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Neste 21 de junho de 2025, Joaquim Maria Machado de Assis, um dos maiores gênios da literatura mundial — negro, pobre, autodidata e crítico profundo da sociedade brasileira -, completaria 186 anos.

Nascido em uma chácara no morro do Livramento, no Rio de Janeiro, em 1839, onde seu avô foi escravo, foi batizado pela dona da casa, Maria José de Mendonça Barroso, e lá ele aprendeu a ler. Filho de um pintor de paredes descendente de negros alforriados e de uma lavadeira açoriana, Machado desde cedo foi exposto ao racismo e à extrema desigualdade que até hoje persistem no Brasil.

Autor de dez romances, mais de duzentos contos, crônicas, peças teatrais e sonetos, Machado inaugurou o realismo brasileiro com Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), em que um defunto-narrador escancara a vaidade das elites e os vícios da sociedade imperial. Essa crítica se aprofunda em obras como Quincas Borba e Dom Casmurro, em que o autor expõe o egoísmo burguês, o patriarcalismo e a opressão social com sofisticação narrativa e análise psicológica inovadora.

Machado fez uma das primeiras traduções do conto O Corvo, de Edgar Allan Poe. Falava francês e também traduziu Os Trabalhadores do Mar, de Victor Hugo.

Foi apelidado pelos vizinhos de “Bruxo do Cosme Velho”, pois teria queimado cartas em um caldeirão em sua casa, que ficava na Rua Cosme Velho, no Rio. Mas o apelido só pegou quando o poeta Carlos Drummond de Andrade compôs A um bruxo, com amor, em sua homenagem.

No livro Anjo Rafael, Machado de Assis previu a existência da doença mental folie à deux (delírio a dois) antes de ela ser descrita. A obra conta a história de uma filha que é “contagiada” pela loucura do pai, enlouquecendo também. Anos depois da publicação, o mal foi descoberto por pesquisadores. Como se não bastasse, ele também descobriu a cura para a doença: afastar a pessoa saudável de quem tem o problema.

Era enxadrista e participou do primeiro campeonato brasileiro do esporte mental, ficando em terceiro lugar. As peças que utilizou estão expostas até hoje na Academia Brasileira de Letras, que ele fundou e da qual foi o primeiro presidente.

Casado durante 35 anos com Carolina, quatro anos mais velha, não tiveram filhos. Com a morte dela, sofreu profunda depressão e escreveu para o amigo Joaquim Nabuco: “Foi-se a melhor parte da minha vida, e aqui estou só no mundo”.

Apesar do silenciamento de sua negritude por décadas — inclusive por parte da crítica literária tradicional —, Machado é celebrado como o maior escritor negro da história da literatura. Sua vida e obra são símbolos da resistência intelectual negra e da capacidade de subverter, com palavras afiadas, as estruturas de poder racistas. Sua genialidade segue viva, nos livros e como referência política, cultural e histórica.

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