Publicado em: 5 de junho de 2025
Pensar, debater e refletir a Amazônia e os seres que a povoam tornou o XII Confluências um evento muito especial. Na noite da terça-feira, 3, a abertura cultural pelo poeta, contista, romancista e cronista Daniel da Rocha Leite foi arrebatadora. Declamando A história das Crianças que Plantaram um Rio com a força avassaladora da sua poesia e a sensibilidade à flor da pele que hipnotiza quem o ouve e lê, eletrizou a plateia e causou profundo impacto. Daniel é mestre e doutor nas palavras, que maneja com perícia cirúrgica, ora brandindo-a como uma espada a penetrar até o âmago das almas, ora com a doçura de um infante a embalar sonhos. Sua prosa e poesia são necessárias, urgentes. É impossível ser indiferente a elas. Grande acerto da comissão organizadora presidida pelo Prof. Dr. Thiago Barros, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Linguagens e Cultura da Universidade da Amazônia, a realizadora do evento.
No XII Congresso Confluências, este ano, o tema central foi “Cultura amazônica, outras territorialidades e crise climática”, contemplando mesas-redondas com pesquisadores renomados e simpósios de artigos científicos. A mesa oficial de abertura contou com os pesquisadores Drª Ivone Amorim Xavier (UFPA/PUC) e Dr. Fábio Fonseca de Castro (Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da UFPA/Paris V), mediados pelo Dr. Edgar Chagas (PPGCLC/Unama).
Fábio Castro, com a simplicidade própria dos sábios, discorreu sobre “Pensar a Amazônia na sua diversidade ontológica: Diálogos, saberes e relações”, adotando inovadora perspectiva metodológico-política e fenomenológica. Ele contou sobre sua pesquisa e projetos de extensão desenvolvidos em Tracuateua, nas comunidades quilombolas do Torre, Jurussaca, Campo Novo e Cigano; em Bragança, nas comunidades rurais da Vila-que-Era (nome poético que por si só já evoca a ancestralidade desse lugar); em Augusto Correa, na Reserva Extrativista Marinha Araí-Peroba; em São Domingos do Capim, nas comunidades ribeirinhas e quilombolas do Aproaga; em Moju, nas treze comunidades quilombolas do Jamuaçu; em Castanhal, no assentamento rural do MST João Batista II (onde confidenciou que pensa em morar algum dia); em Cametá, nas oito comunidades quilombolas do Itapocu, da Thomázia e Terra da Liberdade, além da comunidade urbano-rural do Juaba; e em Mocajuba, na comunidade ribeirinha de São Joaquim. Uma verdadeira epopeia.
Jornalista, sociólogo, antropólogo, pós-doutor em Etnometodologia pela Universidade de Montreal e literato premiado, Fábio é um dos intelectuais mais importantes da Amazônia e propõe uma sociologia histórica da experiência social, atravessando saberes, conhecimentos e tradições (que também podem ser pensadas como sociações, socialidades, sociabilidades, intersubjetividades, sensibilidades, identificações, representações sociais, diálogos…). Ele expôs seus conceitos com as dinâmicas históricas (econômicas, sociais, antropológicas, políticas, jurídicas, estéticas), traduzindo com leveza essa complexidade.
O evento, que encerra esta noite, integra o calendário de ações voltadas à COP30, coordenado pelo professor doutor João Cláudio Tupinambá Arroyo, pró-reitor de Pesquisa e Extensão da Unama, e discutiu os aspectos culturais da Amazônia, com reflexão acerca dos impactos associados à crise ambiental.
Entre pesquisas científicas que circundam a interdisciplinaridade de conhecimentos e de saberes nos campos social, educacional, comunicacional, linguístico, cultural e artístico, a ideia de estimular o debate teórico-empírico acerca da relação entre manifestações culturais amazônicas (artístico-literárias e comunicacionais) e mudanças climáticas foi um sucesso.




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