Já se vão mais de 20 anos quando foi realizada a última pesquisa domiciliar que levantou os padrões de deslocamento de pessoas na Região Metropolitana de BelémRMB, na época, saltaram aos olhos o percentual de 7%, na participação do modo cicloviário, acrescendo cerca de 2% em relação a mesma pesquisa realizada dez anos antes.
Estávamos no início dos anos 2000 e naquele momento, já existia um debate sobre as vantagens e as possibilidades da utilização desse modal em cidades brasileiras, como alternativa de transporte para grande parte de sua população, principalmente se considerarmos as características sócio econômicas e de relevo predominantes na RMB.
A necessidade de realizar deslocamentos diários na cidade pós revolução industrial atinge a praticamente todos os seus habitantes e dentre estes, certamente existem muitos que se identificam com a bicicleta como alternativa desejada, seja porque é mais econômico, ou mais prático, ou mais saudável, ou mais agradável, ou até tudo isso junto.
Apesar de todas essas condições favoráveis ao uso da bicicleta, ainda convivemos com sérios desafios para o uso da bicicleta por parte de nossa população e para não ficar no “achismo”, vou novamente me utilizar daquela mesma pesquisa, para refutar a impressão de que o nosso clima é o principal obstáculo ao uso de bicicletas. Naquele momento, também foi aplicado um questionário de opinião aos usuários de bicicleta para saber quais as maiores adversidades eles enfrentavam nos seus deslocamentos diários e apenas 2,2% deles, disseram ser as condições climáticas, relacionando todas as suas adversidades (calor intenso e chuvas frequentes).
Em contraponto, a falta de segurança no trânsito, respondia por 54,7 % das opiniões dos entrevistados na mesma pesquisa, fazendo acreditar ser este o dado mais decisivo para entender, porque não vemos maior quantidade de bicicletas nas ruas, avenidas e rodovias da RMB, já que estamos numa região plana e com uma grande parcela de sua população pobre.
Sim, tenho a certeza que a violência do trânsito é o principal fator que inibe a utilização maciça da bicicleta por um grande contingente de nossa população, restando para aqueles mais corajosos, ou aos que não tem outra alternativa, o desafio diário do enfrentamento dessa guerra, completamente desprotegidos. Nos últimos dez dias dois perfis diferentes de usuários de bicicleta fizeram parte da triste estatística e como, quase sempre, pagaram com a própria vida o preço desse desfio.
As minhas fotos aqui apresentadas ilustram a importância deste modal, principalmente para a população mais carente que o utiliza em deslocamentos diários como meio de transporte, individual e coletivo, como ferramenta de trabalho e de transporte de carga, diariamente, quer chova quer faça sol.
A melhoria das condições de circulação de bicicleta requer a ampliação da malha cicloviária e recuperação das vias já existentes, dando continuidade aos segmentos já implantados e criando novos corredores em artérias de grande demanda, tais intervenções podem ser implementadas em locais atualmente utilizados como estacionamento na lateral da grande maioria das vias, ou mesmo com a circulação compartilhada nas vias mais estreitas do Centro de Belém.
Nesses corredores, é fundamental implementar sinalização ostensiva de regulamentação e de advertência, além de mecanismos de controle de velocidade veicular como forma de inibir os excessos, reduzindo o número de acidentes e a sua severidade.
Toda esta ação deve vir acompanhada de uma forte campanha de esclarecimento da importância da utilização da bicicleta como alternativa de transporte urbano e de educação do trânsito, visando fomentar o seu uso e valorizando aqueles que já o fazem, mesmo em condições precárias.
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