No Brasil, a taxa de nascimentos prematuros é de cerca de 12% e está acima da média global. Mas, na Região Norte, a taxa de 12,61% é a maior do país. Os estados com os piores índices são Roraima, com mais de 18% de partos prematuros, Acre e Amapá, com taxas próximas de 14%. Além disso, o Pará ocupou a oitava posição no país e também ficou acima do índice nacional, com 12,45% de partos prematuros.
A professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Pará Aurimery Chermont diz que esse é um problema antigo e multifatorial, relacionado com questões geográficas e sociais da região e também com a insuficiência da rede de atenção básica de saúde. De acordo com a especialista, a falta de educação sexual para prevenir gestações indesejadas e sobre a importância do pré-natal, além das condições sanitárias e de alimentação, especialmente em comunidades mais carentes ou distantes das cidades, são alarmantes. “O nosso maior problema é a educação para a prevenção. Principalmente entre as gestantes mais jovens. Elas não fazem pré-natal por um motivo simples: ignorância. O segundo motivo é que muitas vezes, elas chegam na unidade de saúde e lá não tem os exames. O terceiro motivo é que, em algumas regiões, não tem como chegar. Se moro numa palafita e tenho que pegar um barco para ir até o posto de saúde, se estiver chovendo muito, eu já não consigo chegar. E às vezes a gestante chega, identifica algum problema, mas não tem a medicação no posto pra ela tomar, então não dá continuidade. Aí ela não faz pré-natal, ela não faz vacina, ela não faz prevenção”, explica.
As estatísticas nacionais corroboram as informações da docente da UFPA. Na Região Norte uma em cada cinco gestantes era menor de idade quando engravidou ou tinha acabado de completar 18 anos. A taxa supera a proporção nacional, de 12%. A região também tem a menor proporção do país de residências com esgotamento sanitário e abastecimento de água e, no ano passado, cerca de 30% da população estava em situação de insegurança alimentar.
A assessora técnica da Coordenação-Geral de Atenção à Saúde das Crianças, Aline Hennemann, reafirma que os altos índices de prematuridade têm origens socioeconômicas, e defende que o pré-natal é a maior ferramenta à disposição da saúde pública. A Rede Alyne – nova estratégia de cuidado de gestantes e bebês, lançada pelo Ministério da Saúde em setembro – também oferece benefícios financeiros para a implantação de ambulatórios para os bebês egressos de UTI neonatal, que em sua maioria são bebês prematuros. Em 2024 o Ministério investiu cerca de R$400 milhões e a previsão é de R$1 bilhão em 2025.
Na Região Norte o desafio de melhorar o atendimento à gestante é ainda maior em territórios indígenas e outras comunidades tradicionais. Quando os rios estão secos não é possível o transporte fluvial e via terrestre aumenta muito o tempo, o que impacta também o atendimento, daí a necessidade de qualificar enfermeiros, médicos, agentes indígenas de saúde e agentes comunitários para que consigam fazer um diagnóstico no território, ainda mais que muitas cidades não contam com serviços especializados em obstetrícia e os do programa Mais Médicos acabam sendo os únicos disponíveis.
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