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A Revista Moara, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Pará (UFPA), acaba de lançar chamada de trabalhos para sua 69ª edição, prevista para publicação no primeiro semestre de 2025. O destaque deste número é o dossiê temático intitulado “Benedicto Monteiro: escritor da resistência na Amazônia”, que busca reunir reflexões e análises sobre a obra e o legado de um dos mais importantes escritores paraenses do século XX. A submissão de artigos está aberta até 15 de março de 2025.

O dossiê é parte das celebrações do centenário de nascimento de Benedicto Monteiro, ocorrido em 1º de março de 2024. Nascido em Alenquer, Pará, o escritor, jornalista, advogado e político deixou uma marca indelével na cultura e na história política do Brasil, sobretudo na Amazônia. Monteiro foi uma voz ativa contra o regime militar instaurado no país entre as décadas de 1960 e 1980, sendo preso em 1964 devido à sua militância. Durante seu encarceramento, em condições sub-humanas, ele sofreu torturas e passou por um período de intensa reflexão que moldaria sua produção literária posterior.

Benedicto Monteiro iniciou sua carreira literária ainda na juventude, com o lançamento do livro de poesias Bandeira Branca, em 1945. Contudo, foi após sua prisão que sua obra ganhou maior densidade e alcance, resultando na produção de romances que criticam o autoritarismo, o capitalismo e a violência, além de abordarem questões identitárias e as paisagens sociais e naturais da Amazônia. Destaque especial merece a chamada Tetralogia Amazônica, composta por Verde Vagomundo(1972), O Minossauro (1975), A Terceira Margem (1983) e Aquele Um (1985), que se tornou referência na literatura brasileira pela forma como articula experimentação formal e crítica social.

Além dos romances, Monteiro publicou contos, literatura infantil e obras de não ficção, como História do Pará e Ideias sobre Alfabetização Ecológica: Ecologia e Amazônia. Sua obra reflete um compromisso ético e estético com a região amazônica, evidenciando as complexidades culturais, políticas e ecológicas do território.

Os organizadores do dossiê, Maria de Fátima do Nascimento (UFPA), Tânia Sarmento-Pantoja (UFPA) e Abilio Pachêco de Souza (UNIFESSPA), convidam pesquisadores e pesquisadoras a submeterem artigos que explorem aspectos diversos da obra de Benedicto Monteiro. Serão aceitos textos redigidos em português, inglês, francês ou espanhol, com extensão entre 10 e 25 páginas, incluindo referências e anexos.

Os temas sugeridos incluem (porém não se limitam a) crítica da violência, do autoritarismo e do capitalismo na obra de Monteiro, questões identitárias e culturais no contexto amazônico, representações das paisagens naturais e sociais da Amazônia, a relação entre literatura e política na produção do autor, análises de obras específicas ou do conjunto da produção literária do escritor, a inserção da obra de Monteiro no campo literário brasileiro e/ou latino-americano. Qualquer abordagem teórica será considerada, desde que coerente com o objeto de estudo.

Os interessados devem submeter seus artigos até 15 de março de 2025 através do site oficial da Revista Moara. As normas completas para submissão, incluindo formatação e estrutura dos textos, estão disponíveis na página da revista.

Para o professor Abílio Pacheco de Souza, um dos organizadores do Dossiê, “a publicação de um dossiê dedicado à obra de Benedicto Monteiro, especialmente próxima às comemorações de seu centenário de nascimento (ocorrido no ano passado), é um reconhecimento do trabalho poético, político, literário e humano do escritor. Além da valorização da obra, acreditamos que o dossiê servirá como referência acadêmica, devido aos novos conhecimentos resultantes de pesquisas sobre a obra do autor sob várias perspectivas (literária, sociológica e histórica). A obra de Benedicto Monteiro representa também uma voz poderosa a partir da Amazônia e sobre a Amazônia. Ela se insere em uma leitura da região e dos desafios passados, mas sempre presentes, além de favorecer uma reflexão sobre o futuro da Amazônia. No contexto da COP30, espera-se que o dossiê resulte em novas pesquisas sobre a obra do autor, bem como possibilite reflexões nas mesas de debate sobre a Amazônia.”

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

Doutoranda do NAEA/UFPA na Inglaterra

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