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Ainda estou desnorteado com a notícia do fechamento da Livraria Fox. Como tantos, frequento a Fox desde o primeiro endereço com filmes para alugar. Virou uma extensão de minha casa, lugar onde encontro livros, amigos, ambiente criativo e muita conversa boa. A sensação, sem querer ser engraçado, é a do famoso cachorro que cai do caminhão de mudança e fica perdido. Onde, agora, ir? Onde lançar meus livros, comparecer às noites de autografo dos amigos? Onde uma boa conversa? Além de mim, há vários outros habitués, famílias que lá se encontram para conversa semanal.

Mas até agora falei apenas de mim. Uma Livraria não é apenas um depósito de livros, um balcão onde se compra e vende. Além de ser um mundo em si onde, imagino, à noite, portas fechadas, os livros conversam animadamente, os mais antigos recepcionando os mais novos. Um mundo à parte. A atmosfera interna é Cultura. Além dos livros, há palestras, cursos, oxigênio para nós que vivemos em um mundo, um país, uma cidade onde cada vez cresce mais a grosseria, a falta de educação e gentileza. Escolha um horário, manhã, tarde, noite e sempre encontrará gente inteligente para bater papo. Quanto a mim, sempre fui privilegiado pelo carinho de seus proprietários. Sem a Fox, meus livros nunca seriam conhecidos no Pará. Um dia, em plena escuridão cultural em que vivemos há alguns poucos anos, li que Salomão Laredo, que também era “cancelado” em uma Feira absurda que havia, colocou um tabuleiro na Fox fazendo a “Feira do Salomão Laredo”, onde vendia seus trabalhos. Fui até ele e juntos com outros colegas e claro, os proprietários da Fox, realizamos a FLiPa, Feira Literária do Pará, onde reunimos somente escritores paraenses ou desenvolvendo trabalho aqui. Tivemos muito sucesso mas fomos abatidos pela pandemia. Essa desgraça também ameaçou a Fox, mas uma campanha fez com que todos os clientes desafiassem a doença e lá comparecessem, adquirindo livros, dando uma sobrevida ao negócio. E agora a notícia do fechamento. Vamos permitir? Fiz a postagem e logo recebi centenas de respostas lamentando. Basta lamentar? Não. Há quanto tempo, você que sempre comprou na Fox não vai até lá? Não está na hora de voltar? Reanimar os proprietários, mostrar a força da Cultura? Salvar o lugar da crueldade dos tempos em que vivemos? Largue tudo e vá. Há sempre algo para comprar. Uma mina de ouro e diamante.

Frequente. Vibre. Converse. Chame os amigos que também, por vários motivos, há muito não vão lá. Ficaremos perdidos sem a Fox. O acervo de autores locais é amplamente o maior da cidade. Você, colega escritor, vamos dar as mãos a essa iniciativa. Não sou líder de nada. Sou um escritor, frequentador e amigo dos proprietários. Imaginem a dor que estão sentindo. Imaginem os funcionários que são amigos dos frequentadores. Não, eu ainda não admiti. Estou desnorteado. Por isso escrevo estas linhas. Será que a Fox será mais uma no acervo do “terra do já teve”?

Edyr Augusto Proença
Paraense, escritor, começou a escrever aos 16 anos. Escreveu livros de poesia, teatro, crônicas, contos e romances, estes últimos, lançados nacionalmente pela Editora Boitempo e na França, pela Editions Asphalte.

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