Nos anos 40 do século XX, a praia do Chapéu Virado, no Mosqueiro, tinha três coqueiros enormes, um deles meio curvados sobre a areia, empurrado pelo vento que vinha da curva do rio.
Bem em frente da casa dos meus tios, que então ficava do lado de um grupo escolar, tinha em vez, sempre la embaixo na praia, uma mangueira enorme que nunca vi dar manga… Seus galhos, também enormes, se espalhavam com abundancia sobre a areia, provocando muita sombra. A mim, porém, interessava a parte mais alta dela.
Tinhamos duas fotos da praia, no inicio dos anos 40: numa se viam os três coqueiros e na outra, em vez so já tinham dois, um dos quais já meio deitado na praia…A mangueira, mais recente, ainda não existia, ali, por ocasião dessas fotos.
Eu so conhecia as praias do Mosqueiro, com suas ondas e a areia que fazia “shok-shok”. So descobri que rio não fazia onda, quando um casal de Manaus veio passar o dia conosco e ficaram admirados de tantas ondas. Eles so conheciam remanso e ficaram o tempo todo falando da razão das ondas do nosso rio.
Pouca gente frequentava esta parte da praia do Chapéu Virado naqueles anos. A rua que passava em frente de casa, fazia uma curva ali e não existiam tantas casas. Dobrando a rua,as praias eram menos…chics. Somente nos anos 60 uns casarões foram feitos e uma rua foi aberta, acabando com a curva e diminuindo o trajeto de quem vinha de carro para as praias mais movimentadas.
Depois que entrei para a faculdade, ja nos anos 60, cada vez que iamos para Mosqueiro, carregava nas minhas maletas, um monte de livros, com a intenção de estudar… encarapitada nos galhos da “minha” arvore. De manhã, iamos para praia tomar sol e aproveitar a maré cheia. Nenhum guarda sol na praia, nem ninguém fazendo picnic.
Depois do almoço, quando meus tios iam fazer a sesta, eu pegava uns três ou quatro livros e ia “mimbora” para minha mangueira. Me distraia em vez a estrutura de ferro que colocaram na agua em frente ao Hotel do Chapéu Virado, para os corajosos clientes se divertirem saltando la de cima…nas ondas altas.
Nesse horário, era bem capaz da molecada estar empinando papagaio o que me distraia imediatamente das minhas intenções de leitura. Numa das vezes que fomos passar uns dias no Mosqueiro, nos deparamos com a falta de um dos coqueiros. Aquele que se debruçava sobre a areia, caiu …Mais alguns meses e o outro também desapareceu.
A mangueira continuou a crescer e eu a desfrutar da vista que me proporcionava quando fingia que estudava, encarapitada nos seus galhos… Frondosa como era, ainda durou alguns anos até que suas folhas começaram a cair. Ver seus galhos diminuírem cada vez que chegavamos la, era doloroso…e um dia não a vimos mais. Foi-se levando meu ponto de apoio para olhar aquele mundo que se acabava…
Todo período de Páscoa era a mesma coisa. A casa se enchia de amigos… e, sabe la daonde apareciam sempre vizinhos para fazer a ‘malhação de Judas’ em frente a nossa casa… Meu tio era judeu, o que não impedia dele trazer o boi bumbá e os pássaros no mês de julho para festejar os santos juninos.
Com a inauguração da ponte ligando Mosqueiro a terra firme, o movimento na ilha aumentou, assim como casas, casebres e ônibus cheios de…farofeiros. As pousadas chegaram bem depois. A celeuma que causou a construção de um edifício na praia do Farol serviu para que não construissem outros.
Com a morte do meu tio, perdemos a casa e… uma lambreta foi estacionada em frente, com um restaurante que tirava a vista e a paz… daquele rio-mar da minha infância.
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