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Um programa de debate discute sobre amizade e me fez pensar. Amigos? Melhores amigos? Colegas? Conhecidos? Apesar da timidez, fiz um grande círculo de amigos ao longo da vida. É claro que adiante, faço uma triagem e fico com alguns poucos que são aqueles mais próximos, pelos mais diversos motivos. Meus pais foram meus amigos. Com eles tive grandes e frutíferas conversas. Meu pai, em seus últimos anos de vida passava quase diariamente em meu escritório para bater papo. Podiam ser assuntos leves ou importantes. Era um sábio, como minha mãe e sua imaginação a me encher de possibilidades. Meus irmãos também são meus amigos. Estamos todos sempre unidos, nos problemas e nas alegrias. Há algo que considero de grande importância na amizade, que é a admiração e o respeito. Creio que isso vale também para as relações amorosas. Temos opiniões diferentes sobre vários temas, mas nos respeitamos, nunca deixando de argumentar uns com os outros, firmando posições. E a admiração pelo trabalho deles, também em permanente discussão otimista. Até entrar no Colégio Nazaré aos dez anos, eu e eles formávamos um clube fechado. Mas agora eu tinha um grupo de amigos, de diversas procedências, mas tendo em comum o gosto pelo futebol e um clube de leitura ao qual comparecemos a convite do Irmão Marista Machado. Foi ali que aprendi até educação sexual, imaginem, por um padre. Era assim, além do aprendizado da rua. Amigos até hoje, com algumas partidas prematuras. Quando nos encontramos, falamos do passado, mantendo carinho, respeito e admiração pela carreira de cada um. Houve um dos amigos, o qual considerava o melhor, porque além das coisas em comum que tínhamos, havia também o interesse por filmes, livros e uma identificação. Estávamos sempre juntos, crianças, adolescentes, primeiros amores, vestibular, ufpa e a vida então foi nos separando, embora, ao encontrarmos, a amizade falasse mais alto. Ele partiu bem cedo e sinto sua falta até hoje. Vieram os trabalhos, a vida, as exigências todas e os filhos. Meus filhos, adultos, são meus amigos. Adoro conversar sério ou leve com eles. Música, livros, cinema, futebol, amores, escolham. E agora há um neto, apaixonante. E veio também a segunda companheira a preencher todos os requisitos, pessoa com sua própria carreira, seus troféus e vitórias e claro, fracassos como todos nós. Nos apoiamos, nos levantamos e seguimos nas batalhas do dia a dia. Com ela veio mais um filho, a quem adoro, meu amigo. Essa fase me trouxe um grupo de amigos do Teatro. Atores, diretores, produtores, músicos, escritores. Somos bem unidos e no mínimo uma vez por semana nos juntamos para falar sobre tudo, inclusive teatro. Isso não me faz preso a eles. Fiz tantas amizades que ainda hoje, posso recorrer, procurar uma delas e ser recebido com o mesmo carinho de sempre. Mas meus dois melhores amigos nem moram em Belém. Às vezes passamos meses sem nos falar. Quando vou ou nas raras vezes em que vêm, separamos tardes inteiras para conversar. Ao longo da vida, percebi que amigos não precisam ter pensamentos iguais ao meu. Seria muito chato. Precisam pensar diferente em vários assuntos. E se há nesses assuntos algo que nos contraria, é melhor evitar. Amigos, falemos daquilo que temos em comum e que nos faz gostar uns dos outros. Isso me custou alguma reflexão, pois à primeira vista parece uma traição, mas não é. E nem diminui a amizade, pelo contrário. Pelo menos um deles é mais genioso e mais de uma vez discordamos gravemente de assuntos, mas ao longo do tempo, tudo volta ao normal. Gosto tanto deles que em momentos assim, sofro sem sua proximidade. Finalmente, me pergunto o quanto sou amigo de mim mesmo. Você já pensou nisso? Feche os olhos e vá no mais profundo do seu eu e pergunte. Eu sou meu amigo. Inseparável.

Edyr Augusto Proença
Paraense, escritor, começou a escrever aos 16 anos. Escreveu livros de poesia, teatro, crônicas, contos e romances, estes últimos, lançados nacionalmente pela Editora Boitempo e na França, pela Editions Asphalte. Foto: Ronaldo Rosa

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