O Uruá-Tapera foi concebido por mim em 1991 como um filho. Lembro que até o desenhei, como impresso, em oito páginas. Na época pensei nele como um jornal regional, porque os grandes praticamente só davam notícia da capital. E eu queria fazer diferente. Nascida em Santarém do Pará, já morava há 11 anos em Belém, mas optei por fundá-lo em Oriximiná, terra natal de minha mãe, onde moravam dois irmãos, o Chico e o Valdo, este também jornalista, que toparam me ajudar. E adotei um nome indígena para celebrar as raízes brasileiras.
Em dezembro daquele ano tudo começou. De lá para cá muitas mudanças aconteceram. Com o advento da internet, o jornal evoluiu, deixou de ser impresso e passou a ser veiculado, no mesmo formato standard, no site. Criei então o blog e páginas nas redes sociais. Hoje, o Uruá-Tapera virou portal jornalístico com revista eletrônica, blog, colunas, editorias com espaço aberto a articulistas e cronistas com formação diversa de jornalismo, agenda cultural e programa de entrevista audiovisual, de modo a estimular a pluralidade de ideias, a leitura e o pensamento crítico. E tenho a minha filha, Gabriella Florenzano, como sócia e editora adjunta. Ela engatinhou no Jornalismo pelo Uruá-Tapera, me acompanhando pela redação, ainda criança, observando todas as fases, inclusive a industrial e a distribuição. Vivia comigo o estresse da notícia, a urgência na edição e impressão. Dizia que não queria isso para si, porque sabia que jornalista não tem horário, deve estar pronta na hora em que acontece a notícia. Mas – ironia do destino – sua primeira graduação foi justamente Comunicação Social. Estagiou em assessoria de imprensa e enveredou como colunista em revistas. Paralelamente às suas atividades artísticas e acadêmicas no Canto Lírico e Cinema, experimentos gastronômicos e esportivos, Gabriella continua minha parceira nas aventuras do Uruá-Tapera.
Lembro que cuidei de, antes de tudo, criar a pessoa jurídica, fazer o devido registro em cartório. Quando fui registrar o jornal no Sinjor-PA, o então presidente, o saudoso jornalista Raimundo Pinto, compadecido ao me ver sonhar alto, me aconselhou a não gastar dinheiro com o registro antes de funcionar pelo menos seis meses. Ante a minha insistência em legalizar totalmente a iniciativa, temerosa de alguma represália – a Lei de Imprensa, criada durante a ditadura, considerava clandestina qualquer publicação à qual faltasse um dos registros obrigatórios -, ele me explicou que dezenas de jornalistas já tinham tentado mas não conseguiam ir adiante e ainda ficavam com dívidas. Garantiu que não havia perigo nesse prazo. Combinamos assim e eu, seis meses depois, com incontida alegria, fui ao Sindicato providenciar o registro do Uruá-Tapera. E cá estamos, quase trinta anos depois, apesar dos muitos – e duros – percalços.
O jornalismo tem sempre histórias nos bastidores. Relato isso para que os leitores saibam do esforço empenhado em cada matéria. O jornalismo independente exige dedicação, paciência, cuidado e coragem. Os desafios permanecem e são cada vez maiores do que em dezembro de 1991, quando foi lançada a primeira edição do Uruá-Tapera.
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