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Lembre de apagar a luz quando sair

Esquecer cada bobagem que um dia ficou por ai

Lembre de não atrasar as contas do mês

E não tentar mudar o mundo de uma só vez

Lembre nem tudo pode ser como você sempre sonhou

Lembre você já me esqueceu

Lembre que tudo já passou

Lembre de deixar os discos sobre a mesa

E não se culpar por velhas confusões confusões

Lembre de não carregar o mundo em suas costas

Tire um dia pra ficar vagando sob o sol

Lembre nem tudo é tão azul

Tiros riscando nosso céu

Velhos clichês ditando o gosto

Mas deixe um sorriso nesse rosto

Já escrevi uma vez que ouço música enquanto estou dirigindo. Estava hoje, na selva do trânsito quando começou a tocar essa música da qual a letra está acima. Pertence ao grupo paraense Telesonic. Tocava muito em um programa que tive na Jovem Pan, chamado Rock Pan. Nunca encontrei os músicos e os assisti apenas uma vez, através do Google, em vídeo gravado em programa da Tv Cultura do Pará. Não há razões específicas para uma canção mexer com nossos sentimentos. Às vezes é do artista que gostamos, ou porque todos estão gostando. É a melodia, a letra, o instrumental. Eu adoro essa música. Quando vêm os acordes da guitarra, abro um sorriso, canto junto. Gosto principalmente do trecho “lembre de não carregar o mundo em suas costas, tire um dia pra ficar vagando sob o sol”. Eu lembro de inúmeros momentos em que me sentia pressionado, com várias tarefas urgentes, todas pedindo minha melhor produção e de repente dava um “perdido” e saía por aí, flanando ou vagando sob o sol, sem direção, andando ou até mesmo dirigindo sem destino, para limpar minha tela, digamos assim. Dava uma desligada, ligava novamente, voltava e dava conta dos afazeres. Passei a maior parte da minha vida dentro de uma sala sem janelas, cercado por computadores, gravadores, discos, jornais, revistas e livros. Por sorte, o lugar em que morei, Presidente Vargas, era farto em personagens interessantes, diferentes, com belas histórias para contar. Com o tempo, eles fizeram como que um “cordão de segurança” para mim que passava distribuindo cumprimentos, alguns pequenos regalos aqui e ali, ouvindo suas queixas e alegrias. Uma bela coleção de amigos que me proporcionou escrever minhas coisinhas literárias. Há também o trecho “lembre nem tudo pode ser como você sempre sonhou, lembre você já me esqueceu, lembre que tudo já passou”. Música é um foguete sentimental que nos leva através do tempo, assim como perfume. Lembro de amores, sejam lugares ou pessoas. Sorrio porque vem na cabeça determinada ocasião, e agora estou correndo de bicicleta, na descida do Chapeu Virado para o Farol, com aquele vento delicioso mexendo meus cabelos. Toda vez que vejo alguma reportagem falando sobre o estado do Mosqueiro atualmente, seus problemas de segurança, as casas sendo roubadas ou desabando, fico triste. Estão mexendo no meu paraíso particular. Rubem Ohana, amigão de meu pai e eu, por conseguinte, de seus filhos, um deles, verdadeiro irmão, excelente profissional, Jorge Alberto, pois é, o velho Rubem tinha uma Kombi. Nas férias de julho, durante a semana, acho, fazia o que se chamava “assustado”. Botava um monte de adolescentes no carro e aparecia de surpresa em uma casa onde moravam outros garotos e garotas. Claro que o “assustado” era combinado antes. Levavam som, discos e petiscos. Em instantes a casa virava uma festa e todos se divertiam. Menos eu. Tímido, ainda sem coragem de encarar as meninas, assistia de longe, admirando um primo que dançava com todas. É para lembrar? Lembrei. Mas ouçam, também Telesonic.

Edyr Augusto Proença
Paraense, escritor, começou a escrever aos 16 anos. Escreveu livros de poesia, teatro, crônicas, contos e romances, estes últimos, lançados nacionalmente pela Editora Boitempo e na França, pela Editions Asphalte. Foto: Ronaldo Rosa

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