0
 

Uma importante iniciativa de arte contemporânea, o Circuito Amazônico de Quadrinhos articula eventos, artistas e público em torno da valorização da narrativa gráfica produzida no Norte do Brasil. A programação envolve cinco capitais da Amazônia Legal — Belém, Manaus, Boa Vista, Macapá e Palmas — e fortalece a cena local, fomentando novos talentos e transformando a região em um dos principais polos criativos da nona arte no Brasil.

Concebido como uma rede colaborativa, o circuito pretende integrar e padronizar as ações de comunicação, circulação e mobilização dos principais eventos de quadrinhos da região, conectando iniciativas que até então aconteciam de forma isolada. O projeto cria pontes entre artistas, produtores culturais, leitores e o mercado editorial, estabelecendo uma identidade coletiva que represente a diversidade e a potência criativa dos povos amazônidas.

Com identidade visual criada por Tai e logotipo assinado por Brenda Lemos e Helô Rodrigues, o Circuito Amazônico de Quadrinhos conecta eventos já consolidados e outros emergentes e estabelece uma estratégia de cooperação intermunicipal e intercultural, alargando o intercâmbio entre os artistas e proporcionando ao público uma programação contínua e plural.

As ações do circuito incluem oficinas, feiras de artistas, cursos, palestras e a presença de convidados especiais do mercado editorial nacional, que participarão de forma compartilhada entre as cidades. A proposta é promover a troca de experiências, saberes e técnicas, ampliando o repertório dos artistas locais e oferecendo ao público um mergulho profundo no universo dos quadrinhos amazônidas.

A programação começa em abril e se estende até maio, passando por cinco capitais:

  • Manaus (AM): 4, 5 e 6 de abril
  • Boa Vista (RR): 12 de abril
  • Macapá (AP): 19 e 20 de abril
  • Belém (PA): 24, 25 e 26 de abril
  • Palmas (TO): 9 e 10 de maio

Cada etapa contará com eventos próprios, mas integrados à proposta do circuito, o que permitirá o compartilhamento de atrações, debates e experiências em diferentes contextos regionais. A circulação dos convidados e de parte da programação será um dos principais diferenciais da iniciativa.

O Circuito Amazônico de Quadrinhos também assume um papel importante na desconstrução de estereótipos associados à Amazônia, tradicionalmente retratada apenas por suas paisagens naturais ou em narrativas exotizadas. Ao dar visibilidade a artistas locais e suas histórias, o projeto propõe novas representações da região — mais autênticas, complexas e conectadas às realidades socioculturais de seus habitantes.

Ao mesmo tempo, o circuito pretende ser um catalisador de políticas culturais e de acesso a recursos, com foco na captação de patrocínios e no fortalecimento da infraestrutura dos eventos. A meta é garantir que a iniciativa não seja pontual, mas um projeto de continuidade, com edições anuais e impacto crescente nas cadeias criativa e produtiva da região.

Durante os dias 24, 25 e 26 de abril, a Biblioteca Pública Arthur Vianna, no prédio da Fundação Cultural do Pará (FCP), e a histórica Fundação Curro Velho receberão a programação, gratuita e aberta ao público, quee reúne atividades formativas, exposições, lançamentos, oficinas, feiras de artistas e convidados especiais do mercado editorial.

No dia 24 de abril, as atividades acontecerão das 10h às 20h na Biblioteca Arthur Vianna, (Av. Gentil Bittencourt, 650). Fundada há 152 anos, a biblioteca do CENTUR é uma das mais importantes do Norte do Brasil, com um acervo superior a 800 mil volumes e forte tradição em ações de incentivo à leitura, formação e cultura.

Nos dias 25 e 26 de abril, a programação será realizada na Fundação Curro Velho (Rua Professor Nelson Ribeiro, 287), das 10h às 20h. Construído em 1861 e tombado como patrimônio cultural do Pará em 1984, o espaço funciona como núcleo de educação não formal em artes e ofícios, atendendo especialmente estudantes de escolas públicas, populações de baixa renda e comunidades tradicionais (indígenas, ribeirinhas e quilombolas).

A história da Semana do Quadrinho Nacional no Pará remonta a 1992, quando o evento foi realizado pela primeira vez em Belém, na Casa da Linguagem, sob a organização do grupo de quadrinistas Ponto de Fuga. Desde então, a data passou a ser comemorada de forma intermitente, ganhando força a partir de 2015, quando passou a ser organizada regularmente pela FCP.

Além da programação de oficinas, feiras, bate-papos e exposições, o evento contará com convidados especiais que representam a diversidade criativa e cultural dos quadrinhos brasileiros.

Diretamente de Salvador (BA), o arquiteto, artista visual e roteirista Hugo Canuto é um dos nomes desta edição. Adepto do candomblé, Canuto criou o projeto “Contos dos Orixás”, uma série de graphic novels que adapta para os quadrinhos as narrativas da tradição iorubá. Seu trabalho une arte, cultura e mitologia afro-brasileira, com forte cunho educativo e de combate ao preconceito religioso. Suas obras já foram adquiridas por museus como o Smithsonian African Arts Museum, em Washington (EUA), e traduzidas para o inglês pela editora Abrams Books. Ele participará de bate-papos e lançamentos, incluindo o volume “O Rei do Fogo”, mais recente da série, que conta uma nova história do universo dos orixás.

Natural do Pará, Mandy Modesto é doutoranda em Arte pela UFPA, professora de artes em Ananindeua e ilustradora com forte atuação nos quadrinhos produzidos na Amazônia. Sua obra “A Viagem de Mairá”, da coleção Cochichos do Céu, é um exemplo de como narrações visuais podem dialogar com temas como identidade, feminismo e a cosmovisão amazônica. Mandy é integrante de diversos coletivos de artistas parauaras, como o Norte em Quadrinhos, Ilustra Pretice e Marpará, e tem se destacado por seu engajamento em ações que fortalecem a presença de mulheres artistas na cena regional.

Com obras que transitam entre o design gráfico e a narrativa sensível, o arquiteto e artista visual Ricardo Haradatambém também integra a programação como convidado. Harada é doutor em Artes pela UFPA, mestre em Conservação e Restauração pela UFBA e professor do curso de Cinema e Audiovisual da UFPA, onde leciona sobre som e desenho sonoro. Autor de HQs como “Saburo”, seu trabalho já lhe rendeu o Prêmio Benedito Nunes (UFPA) e reconhecimento pelo refinamento estético e narrativo. Durante o circuito, o artista participa de mesas e exposições que abordam processos criativos e produção editorial independente.

Francy Botelho, natural de Barcarena, é artista visual, formada em Artes Visuais e Tecnologia da Imagem pela UNAMA e pesquisadora no mestrado em Comunicação da UFPA. Suas criações envolvem temáticas de afeto, ancestralidade e memória — como na obra “Eterno”, HQ que será apresentada durante o evento. Francy é também colorista de “Niara”, do coletivo O Serendi, voltado para mulheres artistas da Amazônia, e autora das HQs “Purpúreo” e “Os Contos de Aiyra”. Com uma estética marcante, seu trabalho conecta narrativas de pertencimento com o cotidiano amazônico.

Com uma linguagem colorida, afetuosa e popular, a artista Ilustralu (Luiza de Souza), natural de Currais Novos (RN), também está entre os destaques. Publicitária de formação e quadrinista por paixão, ficou nacionalmente conhecida pela webcomic “Arlindo”, lançada em 2021, que se transformou em HQ publicada pela editora Seguinte. “Arlindo” foi vencedora do prêmio CCXP Awards e finalista do Prêmio Jabuti 2022, conquistando leitores ao retratar com delicadeza a juventude, afetos e descobertas de um menino nordestino gay. Em Belém, Ilustralu participará de conversas sobre webquadrinhos, produção independente e processos criativos voltados para o público jovem.

O já tradicional Beco dos Artistas contará, este ano, com a participação de mais de 20 nomes e coletivos aprovados para expor suas obras durante os dias 24, 25 e 26 de abril. Entre os selecionados estão Anselmo Gomes, Capivara Anstronauta, Mashiro, Rafael Fernandes, Cleo Ribeiro Jr., Elthz Andrey Coelho, Felipe Furtado, Tiras do Beybinho & Anímica, além dos coletivos Kitnet, Serendi, Panela Comics e BRT. O espaço, que é um verdadeiro celeiro de encontros criativos e trocas diretas entre artistas e o público, receberá ainda nomes como Gabriela Ribeiro, José Augusto Luz, Lucas Rhossard, Evaldo Vasconcelos, Higor Jardim, Rosinaldo Pinheiro e o estúdio 2FStudio. O Beco dos Artistas é uma vitrine para talentos da cena independente, oferecendo uma oportunidade única para conhecer, adquirir e apoiar produções autorais da região amazônica e de outras partes do Brasil.

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

Clay Chagas e Ilma Pastana vencem consulta pública para reitoria da Uepa

Anterior

A trend que copia o Estúdio Ghibli, IA e direitos autorais

Próximo

Você pode gostar

Comentários