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A Série B do Campeonato Brasileiro de 2025 tem apresentado dois retratos completamente distintos quando se trata dos representantes paraenses. Após oito rodadas da competição, neste domingo (18), Paysandu e Remo, rivais históricos, vivem momentos opostos nesta temporada, com desempenhos que ilustram bem as consequências de planejamento (ou da falta dele) e da disponibilidade de recursos financeiros na estrutura de um clube de futebol.

O Paysandu amarga uma campanha decepcionante. Com quatro empates e quatro derrotas nas primeiras oito rodadas, o time ocupa atualmente a zona de rebaixamento e vê sua situação se agravar a cada rodada. A pressão da torcida aumenta, assim como os rumores sobre possíveis mudanças no comando técnico. No entanto, os problemas da equipe alviceleste vão além da beira do gramado.

A grande dificuldade do Paysandu parece estar enraizada na formação do elenco. O planejamento do clube para a temporada foi muito falho, com contratações pouco criteriosas e ausência de peças-chave para um campeonato longo e desgastante como a Série B. Soma-se a isso uma diretoria que, nas últimas gestões – em especial a partir de 2017 –, tem acumulado decisões controversas e que não conseguem dar uma resposta efetiva ao momento delicado da equipe. Para além disso, o Paysandu avança muito lentamente nas obras do seu Centro de Treinamento – e isso ocorre muito mais pelo engajamento de sua gigante e fiel torcida.

Além dos campos tático e técnico, há questões físicas e emocionais que vêm pesando. O grupo apresenta sinais de desgaste, tanto corporal quanto mental, e parece ter perdido a confiança. A instabilidade tem afetado diretamente o desempenho em campo, refletindo em atuações apáticas e em erros que custam pontos preciosos. A recuperação do Paysandu exigirá mais do que uma eventual troca de treinador. Será necessário rever todo o modelo de gestão esportiva, além de contratações para qualificar o elenco. Pela história e pela grandeza bicolore, obviamente há esperanças para sair dessa crise e, pelo menos evitar o rebaixamento para a Série C – algo que seria desastroso.

Na outra ponta da tabela e do futebol paraense, o Remo vive um momento de afirmação. Invicto na competição, o Leão Azul venceu todas as partidas que disputou em casa e empatou as quatro que jogou fora de seus domínios. A equipe segue no G-4 da competição. A campanha beira um verdadeiro manual de eficiência: defesa sólida, transições rápidas e um contra-ataque que tem se mostrado letal contra adversários de diversos estilos.

O embalo da equipe azulina tem como alicerce a conquista do Parazão 2025, ocorrido no dia 11, em uma decisão dramática decidida nos pênaltis, após o Paysandu ter sido melhor nos dois confrontos. O título estadual serviu como catalisador da confiança e entrosamento do elenco. E não é por acaso: o Remo investiu pesado na montagem do grupo, sendo hoje dono de uma das maiores folhas salariais da Série B. Desde 2019, o Remo tem tido muitos investimentos em seu futebol. Fracassou nas tentativas de voltar à Série B em 2022 e em 2023, mas, no ano passado, conseguiu sucesso, sempre com elencos muito caros com muitos recursos disponíveis. Pelo menos por enquanto, nesta temporada, o clube azulino parece ter compreendido a exigência da competição e montou um elenco equilibrado, com peças experientes e jovens promissores. Também tem no seu elenco vários jogadores com salários superiores a R$ 100.000,00 e parece ter acertado na escolha do seu comando técnico – o jovem Daniel Paulista. Jogadores como Pedro Rocha, Marcelinho, Marcelo Rangel e Pavani têm mostrado ótimos desempenhos em campo.

Neste início de Série B, o futebol paraense nos oferece uma lição clara sobre os caminhos que levam ao sucesso e ao fracasso. Enquanto o Paysandu se vê ainda confuso em crises e incertezas, o Remo colhe os frutos de um planejamento bem executado diante do grande orçamento disponível. O campeonato ainda está no começo, mas os primeiros capítulos dessa história já dizem muito sobre o que esperar das próximas páginas.

Rodolfo Marques
Rodolfo Marques é professor universitário, jornalista e cientista político. Desde 2015, atua também como comentarista esportivo. É grande apreciador de futebol, tênis, vôlei, basquete e F-1.

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