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Ao sancionar a Lei nº 8.017, de 27 de junho de 2014, que declara e reconhece como de utilidade pública para o Estado do Pará, a Associação de Pais e Amigos da Escola de Música “Maestro Wilson Fonseca” do Município de Santarém (PA), o Governador Simão Jatene permitiu a assinatura de convênio da entidade com a Fundação Carlos Gomes, em Belém (PA) para a instalação do Curso Cordas (Violino, Viola, Violoncelo e Contrabaixo) no Instituto “Maestro Wilson Fonseca”, que possibilitará a ampliação de suas atividades, além da formação da Orquestra de Cordas e da Orquestra Sinfônica “Maestro Wilson Fonseca”, conforme anuncia o Maestro José Agostinho da Fonseca Neto, Diretor do Instituto, onde se desenvolvem cursos de música, teatro e dança, na “Pérola do Tapajós”.
O Projeto de Lei nº 299/2014 é de autoria da Deputada Simone Morgado, o que revela a união de forças, supra partidárias, para a concretização da ideia.
Por ocasião dos 50 anos de fundação da Filarmônica Municipal “Prof. José Agostinho”, homenageada em sessão especial na Câmara Municipal de Santarém, em 29.10.2013, escrevi um texto em que lembrei que “na noite de 4 de setembro de 1963, no Cine Teatro ‘Cristo-Rei’, foi realizada a solenidade de inauguração oficial e a apresentação da ‘Banda Professor José Agostinho’, sob a direção dos irmãos Wilson (Isoca) e Wilde (Dororó) Fonseca, com a colaboração dos sargentos do Exército João de Deus Damasceno e Raimundo Bittencourt, do Tiro de Guerra 190, e apoio de Everaldo Martins, Prefeito Municipal de Santarém”.
No mesmo artigo, assinalei que “com o falecimento de Isoca (2002), Dororó (2010) e Bazinho (2011), a Filarmônica passou a ser dirigida pelo Maestro João Paulo Santos Fonseca, meu primo, neto de José Agostinho da Fonseca, filho de meu tio Wilde Fonseca e Madalena Santos Fonseca (que integrou o conjunto tocando pratos). Na tradição da família Fonseca, os irmãos do Maestro João Paulo (José Wilde, Agostinho e Benedito) também foram membros da Filarmônica. Hoje, ainda permanece, no naipe de saxofone-alto, o primogênito José Wilde. Do mesmo modo, atuaram, nas décadas de 60 e 70 do século passado, meus irmãos José Wilson (sax-horn, sax-alto, trompete e trombone) e José Agostinho Neto (clarinete e percussão). Eu toquei sax-horn e barítono (espécie de eufônio)”.

E concluí aquele texto com estas palavras:
“Lembro-me de que, já magistrado trabalhista, atuei ao lado de pessoas muito simples, operários, carpinteiro, feirante, tratorista, alfaiate, pedreiro. Mas ali não estávamos investidos em cargo público de elevada hierarquia e, sim, como integrantes de uma banda de música, cada qual com o seu instrumento musical, no mesmo nível, sob a batuta do maestro (meu pai Wilson Fonseca ou meu tio Wilde Fonseca). O mesmo se pode dizer dos corais que eles dirigiram.
Assim, a banda de música ou o coral, além de funcionar como autêntico ‘conservatório popular’, à falta de escolas que proporcionassem formação acadêmica, permite o tratamento democrático, sem distinção de raça, credo ou profissão, pois todos ali são simplesmente músicos, pioneiros, amadores e idealistas, jovens e idosos, sem conflito de gerações ou diferença de status social. Os tempos atuais são outros, com escolas oficiais de música, na cidade”.
De fato, atualmente a Escola de Música da Filarmônica Municipal “Prof. José Agostinho” oferece Curso de Cordas, que subsidia a Orquestra Filarmônica de Santarém, igualmente dirigida pelo Maestro João Paulo Santos Fonseca.
Por sua vez, o Instituto Maestro Wilson Fonseca nasceu com a expansão das atividades da Escola de Música “Maestro Wilson Fonseca”. Esta Escola foi fundada em 02 de agosto de 1993 pela então Superintendente da Fundação Carlos Gomes, Prof.ª Glória Caputo, e o Maestro José Agostinho da Fonseca Neto, seu atual Diretor, desde a fundação. Há 20 anos desenvolve as suas atividades, que hoje alcançam não apenas a música, como também os cursos de dança e teatro.
Todavia, é preciso destacar, com ênfase, que Santarém já contava com excelentes orquestras pelo menos desde o início do século XX.
Em outro artigo, intitulado “Theatro Victória – um sonho”, escrevi:
“Em 5 de maio de 1895 foi assentada a pedra fundamental do edifício do Theatro Victória de Santarém, pelos sócios do Clube Dramático, com a presença da população, autoridades e banda de música. A obra, projetada pelo engenheiro francês Maurice Blaise, foi construída na atual Praça Rodrigues dos Santos, em 13 meses, com recurso exclusivamente particular, sem qualquer verba pública. Em 28 de junho de 1896 era inaugurado o Theatro Victória. Em toda a Amazônia havia apenas três teatros de grande envergadura: o Theatro da Paz, em Belém; o Amazonas, em Manaus; e o Victória, em Santarém.
No teatro atuaram diversas companhias, artistas célebres da época e atores internacionais que estiveram em Belém e Manaus.
Nele atuaram também meu avô José Agostinho da Fonseca e meu pai Wilson Fonseca. Meu avô compôs músicas de várias peças encenadas no teatro: EU VOU TELEGRAFAR (libreto: Felisbelo Sussuarana) e A CRISE (libreto: Alfredo Ladislau); e maxixe Theatro Victória, gravado no CD Sinfonia Amazônica (vol. 2, 2002), pela Orquestra Jovem Maestro Wilson Fonseca. Ele atuou ainda como ator e maestro de orquestra.
Meu pai também compôs músicas de peças encenadas no teatro: CADÊ NHÁ CULARINDA? (libreto: Paulo Rodrigues dos Santos) e OLHO DE BOTO (libreto: Felisbelo Sussuarana). Isoca atuou como pianista, ao tempo do cinema mudo, no Cinema Victória, que funcionava no mesmo teatro, e ali criou a sua primeira composição, a valsa Beatrice (1931).
Destaque também merece Joaquim Toscano, diretor e cantor”.
Como se vê, a tradição musical e artística da “Pérola do Tapajós”, que neste ano completa 353 anos de fundação, é mais do que secular.
Meu tio Wilmar Dias da Fonseca, no livro “José Agostinho da Fonseca: O Músico-Poeta” – Belém/Santarém: Imprensa Oficial do Estado do Pará, 1978, registra (páginas 37/38):
“Em Santarém, na época [início do século XX], além da vida mundana, como já vimos, ativa, florescia uma vida cultural relativamente intensa, notadamente a teatral, poética e jornalística. Ressentia-se, entretanto, de elementos capazes de ativar e dar melhor feição à arte de Euterpe [música] que, ao contrário das outras, se achava em precárias condições. E foi por isso que Antônio Braga convidou José Agostinho para fixar-se na cidade.
A seguir, já em 1908, [José Agostinho da Fonseca] criou pequena orquestra composta de oito figuras – uma clarineta, ele próprio, duas flautas, dois violinos, um celo [violoncelo], um contrabaixo de cordas e piano – destinada a bailes e à realização de concertos. Essa pequena orquestra, já em 1912 denominada ‘Sustenidos & Bemóis’, era formada de elementos em que maioria criados por ele, pois tendo encontrado em Santarém somente músicos pertencentes ou que haviam pertencido a diferentes bandas de música, e uns poucos diletantes que arranhavam um ou outro instrumento de cordas, precisou criar as figuras até então inexistentes e indispensáveis à formação da orquestra por ele idealizada e organizada. Pois conhecendo teoricamente a quase todos instrumentos, e visando à formação do conjunto, lançou-se à tarefa de ensinar instrumentos de pau e corda, além daqueles, de sopro e percussão, destinados à filarmônica, posto que os jovens, que se entusiasmaram pela arte, interessavam-se uns pela banda de música ‘Sete de Setembro’ e outros pela orquestra do ‘Grêmio Antônio Braga’, a primeira, que antecedeu ‘Sustenidos & Bemóis’”.
Mais adiante, ao comentar sobre o papel do Professor José Agostinho da Fonseca, seu filho Wilmar Dias da Fonseca, na mesma obra (p. 44), relaciona alguns músicos executantes de Violino (o mais tradicional instrumento de Cordas), em Santarém, naquela época: Laurimar Amazonas Corrêa, Firmo Sirotheau, Iracema Sirotheau, Antônio Anselmo de Oliveira e Adalberto Gonçalves Gentil. E acrescenta: “Laurimar tocou na sua [de José Agostinho da Fonseca] última orquestra de câmara, nos Assembleia e Euterpe Jazz e quarteto Vitória, ao tempo do cinema mudo. Exibiu-se em Belém, Manaus e Rio de Janeiro, onde faleceu. Firmo [Sirotheau] o substituiu no Conjunto do [Teatro] Vitória e Antônio Anselmo e Adalberto tocaram no Euterpe-Jazz e no quarteto quando em ação no Cine Olímpia. Todos participaram de lítero-musicais da terra”.
A Orquestra Euterpe Jazz atuou em Santarém de 1930 a 1953.
Quanto às orquestras criadas e dirigidas por José Agostinho da Fonseca, acentua Wilmar Fonseca, na biografia sobre seu pai, meu avô:
“As Orquestras de Câmara e José Agostinho devem ser entendidas tendo-se em vista o tempo em que foram organizadas e o meio para o qual se destinaram. As dificuldades eram imensas, notadamente à falta de instrumentos musicais adequados, carentes na época. Apesar disso, ‘Sustenidos & Bemóis’ e ‘Tapajós’ foram boas orquestras e equilibradas: três violinos, três flautas, pistão [trompete], contrabaixo, celo [violoncelo], clarineta e piano. E seu quarteto – piano, violino, flauta e contrabaixo – nada ficava a dever àqueles que deliciaram os habitués dos cinemas das grandes capitais – dizia-se.
Com referência ao ‘Euterpe-Jazz’, aquelas dificuldades inexistiam. O instrumental era apropriado, novo, moderno – dois saxofones (mib e sib), dois trombones (de vara e de pistão), dois trompetes, dois banjos tenores, piano, violino, clarineta, contrabaixo e bateria. Teve fama, foi respeitado e tido como um dos melhores da Amazônia. Capiba [Lourenço da Fonseca Barbosa], o renomado compositor pernambucano, em excursão pelo Norte, em 1933, com o seu excelente ‘Jazz Acadêmico’, ao passar por Santarém, ouviu-o num baile no Teatro Vitória, no qual os dois conjuntos alternavam-se, e considerou o ‘Euterpe Jazz’ como ‘o melhor de toda a Amazônia’” (p. 47).
Essas informações são confirmadas pelo musicólogo paraense Vicente Salles, em seu livro Sociedades de Euterpe (As Bandas de Música no Grão-Pará). Brasília: Edição do Autor, 1985, especialmente nas páginas 193/197, nas abordagens sobre as atividades de José Agostinho da Fonseca como professor e dirigente de orquestras em Santarém.
Vicente Salles ainda se reporta ao violinista, compositor e regente, Isaías Oliveira da Paz (1887-1965), que nasceu em Santarém e estudou e, depois, residiu em Belém (Música e Músicos do Pará. Belém: Conselho Estadual de Cultura, Coleção “Cultura Paraense”, Série “Theodoro Braga”, 1970, p. 220).
José Agostinho da Fonseca estudou no Instituto de Educandos e Artífices do Pará (Instituto Lauro Sodré), em Belém. Tocava clarinete, saxofone, piano e contrabaixo. Estudou ainda com o Maestro Paulino Chaves (que teve educação musical na Alemanha), inclusive instrumentos de cordas.
Se é verdade que Santarém já contava com orquestras, sobretudo criadas e dirigidas por José Agostinho da Fonseca (1886-1945), desde o início do século XX, no ano 1948 Wilson Fonseca – Maestro Isoca (1912-2002) compôs a sua primeira obra musical no gênero sinfônico: “Centenário de Santarém – Abertura Sinfônica”.
No encarte do CD “Wilson Fonseca Centenário”, editado pelo selo Uirapuru – O Canto da Amazônia, da Secretaria de Estado de Cultura, com apoio da Academia Paraense de Música, e lançado, no Theatro da Paz, em Belém (PA), em 15 de maio de 2014, eu escrevi:
Em 27 e 30 de junho de 2012, a Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz, sob a regência do Maestro José Agostinho da Fonseca Júnior, realizou concertos em Belém (Theatro da Paz) e em Santarém (Igreja do Santíssimo), com a participação do Coro Carlos Gomes e convidados, em comemoração ao centenário de nascimento de Wilson Fonseca (Maestro Isoca), promovida pelo Governo do Estado do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Cultura.
Foram executadas as músicas “Centenário de Santarém” – abertura sinfônica (1948); “Missa Mater Immaculata” (1951), “América 500 Anos” – poema sinfônico, com texto poético de Emir Bemerguy no 4º movimento (1992); “Canção de Minha Saudade” (1949), com letra de Wilmar Fonseca; e, ainda, “Um Poema de Amor” (1953), bolero, em número extraprograma (bis).
Este CD é o registro do concerto no Theatro da Paz.
A seguir, breves comentários sobre as obras musicais, todas de autoria de Wilson Fonseca (1912-2002), compostas num período de quase 50 anos.
Centenário de Santarém – Abertura Sinfônica (1948).
Peça composta especialmente para a celebração do 1º centenário da elevação de Santarém (PA) à categoria de cidade, em 24.10.1948, data de sua estreia por uma pequena orquestra sob a regência do compositor. Obra de concerto, de um só movimento, com vários andamentos: Andante, Maestoso (com uma cadenza: canto de pássaro), Andante expressivo (melódico), Allegro, Andante religioso, Marcial, Allegro, Andante (ondas do Rio Tapajós), Allegro, Maestoso, Allegro, Presto.
A música também foi executada, em 1972, pela Orquestra Sinfônica da Universidade Federal do Pará, no encerramento da Semana de Santarém, no Theatro da Paz, sob a regência do Prof. Alfredo José Trindade; e, em 1997, na inauguração da temporada anual da Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz, sob a regência do Maestro Andi Pereira, e no programa em homenagem ao transcurso do primeiro centenário de morte do Maestro Carlos Gomes, em Belém.
O curioso é que Wilson Fonseca, conforme ele mesmo contava, começou a compor esta peça exatamente no dia do nascimento de seu segundo filho (Vicente), quando o compositor escreveu o tema inicial da abertura. Naquela época os partos eram realizados no próprio domicílio da parturiente.
O Maestro Isoca elaborou, além da versão para orquestra sinfônica, transcrição para piano, que foi executada, em Santarém, pelo compositor, por sua irmã Maria Annita Fonseca de Campos e por mim, em ocasiões distintas.
Wilson Fonseca, no livro Meu Baú Mocorongo (6 volumes). Belém: Imprenso por RR Donnelley Moore (SP) e editado pelo Governo do Estado do Pará (Secretaria Especial de Promoção Social, Secretaria Executiva de Cultura e Secretaria Executiva de Educação), parte do Projeto Nossos Autores, coordenado pelo Sistema Estadual de Bibliotecas Escolares (SIEBE), 2006, abre o 3º Volume da obra e trata do tema sobre “Santarém Musical”, cujo primeiro tópico (“Preludiando”) fala sobre a musicalidade dos santarenos. Em certo trecho, diz o Maestro Isoca (ob. cit., páginas 678, 680/682):
“Comandados por José Veloso Pereira – o mago do violino – o santareno que fez brilhante curso musical na Itália, a Pátria da música, e terminou os seus dias em sua terra natal, como manejadores do arco recordemos Álvaro Pinheiro, Domingos Veloso Salgado, Isaías Oliveira da Paz, Laurimar Corrêa, Pedro Maia, Dinico Menezes, Raimundo Sussusrana, José Cardoso da Rocha, Firmo e Iracema Sirotheau, Antônio Anselmo de Oliveira, Adalberto Gonçalves Gentil e outros” (pág. 678 – 3º Volume).
Ainda o mesmo ‘Jornal de Santarém’, em sua edição nº 430 de 30.10.1948, comenta a Sessão Lítero Musical como segue:
Em primeira audição, foi ouvida a ‘SINFONIA DO CENTENÁRIO’ composta especialmente pelo jovem e inspirado maestrino Wilson Fonseca, santareno da gema, filho do saudosíssimo maestro José Agostinho da Fonseca e, como o seu pai, um apaixonado pela sublime arte do Som. As suas composições, revelam um conjunto de apurado bom gosto e fina sensibilidade artística. Do mesmo autor, tivemos ‘Lua Branca’, com letra de Paulo [Rodrigues dos] Santos, magistralmente cantada pelo conhecido tenor Joaquim Toscano, a voz que a todos encanta e que todos aplaudem e acompanhado pela orquestra de cordas; ‘Lira Partida’, uma valsa escrita em memória de seu pai, que agradou plenamente pelo seu estilo sentimental e boa orquestra.
Se Flávio Tapajós [Felisbelo Sussuarana] foi o mais harmonioso poeta mocorongo, José Agostinho foi o mais poético dos músicos santarenenses. Privilegiada sensibilidade artística, inspiração maviosíssima e múltipla, o maestro José Agostinho deixou uma prodigiosa produção esparsa. Foram escolhidas para a grande noite de arte, as valsas ‘Lucy’ e ‘Santarém Moderna’, executadas pela orquestra.
O número que revelou a capacidade musical dos exímios executores componentes da orquestra, foi o arranjo orquestral que Wilson Fonseca fez da conhecida e sempre aplaudida ‘Sinfonia do Guarany’, do grande brasileiro Carlos Gomes.
Encerrando a noitada de arte, antes da execução do ‘Hino Nacional Brasileiro’, ouvimos ‘Santarém’ [atualmente, ‘Hino de Santarém’], marcha oficial do Centenário da cidade, composição de Wilson Fonseca com letra de Paulo [Rodrigues dos] Santos, tocada pela orquestra e cantada pelo coro misto.
Na grande festa tudo foi Santarém e sua cultura se relevando!”.
Ao discorrer sobre os “50 anos de bons servidores prestados à Música em Santarém”, Wilson Fonseca refere-se a vários músicos, nacionais e estrangeiros, que atuaram na Pérola do Tapajós. Em certo trecho fala sobre Frei Feliciano Trigueiro, que chegou em Santarém em 1945, “assumindo a direção do ‘Ginásio Dom Amando’. Pedagogo por excelência, era dotado, ainda, de grande talento musical. Foi o continuador do trabalho de Frei Izidoro [Risse] na direção do conjunto vocal do ginásio. Organizou e dirigiu uma pequena porém excelente orquestra de câmara em nossa cidade, contando com a colaboração dos principais valores da terra, além de seus confrades Freis Rodolfo Hartmann e Cláudio Schneider [violinista]. Essa orquestra de elite é sempre lembrada com saudade pelos seus apreciadores e componentes” (“Meu Baú Mocorongo”, 3º Volume, p. 699/700).
No tópico sobre a Orquestra Euterpe Jazz, Wilson Fonseca lembra que “meia centena de musicistas passou pelas fileiras do famoso conjunto”. Em seguida, cita os nomes de alguns executantes, por exemplo, de violino: “Laurimar Corrêa, Antônio Anselmo de Oliveira, Ubirajara Fona, Adalberto Gonçalves Gentil, Wilde Dias da Fonseca e Orlando Wilson Brito de Almeida” (“Meu Baú Mocorongo”, 3º Volume, p. 707).
Segundo Wilde Dias da Fonseca (Maestro Dororó), em sua obra Santarém: Momentos Históricos. 4ª edição, Santarém: Gráfica Brasil. ICBS – Instituto Cultural Boanerges Sena e Prefeitura Municipal de Santarém, 2006/2007, Jose Agostinho da Fonseca “foi o pioneiro da arte da composição musical em Santarém”. E prossegue: “O eminente crítico musical brasileiro Guerra-Peixe, apreciando esse álbum [Obra Musical de José Agostinho da Fonseca – remanescente, editado em 1981, pela Imprensa Oficial do Estado do Pará, sob os auspícios dos filhos do compositor], assim se manifestou: ‘… observa-se que sua linha melódica, mesmo quando limitada ao estilo que era habitual ouvir e escrever, assinala bastante inquietação, como quem tentasse voar mais alto, porém sem perder de vista os fins a que se propunha. Sua linha melódica registra saltos constantes, flutuações que só modernamente vem sendo experimentadas. E isso a gente pode concluir da leitura que, momentaneamente, parece abalar os padrões já aceitos. Foi muito criativo neste sentido” (páginas 152/153).
A respeito de meu tio e padrinho Wilde Fonseca (Maestro Dororó), escrevi um artigo para publicação no Programa da Festa de N. S. da Conceição, Santarém-PA, mas ainda inédito, do qual transcrevo estes trechos:
“Dororó era músico, professor, historiador, compositor e maestro, além de cantor (barítono-baixo). Tocava violino, contrabaixo de cordas, acordeon, órgão, harmônio, piano, além de ser regente de Corais e Banda de Música. Integrou, como violinista, a Orquestra Euterpe Jazz, fundada e dirigida por seu pai e depois por Wilson Fonseca. Teve participação ativa no movimento teatral, como ator, em diversas peças, em Santarém.
Aprendeu a tocar harmônio com Irmã Úrsula Luttig I.C.; violino e contrabaixo de cordas com Wilson Fonseca, seu irmão; e regência com Frei Edmundo Bonkosch, O.F.M., a quem substituiu, quando este, transferido para Alenquer, deixou a direção do Coro da Congregação Mariana, em 1938. Em 1942 reorganizou o conjunto, que passou a chamar-se ‘Coro de Santa Cecília’ e permaneceu ativo até 1951, quando se transformou na ala masculina do ‘Coro da Catedral de Santarém’, dirigido pelos irmãos Isoca (organista) e Dororó (regente). Fundou ainda, em conjunto com seu irmão Wilson Fonseca, o ‘Coral de Santarém’ e a Filarmônica Municipal ‘Prof. José Agostinho’.
Dentre as homenagens musicais, antes e depois da Missa, destaco a participação emocionante da Filarmônica ‘Prof. José Agostinho’, sob a regência de Rafael Nascimento de Macedo Brito, trombonista e regente substituto, e da Orquestra Jovem ‘Maestro Wilson Fonseca’, sob a regência de José Agostinho da Fonseca Neto, meu irmão, sobretudo quando as orquestras tocaram em conjunto, a Filarmônica agora sob a regência de meu primo João Paulo Santos Fonseca, filho de Dororó, precisamente conforme era o desejo de Wilde Fonseca, revelado na ocasião pelo Tinho.
(…)
Depositário de relíquias da família, Wilde guardava com carinho a tesoura de alfaiate e a batuta de maestro, pertencentes a meu avô José Agostinho da Fonseca; a caneta de ouro e madre-pérola que José Agostinho ganhou como prêmio por ter obtido o 1º lugar na conclusão do Curso de Música no Instituto de Educandos e Artífices, em Belém, em 1906; o contrabaixo de cordas, tocado por meu avô, por meu pai Isoca e por meu tio Dororó. Os familiares pretendem conservar o seu piano, os demais instrumentos musicais, a sua rica biblioteca, as relíquias guardadas, a máquina datilográfica e o quarto de Dororó, como uma espécie de memorial ou museu, para visitação pública.
Sobrinho e afilhado de Wilde Fonseca, prestei-lhe uma singela homenagem póstuma: depositei a partitura da musica ‘Marcapasso’ (chorinho), de minha autoria, no ataúde de meu querido tio Dororó, a exemplo do que fiz com a Valsa Santarena nº 51 (‘Lira Iluminada’), que compus em homenagem a meu saudoso pai Wilson Fonseca (maestro Isoca), em 2002. O chorinho foi escrito em 2007, logo após a sua cirurgia cardíaca para implantação de um aparelho marcapasso, em Belém, e tocado nos 90 anos de Dororó, em 2009, na interpretação da cantora Kaila Moura, acompanhada por um Quinteto de Sopros (Flauta, Oboé, Clarinete, Trompa e Fagote), em Santarém.
No “Meu Baú Mocorongo” (Wilson Fonseca) e no livro “A Vida e a Obra de Wilson Fonseca (Maestro Isoca)”, editado pela Gráfica do Banco do Brasil (Rio de Janeiro, 2012), de minha autoria, existem outras referências sobre as orquestras de Santarém e fotos que ilustram a matéria.
Portanto, há mais de um século que existem orquestras em Santarém, nas mais variadas modalidades, integradas por instrumentos de Cordas, Madeiras, Metais e Percussão para execução de músicas de qualidade.
Quiçá a futura Orquestra Sinfônica “Maestro Wilson Fonseca” tenha estrutura e apoio necessários, à altura do elevado nível cultural de Santarém.

Vicente Malheiros da Fonseca – magistrado, professor e compositor

Vicente Malheiros da Fonseca
Vicente José Malheiros da Fonseca é Desembargador do Trabalho de carreira (Aposentado), ex-Presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região (Belém-PA). Professor Emérito da Universidade da Amazônia (UNAMA). Compositor. Membro da Associação dos Magistrados Brasileiros, da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho, da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 8ª Região, da Academia Brasileira de Direito do Trabalho, da Academia Paraense de Música, da Academia de Letras e Artes de Santarém, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, da Academia Luminescência Brasileira, da Academia de Música do Brasil, da Academia de Musicologia do Brasil, da Academia de Música do Rio de Janeiro, da Academia de Artes do Brasil, da Academia de Música de Campinas (SP), da Academia de Música de Santos (SP), da Academia Paraense de Letras Jurídicas, da Academia Paraense de Letras, da Academia Brasileira de Ciências e Letras (Câmara Brasileira de Cultura), da Academia Brasileira Rotária de Letras (ABROL) - Seção do Oeste do Pará, da Academia de Música de São José dos Campos (SP), da Academia de Música de São Paulo. Membro Honorário do Instituto dos Advogados do Pará. Sócio Benemérito da Academia Vigiense de Letras (Vigia de Nazaré-PA).

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