzinger, é Papa Emérito e Romano Pontífice Emérito da Igreja Católica. Foi Papa da Igreja Católica e Bispo de Roma de 19 de abril de 2005 a 28 de fevereiro de 2013, quando oficializou sua abdicação. Desde sua renúncia é Bispo Emérito da Diocese de Roma – Wikipédia].
Saiba mais sobre o tenor paraense Atalla Ayan (“A carreira de sucesso de Atalla Ayan, o tenor paraense” – O Liberal, Belém-PA, 04.09.2021):
Em 09 de março de 2008, músicas de três gerações da família Fonseca, de Santarém (PA), foram executadas no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo, no Projeto Música no Museu, pelo “Trio D’Amore“, integrado por Andréa Campos (violino), Flávio Geraldini (violino) e Tânia Campos (viola). Andréa e Tânia são bisnetas de José Agostinho da Fonseca, meu avô paterno. Flávio é casado com Andréa, irmã de Tânia, falecida em 2007. Os laços familiares do grupo – que justifica o nome do trio – também se estendem ao repertório escolhido para o concerto “Música Familiar Brasileira“, dedicado aos compositores José Agostinho da Fonseca (bisavô), Wilson Fonseca (tio-avô) e Vicente Fonseca (tio-primo). Todos os arranjos para trio de cordas foram escritos por mim. O Pianista e Maestro João Carlos Martins abordou comentários durante a apresentação.
Em 21 de agosto de 2008 foi realizado um concerto no Auditorio da Torre das Telecomunicaciones de ANTEL, em Montevidéu (Uruguai), em homenagem ao centenário de nascimento da compositora Rachel Peluso (1908-2005), organizado pelo Maestro e Pianista uruguaio Júlio César Huertas Scelza, com participação dos barítonos Eduardo Garella (uruguaio) e Ulrich Schrader (alemão, radicado no Uruguai), sob os auspícios da Embaixada do Brasil no Uruguai e do Instituto Cultural Uruguaio Brasileiro. No concerto, músicas de Rachel Peluso e obras escritas em sua homenagem, como a valsa Rachelina (José Agostinho da Fonseca; letra: João de Jesus Paes Loureiro), Espera sem fim (Arnaldo Rebello) e as Valsas Santarenas nºs. 39 e 41, de minha autoria, peças tocadas em primeira audição mundial e dedicadas à homenageada e sua à irmã Gioconda Peluso, soprano, ambas santarenas, que foram minhas professoras no Instituto Musical Padre José Maurício, em São Paulo. Em outubro do mesmo ano, idêntico concerto foi realizado em Rivera (Uruguai) e Santana do Livramento (Rio Grande do Sul, Brasil).
Algumas informações sobre a minha trajetória musical podem ser encontrados nas seguintes obras, tais como:
- Livro Meu Baú Mocorongo (p. 1.571-1.627, volume 6), de Wilson Fonseca, impresso por RR Donnelley Moore (SP) e editado pelo Governo do Estado do Pará (Secretaria Especial de Promoção Social, Secretaria Executiva de Cultura e Secretaria Executiva de Educação), parte do Projeto Nossos Autores, coordenado pelo Sistema Estadual de Bibliotecas Escolares (SIEBE), lançado em Santarém, em 17.11.2006.
- Livro “Música e Músicos do Pará”, 3ª edição (corrigida), Belém: Governo do Estado do Pará/Fundação Cultural do Estado do Pará, 2016, p. 262-263, de autoria de Vicente Salles.
- Livro “Duos para Viola e Violoncelo” – Catálogo de obras dos séculos XX e XXI e a construção da sonoridade do duo na interpretação, de Larissa Natália Ferreira de Mattos (fruto de pesquisa de Mestrado – Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais, sob orientação do Prof. Dr. Carlos Aleixo dos Reis, em 2016), Jundiaí (SP): Paco Editorial, 1ª edição, 2018. ISBN: 9788546209682. Obras de minha autoria: Valsa Santarena nº 17; Olhando o Ocaso nº 2; Sonatina para Viola e Violoncelo; Valsa Santarena nº 84 e Contraponteando (Duos para Viola e Violoncelo).
Enfim, quando estudante universitário, eu morei na Casa da Juventude, dirigida pelo Padre Raul Tavares de Sousa, natural de Alenquer, mas com raízes familiares em minha terra natal, Santarém, onde ele residiu na juventude. O religioso fora aluno de violino, de meu pai (Wilson Fonseca), quando jovem, na “Pérola do Tapajós”. Era ali na “CAJU” que os jovens se encontravam para a troca de idéias culturais e científicas, tão importantes para a nossa formação humanística e espiritual. Foram lições indeléveis para a vida inteira. Fico feliz de saber que a história da Casa da Juventude prossegue por várias gerações, graças à extraordinária liderança do amigo Padre Raul.
Em meados de setembro de 2021, tivemos duas boas notícias, que nos foram transmitidas pelo Dr. Luís Roberto Von Stecher Trench, idealizador, fundador e Presidente da Academia de Musicologia do Brasil, sediada no Rio de Janeiro.
A Academia de Musicologia do Brasil decidiu outorgar, tanto para o meu pai Wilson Fonseca (Maestro Isoca), “in memoriam“, como também para mim, o Título de Doctor Honoris Causa.
No meu caso, a indicação para receber o Título de Doctor Honoris Causa da Academia de Musicologia do Brasil foi aprovada, por unanimidade, por uma Banca composta pelos Acadêmicos e Conselheiros Perpétuos da Academia, Amaral Vieira (Compositor, Pianista, Musicólogo e Professor), Valter Trevisan (Pianista, Maestro, Mestre e Coordenador Pedagógico da Universidade do Oeste Paulista – UNOESTE, aposentado) e Luis Roberto Trench (Crítico, Ensaísta, Musicólogo, Conferencista, Consultor do Governo de São Paulo).
Meu genitor, Wilson Fonseca (Maestro Isoca), foi indicado pelo Presidente da Academia de Musicologia do Brasil, para o Título de Doutor Honoris Causa “in memoriam“, tal como ocorre com importantes personalidades, já falecidas, no âmbito da Musicologia Brasileira e Internacional.
Wilson Fonseca é um dos três Patronos Oficiais da Academia de Musicologia do Brasil, ao lado dos musicólogos Vasco Mariz e José Cândido de Andrade Muricy, além de ter recebido o grau de Chanceler Magno “in memoriam” da mesma entidade acadêmica, tendo por Patrono o Diplomata e Poeta Vinícius de Moraes.
Eu sou membro efetivo e vitalício da Academia de Musicologia do Brasil, Titular da Cadeira nº 26, cujo Patrono é Wilson Fonseca, meu genitor.
Também exerço, nessa Academia, o cargo Vice-Presidente, Conselheiro Perpétuo (Patrono: musicólogo paraense Vicente Salles – Cadeira nº 20) e ocupo a Cátedra Especial de Chanceler (Patrono: Diplomata Alexandre de Gusmão).
A pedido do Dr. Luís Roberto Trench, Presidente da AMUB, compus o “Hino da Academia de Musicologia do Brasil”, bem como o “Hino a Vasco Mariz” e o “Hino a Wilson Fonseca” (dois dos Patronos Oficiais da entidade), além dos Hinos da Academia de Música do Brasil, da Academia de Música do Rio de Janeiro e da Academia de Música de São Paulo, bem como os Hinos a Villa-Lobos, a Carlos Gomes e a Guerra-Peixe, Patronos Oficiais da Academia de Música do Brasil, igualmente a pedido do Confrade Luís Roberto Trench.
Tal como se manifestou o Presidente da AMUB, nos convites oficiais para a comunicação de outorga dos Títulos, “a tradição do Doutorado Honoris Causa (Doutorado Honorífico) remonta à Idade Média, quando as Universidades foram criadas e esquematizadas pelo poder Católico Romano. As Academias – de origem grega, Akademos, jardim-escola (origem epicurista) onde Sábios, a exemplo de Sócrates e Platão, ensinavam a seus discípulos – sendo muito mais antigas, com o passar dos séculos transformaram sua conotação sob a influência européia, notadamente através dos Reis Luíses de França. Ganharam depois conotação mais elevada, reaproximando-se do ideal grego (consequência do Neoclassicismo) como panteão meritocrático dos grandes e imortais valores da Cultura, da Filosofia, da Ciência e das Artes”.
Em mensagem que me remeteu, o Presidente da Academia de Musicologia do Brasil, Dr. Luís Roberto Trench, assim se pronunciou:
“Sei que fiz simplesmente Justiça. Em todos os Convites.
Porém mormente na indicação dos dois Doutorados Honoris Causa pela AMUB – merecidíssimos.
Em ambos os casos – no seu e no caso de seu ilustre Progenitor – vocês estão quilômetros à frente de diversos (quiçá muitos) Doutores em Musicologia que pessoalmente conheço e os acompanho.
Sinto grande prazer – diria felicidade – em promover Justiça, nada mais – em iniciativas congêneres direcionadas a Vultos tão Extraordinários, como vocês”.
Em nome de nossa família e em meu próprio nome, estamos muito honrados com a concessão dos Títulos de Doctor Honoris Causa para o meu saudoso pai, in memoriam, e para mim, outorgados pela Academia de Musicologia do Brasil.
Estou certo de que o galardão em memória de meu genitor, nascido em 1912 em Santarém e falecido em 2002, em Belém, é o reconhecimento de suas atividades como escritor, pesquisador, poeta, pianista, organista, saxofonista, maestro, compositor, historiador, memorialista, folclorista, professor, multi-instrumentista, que muito contribuiu para a arte, a cultura e a história da “Pérola do Tapajós”, do Pará e do Brasil. Na verdade, um verdadeiro gênio.
Quanto a mim, recebo o honroso Título como um incentivo para continuar o meu prazeroso ofício de compositor e pesquisador da Arte de Euterpe (música), como é o caso do livro biográfico que escrevi, “A Vida e a Obra de Wilson Fonseca (Maestro Isoca)”, em homenagem ao centenário de nascimento de meu genitor, impresso na Gráfica do Banco do Brasil, Rio de Janeiro (2012).
[1] “Praça da Matriz” foi gravada pelo cantor Ray Brito e o Conjunto Os Hippies (dirigido por Odilson Matos), onde tocava o meu irmão José Agostinho da Fonseca Neto (Tinho): LP “Canção de Minha Saudade”, lado A, faixa 5 (1980). A música tornou-se muito conhecida em Santarém. Wilson Fonseca elaborou um arranjo, tocado pela Banda (atual Filarmônica) Municipal Prof. Agostinho. Desse arranjo sobraram apenas as partes individuais de alguns instrumentos, segundo me disse o primo João Paulo Santos da Fonseca, filho de Wilde Fonseca (tio Dororó), atual dirigente da Filarmônica. Fiz então outro arranjo para orquestra, inédito. Elaborei diversos arranjos para a música, um deles gravado em CD (vol. 2) pelo Coral da FIT-Faculdades Integradas do Tapajós, sob regência da maestrina Ádrea Taiana Figueira Lopes. No dia 22 de junho de 2009, por ocasião dos 348 anos da fundação da Pérola do Tapajós, como parte integrante da programação do Projeto Produção de Réplicas e Catalogação dos Prédios Históricos da cidade, realizado pelas Faculdades Integradas do Tapajós, foi lançada a revista Patrimônio Histórico e Arquitetônico de Santarém e afixada uma placa, na Praça da Matriz, que contém a partitura musical da “Praça da Matriz“, cantada pelo Coral da FIT. Não pude ir a Santarém, mas enviei um texto de agradecimento. Na verdade, a obra musical constitui homenagem do poeta e do compositor à secular Praça da Matriz de Santarém. Emir Bemerguy, falecido em 2012, ex-confrade na Academia de Letras e Artes de Santarém, é meu parceiro em 18 obras musicais (julho/2021), como autor de belos textos poéticos.
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