Celeste Caeiro, a mulher que deu origem ao símbolo da Revolução dos Cravos em 25 de Abril de 1974, faleceu na manhã desta sexta-feira, 15 de novembro, aos 91 anos. Conhecida por seu gesto simples de distribuir cravos aos militares durante a revolução que derrubou a ditadura em Portugal, Celeste tornou-se uma figura icônica na história do país e transformou a flor no símbolo da liberdade portuguesa.
Sua neta, Carolina Fontela, relatou que Celeste começou a passar mal na tarde de quinta-feira e foi levada ao Hospital de Alcobaça, cidade onde vivia, após sentir falta de ar. Lá, foi submetida a exames e a um eletrocardiograma, mas devido à ausência de raio-X no período noturno, foi transferida para o Hospital de Leiria. Chegou ao local com uma pulseira amarela e recebeu oxigênio enquanto aguardava avaliação.
Na manhã seguinte, foi encontrada em paragem cardiorrespiratória, sozinha em uma sala. Apesar das manobras de reanimação, o óbito foi declarado no local. Devido às circunstâncias, o Ministério Público deve solicitar a realização de uma autópsia, o que atrasará as cerimônias fúnebres. Por desejo de Celeste, ela será cremada no Alto de São João, em Lisboa.
Em depoimentos ao longo dos anos, Celeste Caeiro recordava o dia histórico de 1974 com emoção. “O soldado pediu-me um cigarro. Eu não fumava, nunca fumei. Então tirei um cravo do ramo que levava e ofereci-lhe”, relatou. Foi esse gesto que transformou os cravos no símbolo mundialmente reconhecido da Revolução.
Naquele dia, Celeste, que trabalhava em uma cafetaria no Chiado, recebeu as flores do patrão, que havia comprado cravos para comemorar o aniversário de um ano do estabelecimento. Com o fechamento forçado do comércio devido aos eventos da revolução, os funcionários foram orientados a levar as flores para casa, para não se perderem.
Filha de uma galega e de pai desconhecido, ela cresceu na Casa Pia e enfrentou dificuldades ao longo dos anos. Em 1988, perdeu tudo no incêndio do Chiado, incluindo sua casa e recordações pessoais.
Apesar das adversidades, Celeste foi homenageada de diversas formas. Em maio deste ano, a Câmara Municipal de Lisboa aprovou a atribuição da Medalha de Honra da cidade e uma intervenção evocativa em sua memória, que ainda não foi realizada. Em abril, durante as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, o deputado Rui Tavares sugeriu que uma estátua de Celeste fosse erguida para homenagear as mulheres portuguesas.
Sua história foi contada em um documentário produzido pela Comissão dos 50 anos do 25 de Abril, destacando sua importância simbólica na revolução. “As pessoas julgam que fui eu que pus os cravos nas espingardas, mas não, estava muito alto”, disse Celeste, com humildade, em um depoimento recente.
Carolina Fontela, neta de Celeste, homenageou a avó nas redes sociais: “Para sempre a minha Avó Celeste. Olha por mim.” Ela também defendeu que o local onde Celeste distribuiu os cravos seja marcado por uma placa ou uma pequena estátua, em reconhecimento ao momento histórico.
Celeste Caeiro, com sua simplicidade e espontaneidade, marcou a história de Portugal, criando um símbolo global de resistência pacífica e esperança. A Revolução dos Cravos permanece viva na memória coletiva, assim como a figura de Celeste, a mulher que, com uma braçada de flores, ajudou a mudar os rumos de uma nação.
25 de abril sempre! 🌹
Foto: Exército Português
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