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Perdemos. Na euforia em que estávamos, fundada em frágil alicerce, o jogo contra a Croácia estava no papo. Mera formalidade. Perdemos em lance fortuito. O chute do croata foi fraco e no centro do gol, mas desgraçadamente bateu em Marquinhos e entrou. Os pênaltis foram a continuação da tragédia. O que é certo é que dificilmente ganharíamos a Copa. A vitória é para equipes mais coesas, equilibradas. Isso não tínhamos. Apesar das perdas, a defesa estava bem. O problema foi o meio campo. Paquetá não tem, ainda, a condição de dar o ritmo do jogo, defender e ser o jogador a ser procurado por todos os companheiros para ser o centro de tudo. Casemiro ficou só, a disparar para todos os lados. Neymar não está bem, fora a contusão. Lento, errando passes e dribles, apesar do belo gol. Sim, era preciso recuar e segurar a vitória nos últimos minutos, diante de uma Croácia com extrema dificuldade em atacar. Agora, procuramos culpados. Foi a dancinha dos jogadores, foi o bife de ouro, foi Neymar e sua marra. Nada disso. Houve erro técnico na formação do time, com tempo suficiente para encontrar. É fato que, com a expressiva maioria de atletas jogando na Europa, muitos jogadores sejam desconhecidos por aqui, a não ser por quem assiste tv por assinatura. Mas se ganhássemos, todos seriam heróis. Jogos da Copa exigem concentração total, coesão, equilíbrio e nós, salvo contra a Coréia e assim mesmo, apenas em um tempo, não estávamos indo bem.

Neymar é o vilão, como sempre. Não é o melhor do mundo e digo isso focando somente em seu comportamento no jogo. Fora, em uma época de mídias sociais julgando tudo e a todos, é alvo de todas as críticas. Não sou seu amigo e só me interesso pelo jogador. Malabarista, gosta de desafiar adversários e sofre pancadas. Provocado pela Copa que precisava para marcar a carreira, mostrou-se no primeiro jogo bem participativo. Quando voltou, parece ter perdido a confiança. Errou demais. Sumiu da condução, legando aos jovens uma predominância que devia ser sua. Espero não voltar mais a usar a canarinho. Messi é o oposto. Discreto, faz tudo com simplicidade e genialidade. E o bife com ouro? E daí? Nunca iria ao Quatar a não ser bem pago, profissionalmente. Primeiro porque é uma ditadura, com costumes que me dão nojo. Depois por ser de uma cafonice monumental. Vai quem quer e pode pagar. Alguns jogadores foram e nesse instante, pareceram esquecer das mídias sociais, que apedrejam comportamentos. Falso moralismo. Eles têm dinheiro. Aguentam pressões gigantescas em arenas com 80 mil pessoas bufando por vitórias. Geram muito dinheiro aos clubes e patrocinadores. Têm carreira curta. E são jovens, muito jovens. E as danças após os gols? Qual o problema? Pessoalmente, me constranjo em demonstrar animação quando estou diante de pessoas. Nos poucos gols que fiz em peladas com amigos, minha comemoração quase passa despercebida. Lembro que quando soube que teria um livro lançado na França, me contive até ficar sozinho e pular de alegria. Mas esses jovens, sob muita pressão, após o gol, merecem vibrar e dançar, nada mais natural a brasileiros. Vinicius Jr foi alvo de racismo na Espanha, onde joga, por dançar, feliz. Eles não querem atingir ninguém mas são artistas, que precisam extravasar. Sem provocar, ostensivamente, tem de aguentar, como aguentamos os memes da nossa derrota. Ganhar e perder. Pronto. O que foi bom, aqui, foi a retomada de nossa bandeira, azul, amarelo, verde e branco e as comemorações. Eles estão do outro lado do mundo e nós aqui, pulamos e dançamos achando que apesar de todas as agruras, no futebol somos os melhores do mundo. Bom, nem isso, né?

Edyr Augusto Proença
Paraense, escritor, começou a escrever aos 16 anos. Escreveu livros de poesia, teatro, crônicas, contos e romances, estes últimos, lançados nacionalmente pela Editora Boitempo e na França, pela Editions Asphalte.

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