Publicado em: 4 de maio de 2025
Sou, incrivelmente, o segundo mais antigo membro da Academia Paraense de Letras, logo após o querido confrade José Ildone Favacho Soeiro. Para os que gostam de adjetivar as pessoas, sou o vice decano, mas arvoro-me a afirmar que, aos 73 anos de idade, frequento esta Academia há exatos 68 anos. Foi quando entrei na sede provisória da APL, na rua Santo Antônio, altos da antiga Farmácia Cezar Santos, para assistir à posse de meu tio, Eldonor de Magalhães Lima, saudado por Papai. Dali para a frente, nunca mais deixei de frequentar, e, a 22 de agosto de 1986, tornei-me seu sócio efetivo e perpétuo.
Tentarei cumprir minha missão nesta tribuna, sem as qualidades oratórias que a maioria dos confrades possui.
ANO JUBILAR
Hoje, 3 de maio de 2025, vivemos o Jubileu da Esperança, da Igreja Católica Apostólica Romana, e hoje é festejado o Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, o Dia do Sol, e de São Filipe e São Tiago Menor. E nossa Academia Paraense de Letras comemora seus 125 anos de fundação, a terceira mais antiga do Brasil, superada apenas pela Brasileira e pela Cearense.
A Academia foi solenemente instalada em sessão no Teatro da Paz, no domingo 3 de maio de 1900, presidida pelo Governador Paes de Carvalho. Seus principais idealizadores foram Bertoldo Nunes, Domingos Antônio Rayol, o Barão de Guajará, e Francisco Ferreira de Vilhena Alves. Pela Academia discursou Passos de Miranda, e pelo Instituto Histórico e Etnográfico (hoje, Geográfico) do Pará, que foi fundado no mesmo dia, falou Barroso Rebelo.
Era o começo de sua história. E a Academia reunia solenemente no foyer do Teatro da Paz, e fazia sessões inicialmente no auditório da antiga Escola Normal, na Praça da República, passando para a rua Santo Antônio, nos altos da Farmácia Cezar Santos.
Não tinha sede própria e vivia de favor, mesmo após sua reorganização em 1913, em sessão na sede do Ateneu Paraense, quando foi empossada a primeira imortal Guili Furtado. Somente no final do Governo Magalhães Barata, a 29 de janeiro de 1959, ganhou sua primeira sede própria, na rua 13 de Maio, durante a gestão de Ernesto Cruz. De lá, resta a tribuna que utilizamos nas nossas sessões e o prédio está abandonado e ocupado pela vegetação e desconheço o destino das quarenta cadeiras especialmente entalhadas para os Acadêmicos, concebidas pelo competente e saudoso Giullio Topino.
A 7 de setembro de 1976, o Governador Aloysio da Costa Chaves doou à Academia esta atual sede própria, antigo Conservatório de Música e Sociedade Artística Internacional. Papai era o seu Presidente, cargo que ocupou por seis mandatos até falecer em 20 de novembro de 1985.
Esta atual casa tem história para contar e um dia será contada em pormenores, e sobre as lamentáveis e inúmeras investidas de assaltantes que levaram parte de seu patrimônio, inclusive as honrarias que recebeu ao longo da história.
Possuímos nossos símbolos, que identificam, há muitas décadas, esta Academia de Letras. Seu nome e seu distintivo devem ser preservados e não devem ser usados inadequadamente, a ponto de confundir empresas particulares com nosso Silogeu. Nós, Acadêmicos, devemos preservar esses traços exclusivos de identificação e não devemos deles nos apropriar, ainda que com pequenas modificações, a fim de evitar desagradáveis confusões visuais. Isto se chama respeito.
Mas, estas alusões são apenas breves lineamentos que faço pela imperiosa necessidade de não deixar que se assinale a data de hoje como o Jubileu de Esperança da nossa Academia Paraense de Letras.
O PRESIDENTE REELEITO
O presidente reeleito para cumprir seu terceiro biênio na direção desta Casa é, como todos sabemos, o acadêmico Ivanildo Ferreira Alves, ocupante da Cadeira n° 1. O paraense de Maracanã, filho do Sr. João Santa Rosa Alves e de D. Aristel Ferreira Alves, veio para Belém e aqui fez carreira na Polícia Militar do Estado, chegando ao posto de Capitão, e deixou essa força auxiliar para ser vereador e depois deputado estadual, tendo também sido Secretário de Estado da Segurança Pública.
Cursou direito na Universidade da Amazônia (UNAMA) e lá tive a satisfação de conhecê-lo e tê-lo entre meus alunos. Depois fez Mestrado na Universidade Federal do Pará, sendo, hoje, professor das duas universidades, além de possuir curso de oratória, ensinando aos jovens como falar em público. É autor de livros jurídicos, na sua área de conhecimento específico, Direito Penal, além de excelente prosador, com livros de contos e crônicas.
Neste Silogeu, o Presidente Ivanildo ingressou a 31 de agosto de 2001, e, desde 2021, é seu dirigente maior, vindo a imprimir um modelo excelente de recuperação do patrimônio da Academia, demonstrando seu alto tirocínio administrativo.
Dele tenho recolhido singulares provas de consideração, amizade e respeito, razão pela qual lhe sou perenemente grato, e a gratidão é uma das grandes virtudes do ser humano.
Em breves traços, apresento pinceladas da vida e da carreira brilhante do nosso Presidente Ivanildo Ferreira Alves.
AS GESTÕES ANTERIORES
Afora o imperioso festejo do 3 de maio, marca esta sessão a posse do Acadêmico Ivanildo Alves para seu terceiro mandato na Presidência desta Casa.
Ao iniciar sua primeira gestão, recebeu a Academia praticamente destruída. Não pela falta de cuidado de seu antecessor, mas pela efetiva carência de recursos para sua conservação. Parte de seu patrimônio foi roubado, como saqueadas foram suas dependências.
Ivanildo, inúmeras vezes com recursos próprios, foi consertando aqui e acolá. Com o apoio do Acadêmico Leonam Cruz, obteve da Equatorial Energia a refrigeração em seus salões. Pintou este prédio. Deu-lhe vida. Criou o Jardim dos Imortais, apondo mármores com poemas dos Acadêmicos Sarah Rodrigues e José Wilson Fonseca.
Ao longo de sua segunda gestão, internacionalizou a Academia celebrando pacto com a Academia de Letras de Trás-os-Montes, em Portugal. E colocou busto do Barão de Guajará em seu salão principal, que leva seu nome. Restaurou seu piano, de 1917. Criou o Fardão dos Acadêmicos, substituindo uma outra vestimenta de gosto extremamente duvidoso.
E foi além. Em 2024, realizou em Belém o II Encontro Nacional de Academias Estaduais de Letras. Fez a doação do Panteão dos Imortais, no Cemitério de Santa Izabel. Tornou pública a revista digital da Academia aos cuidados da sra. Mei Habib, que precisa ser necessariamente aperfeiçoada observando normas técnicas e com o devido registro.
São algumas das muitas obras que, visão empreendedora, promoveu nesses primeiros quatro anos de dois mandatos.
O QUE VAI VIR
Desconheço concretamente as propostas do Presidente Ivanildo para o biênio que inicia agora. Afinal, serão mais dois anos e certamente dois anos produtivos. Imagino muita coisa, mesmo com a extrema carência de recursos que a Academia sempre possuiu.
Penso, todavia, que é necessário que se retomem os concursos literários previstos em nossas normas internas (estatuto e regimento), e que se incentivem sobretudo os jovens escritores que, futuramente, ocuparão uma das suas quarenta cadeiras.
A revista digital precisa ser aperfeiçoada e as imperfeições, que existem em tudo na vida, devem ser tentadas corrigir. E, se possível, tentarmos voltar a publicar também nossa tradicional revista física.
A biblioteca Acylino de Leão precisa ser reaberta ao público. Seu acervo é precioso e rico em obras de autores regionais, o que a torna diferente das demais.
Nessa linha, sugiro que se faça o renascimento dos arquivos da Academia para o qual doei, este ano, mais de vinte caixas com todo o arquivo pessoal de Papai, reunindo correspondências com intelectuais e políticos brasileiros e estrangeiros e jornais de época, de 1940 a 1985.
Além disso, aproveito este momento para reiterar publicamente a proposta que apresentei no grupo da Academia na internet. Renovo a proposta para a criação do Museu do Carimbó, uma das mais importantes manifestações culturais do Pará. Faça-o a Academia antes que outros se apropriem da sugestão e ganhem a fama que deve ser desta Casa.
ENCERRANDO
Senhor Presidente,
Senhores Acadêmicos,
Senhoras e Senhores,
Já estou me demorando nessa que disse ser uma breve saudação. Irei concluir, mas antes devo agradecer ao Presidente Ivanildo o convite imposto para saudá-lo e aos novos diretores da Academia.
Registro igualmente o significado do dia de hoje quando nosso Silogeu comemora seus 125 anos de fundação. É um momento demasiadamente importante da nossa história e que não podemos nem devemos olvidar.
Assinalo que almejo estejamos diante de um tempo de renovação e de perdão. Passados os momentos de disputa eleitoral, desejo que todos nos unamos pelo nosso patrimônio maior que é esta Academia. Somos poucos. Preenchidas todas as cadeiras, não passamos de quarenta e devemos preservar o espírito cristão que nos aproxima e acalanta.
Por fim, vamos renovar nossas esperanças neste ano jubilar, que os excessos cometidos na campanha eleitoral sejam esquecidos, e que a expectativa pelo sucesso crescente da Academia seja o nosso principal objetivo.
Agradecendo a atenção e a paciência de todos, reitero sucesso nesse terceiro biênio ao confrade Presidente Ivanildo e seus companheiros de diretoria.
Obrigado!
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