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Assim como muitos da minha geração, sou apaixonado por filmes e livros sobre a Segunda Guerra Mundial, passando pela guerra civil na Espanha. Entre os livros que mais gosto estão os escritos por jornalistas, essas figuras que acabam viciadas em adrenalina e basta saberem de algum conflito para convencer donos de jornais a envia-los para o front. Nem todos sobrevivem, é bom dizer. Acabo de ler “Procurando Encrenca”, ótimo título, relatando as peripécias da americana Virginia Cowles, que com seu charme e esperteza, largou uma bem sucedida carreira em revistas de moda, para se meter nos locais mais perigosos do mundo e olha que não estou me referindo a algumas ruas de Belém, à noite. Ela já aparece na Espanha, convivendo com Ernest Hemingway e Martha Gelhorn, dois dos mais famosos por suas aventuras e, sobretudo, pela qualidade de seus informes. Bem penteada, saia e saltos, Virginia ombreava com eles e levou tão a sério, que através de hábeis conversas, não somente esteve no lado republicano, como também no lado dos franquistas, recolhendo informações que passava por telefone ou telegrama para os jornais em que trabalhava. Em seguida, relata todo o momento pré-guerra, no final dos anos 30, com a ascensão de Hitler, o fascismo de Mussolini, entre Berlim e Roma, mais incrível, entrevistando os dois ditadores. Enquanto o alemão era enigmático e mal humorado, Il Duce era metido a conquistador. Virginia não gostou de nenhum dos dois. Em Londres, privava nos finais de semana da companhia de Winston Churchill e Chamberlain, este último, o grande enganado por esperar até o fim pelo bom senso do Führer. Descreve cenas deliciosas e humores das grandes cidades à espera dos primeiros ataques. Virginia esteve nos Sudetos e viu o início de tudo. Depois já estava na Finlandia, atacada pela Russia e assistiu a revolta dos finlandeses pela capitulação do governo. Seu exercito, formado basicamente por camponeses, lenhadores, gente comum, liquidou hordas de russos aproveitando um cenário nevado, com temperaturas de até -46 graus. Há algumas aventuras, riscos reais, mas Virginia sempre venceu com sua inteligência. Por fim, esteve nos dias que antecederam a invasão de Paris, com o povo escondido ou fugindo e a crença que a Linha Maginot deteria os boches. Virginia andava pela cidade com as ruas vazias, em companhia de colegas jornalistas até que em uma longa viagem, conseguiu chegar a Bordeaux, serpenteando por estradas vicinais, protegendo-se dos raids de aviões alemães, embarcando em um navio para retornar a Londres, onde agora assistiu aos primeiros ataques alemães bombardeando a velha Albion. O livro termina com uma longa reflexão sobre homens destruindo homens, países, civilização, enfim, esta lástima que em pleno século XXI continuamos a enfrentar. O estilo de Virginia é fluido, leve, simpático, fácil de ler. Ela não se perde em digressões sobre cenas dantescas e sangue. Mas percebemos o humor daquele tempo, erros e acertos, e Churchill animando os ingleses a não desistir. A verdade que até hoje, a Grã Bretanha nunca foi invadida. Recomendo. Lançamento da Record.

Edyr Augusto Proença
Paraense, escritor, começou a escrever aos 16 anos. Escreveu livros de poesia, teatro, crônicas, contos e romances, estes últimos, lançados nacionalmente pela Editora Boitempo e na França, pela Editions Asphalte. Foto: Ronaldo Rosa

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