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É mais um livro de Ernesto Boulhosa, mais um a cantar as belezas do Marajó, ele que é de Ponta de Pedras. Desta vez, o foco é no animal que virou como que um símbolo, o búfalo. Introduzido no início do século XX, encontrou ali o lugar ideal para se desenvolver, tornando o Marajó o maior rebanho do Brasil. Outros contam que foi um navio inglês que naufragou próximo à ilha e alguns búfalos conseguiram nadar até a terra firme. 

Ernesto quer contar da vida no Marajó. O búfalo sempre presente, com a lenda de um animal gigantesco que durante a noite, leva consigo outros animais para dentro da mata, onde ninguém o encontra. Personagens do livro e outros vaqueiros tentam e no máximo são afugentados e voltam tremendo de medo do que parece algo encantado. E tudo que é encantado tem a ver com o Marajó. 

Há o coronel que mora em Belém mas vai fazer a contagem anual dos animais, ferrar os novilhos, escolher os que serão vendidos. Ele circula e conversa com moradores, pródigos em contar histórias e lendas maravilhosas. Há Marlene, filha do seu capataz por quem se apaixona, mas é recusado. As pessoas que chegaram a morar em Belém, mas voltaram, querem ficar na ilha. Não se acostumam na floresta de concreto. E há a descrição do ambiente, dos animais, insetos, pássaros, o vento e a chuva. No começo há um grupo em uma montaria que adentra a mata à procura de árvores para derrubar. Ernesto nos leva nesse itinerário, desenhando árvores, pássaros, cobras, jacarés, a beleza do meio ambiente, sempre misterioso. E a vida passando. É Onofre, mais de 90, que pesca diariamente, sozinho e ao ver um enorme tucunaré, sente o coração e morre. O menino negro, magrinho, revoltado com o pai que lhe dá surras, mas leva docilmente um búfalo gigantesco, Garrote, em uma fina corda. A mulher que casa com um coronel e passa as noites acordada vigiando a casa, com medo de cobras, escorpiões, centopéias e outros. Não podia dar certo. 

Eu gosto. Sou tão urbano, mas minha mãe é de Muaná e contava muitas histórias. Elas me fascinam e Ernesto me deixa encantado com sua paixão pelo Marajó.

Edyr Augusto Proença
Paraense, escritor, começou a escrever aos 16 anos. Escreveu livros de poesia, teatro, crônicas, contos e romances, estes últimos, lançados nacionalmente pela Editora Boitempo e na França, pela Editions Asphalte. Foto: Ronaldo Rosa

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