A reunião do G20 Turismo em Belém do Pará encerra hoje, 21, Dia da Árvore, instituído para incentivar a preservação do meio ambiente. Mas, além de a comitiva internacional dançar carimbó, se deliciar com passeios, comidas e bebidas típicas, e de quebra infernizar ainda mais o trânsito, nada de concreto fica desse suntuoso encontro. Pelo menos para a Amazônia. A Carta de Belém propõe “maior financiamento a pequenas empresas, foco em resiliência climática e qualificação profissional”, algo bem vago que será encaminhado em novembro em outra reunião que, a exemplo das anteriores, já se prenuncia ineficaz. Mais um documento reúne propostas para impulsionar o desenvolvimento econômico sustentável do setor, defende investimento em capital humano, abertura de linhas de financiamento e apoio aos micro e pequenos empresários. E “recomenda” que organizações multilaterais e internacionais, além de instituições financeiras, forneçam linhas de crédito em quatro áreas prioritárias: resiliência climática e turismo positivo para a natureza, desenvolvimento social, criação de novos produtos turísticos em comunidades locais e desenvolvimento de infraestrutura turística compartilhada. Decisões? Medidas eficazes? Políticas públicas ambientais efetivas? Dinheiro para que Estado e Prefeitura enfrentem adequadamente questões urgentes e cruciais? Não há.
A Amazônia poderia e deveria se desenvolver através do turismo. A beleza cênica e a biodiversidade espetacular são únicas, e com a devida proteção a esse patrimônio natural não só seria possível a geração de emprego e renda como a preservação do planeta. Mas a situação é perversamente o contrário. Queimadas, desmatamento, poluição, desvio de curso dos rios, uso indiscriminado de agrotóxicos e o garimpo ilegal continuam a destruir tudo. E os governos não se interessam em priorizar o saneamento básico.
A quinze minutos de Belém, a bela Ilha do Combu atrai milhares de visitantes. Reis, rainhas, príncipes e presidentes famosos são levados a conhecê-la. Mas ali, onde vivem três mil famílias ribeirinhas, tanto a comunidade aglomerada quanto os demais moradores em áreas dispersas não dispõem de sistema de tratamento e abastecimento de água e nem esgotamento sanitário. O acesso à água para consumo é feito por meio da captação superficial, barco pipa ou decantação, e compra de água mineral. A maioria das casas tem fossa, mas quando a maré enche leva os dejetos para o rio, aonde se banham inclusive os ocupantes de lanchas e iates particulares. É, não adianta ficar na bolha porque ao final das contas tudo está conectado. Pobres, remediados e ricos nadam literalmente naquilo. E não à toa proliferam dermatites, esquistossomose, leptospirose, giardíase, malária, hepatite, cólera, diarreia, amebíase, febre tifoide, rotavírus e uma infinidade de doenças de veiculação hídrica, sendo que 90% delas seriam evitadas com o saneamento básico, incluindo aí o destino do lixo produzido pelos moradores ou levado de Belém até a região insular pela força das marés. E olhem que se trata de Área de Proteção Ambiental, Unidade de Conservação de uso sustentável criada por meio do Decreto de Lei nº 6083/97, gerida pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade.
Fotos: Fernando Sette
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