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Gostaria que jovens jornalistas soubessem da vida e dos trabalhos de Tarso de Castro. Fui conhece-lo ali nos anos 70, quando iniciava minha carreira e já era viciado na leitura dos jornais do Rio e São Paulo. Tarso foi como esses cavalos de corrida que dão tudo a todo instante e mesmo sabendo que o fim se aproxima, continuam e até aumentam o ritmo. Otto Lara Resende, como um necrológio escreveu “Tinha um pacto de felicidade com a vida. Pouco importava que a vida não cumprisse a sua parte. A vida jogada fora, num gesto de desdém e de rebeldia”.

Nasceu em Passo Fundo, RGS. Seu pai era dono de jornal. Aos 15 anos já era o editor chefe. Apaixonado por Brizola, foi para Porto Alegre onde é encontrado, junto a outros malucos, armado, no Palácio do Governo, pronto a defender o caudilho do ataque do exército nacional. Já vamos encontra-lo no Rio de Janeiro, mais carioca que nunca, cercado pela “intelligentsia” local, combatendo Lacerda e Getúlio no Última Hora e em seguida, de leve, criou o “Pasquim”, publicação lendária com suas entrevistas bombásticas, como a de Leila Diniz, musa da época que distribuía palavrões e amor livre, para choque dos conservadores. Brigava com Millor Fernandes e Ziraldo. Foram todos presos. As vendas foram caindo e fim. Agora estava em São Paulo escrevendo na Folha, que passara por uma reformulação gráfica. Eu já lia e me deliciava com o Pasquim e agora ele estava na Folha, onde inventou um suplemento dominical chamado “Folhetim”. Bonito, fazia uma lista chamada “Jáco”, indicando suas conquistas. E foram as mais bonitas mulheres daquele tempo. Todas. Inclusive a atriz Candice Bergen, sem falar uma palavra de inglês. Descartou-a e ela ficou triste. Chegou a vir ao Brasil de surpresa e nem tchuns. Fazia ponto em restaurantes famosos no Rio e SP. Comandava mesas enormes, onde os mais importantes escritores e jornalistas se chegavam.

Mas o fígado reclamou. Ele nem tchuns. Na oitava hemorragia, partiu. O que ele tinha de melhor era o talento para reunir talentos à sua volta, uma inventiva jornalística para perceber o furo e uma linguagem ferina, criativa, bem humorada, que encantava a todos. Se você é jornalista ou gosta de histórias de talento, leia este livro de Tom Cardoso.

Edyr Augusto Proença
Paraense, escritor, começou a escrever aos 16 anos. Escreveu livros de poesia, teatro, crônicas, contos e romances, estes últimos, lançados nacionalmente pela Editora Boitempo e na França, pela Editions Asphalte. Foto: Ronaldo Rosa

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