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O economista Roberto Correa, mestre e doutor em Ciência Política, professor aposentado da Universidade Federal do Pará, que por duas vezes exerceu o cargo de secretário de Estado de Trabalho e Promoção Social na gestão Jader Barbalho, se foi hoje, vítima de infarto, aos 81 anos de idade.

Nascido em Belém, era filho do fazendeiro marajoara João Batista de Azevedo Correa, e de Maria Violeta Ribeiro Correa, e sua movimentada trajetória teve momentos marcantes, que vale lembrar.

Sua família, Magno Correa, tinha posses. O pai era odontólogo. Roberto começou os estudos na escola pública Floriano Peixoto, depois no colégio Suíço-brasileiro e então foi matriculado no Colégio Marista Nossa Senhora de Nazaré, onde seu pai estudara. Acontece que era fim dos anos 1950, época da revolução cubana, do Sputnik, guerra fria e Roberto e seus amigos estavam na gênese da revolução de 1968. Então, chegava na escola e repetia o que ouvia a mãe falar em casa, tipo: “A religião tudo bem, mas a ciência é que vale.” O tio Osvaldo Gonzáles Freire Ribeiro, que estudara na prestigiada universidade Cornell, nos EUA, era comunista declarado, morreu em 1964 e deixou uma biblioteca na qual tinha, além de autores como Voltaire, Rousseau e Sartre, também Lênin e Marx, que Roberto fazia questão de citar na escola. Acabou expulso do Nazaré e foi estudar no Colégio Paes de Carvalho, onde fez amizade com Carlos Sampaio e Amarílis Tupiassu, e por indicação dos irmãos Farahzinhos (Alexandre e José), foi recrutado por Lenilson de Sá Holanda para a militância do PCB, de onde virou o secretário de agitação e propaganda.

Num dia, em 1965, os estudantes em greve, Roberto fez um discurso em frente ao CPC contra o então ministro da Justiça Francisco Campos, que tinha redigido o Ato Institucional nº 1, cassando praticamente todos os políticos. A polícia militar logo chegou e espancou o seu amigo Meirevaldo Paiva, que era alto e forte. Roberto Corrêa era franzino e escapou, mas teve uma ideia. Arranjaram gaze, enrolaram o espancado e o carregaram nos braços até a Folha do Norte, a fim de criar um fato político contra a ditadura.

Em 1967 passou no vestibular para o curso de Economia da UFPA e lá, com Alex Torenques, Sebastião Ramalho, Fernando Coutinho Jorge e outros criou O Papagaio, um jornal que condenava a guerra no Vietnã, a invasão do Calabouço e as atitudes do reitor Silveira Neto. 

Em 1968, criaram uma comissão de diagnóstico cuja presidência coube a Armando Mendes, e foram eleitos como delegado e representante Cabral Viegas e João Tertuliano de Almeida Lins Neto, para fazer um diagnóstico daquilo que era necessário. O aluno ia e dizia como se comportavam os professores, se dominavam a ementa, se aulas mereciam ser assim chamadas.

Do PCB passou à VAR-Palmares, assim como Ramalho, Zélia Amador e Margarete Refkalefsky. Foi preso durante uns 45 dias, primeiro no posto policial de São Brás e depois na Aeronáutica, interrogado mas não torturado, por influência da sua mãe que se dava com o brigadeiro Sidônio, cuja filha tinha sido noiva do irmão de Roberto, então pediram ao coronel Passarinho que o protegesse. Ficou em um apartamento de oficiais, podia ler os jornais. E cara a cara com o temido delegado Fleury, que lhe disse: “-Não vai querer fazer guerra de inteligência comigo, não. Tu não aguentas três minutos no pau de arara.” Aí um dos militares cortou: “- Não, aqui ninguém tortura.”

No dia de seu julgamento na Auditoria Militar, incurso na famigerada Lei da Segurança Nacional, a jornalista e hoje professora aposentada da UFPA Regina Alves, que formou gerações, teve a coragem de colocar o seu emprego em risco e não publicar a foto de Roberto, sentado diante do júri, dos militares e do juiz, a fim de não piorar a situação. Depois pediu a um amigo, Sebastião Carvalho, que entregasse essa foto, que Roberto guardou. Ele foi absolvido por um voto, o voto de minerva do juiz. O promotor se declarou suspeito para fazer a denúncia, era filho da professora Totônia, amiga da mãe de Roberto. Em Belém todos se conheciam.

Mas foi perseguido. Passava em vários concursos mas o SNI barrava a nomeação. Em um teste da Fundação Getúlio Vargas para fazer curso em bancos de desenvolvimento, e selecionado para ir aos EUA fazer um curso no Banco Mundial, em Washington, o SNI vetou. Só conseguiu o emprego de professor na UFPA em 1982, para a cadeira de Microeconomia. No Banco da Amazônia, foi indicado para ser chefe de divisão e outros mas não podia tomar posse porque o SNI dizia: “-Já é muito deixar como funcionário do banco, o que dirá nomeá-lo.”

Que esteja em paz e na luz e Deus conforte sua família!

Roberto Corrêa, presente!

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