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Só agora, quando a
situação no porto de Santos se tornou insustentável, com 30 Km de filas de
carretas, atraso no embarque de cargas que significam prejuízos incalculáveis e
perda de competitividade no mercado internacional, o Brasil parece acordar para a necessidade de
aproveitamento do estratégico eixo de integração rodo-fluvial, com escoamento
da produção pelos portos do Pará.

O resultado da histórica distorção da matriz de
transporte, com concentração no rodoviarismo e nos portos do Sul/Sudeste é que as
rodovias praticamente nem podem mais ser usadas por seres humanos que tentam
exercer o seu direito de ir e vir, e o caos se anuncia.
Então, as cabeças
iluminadas resolveram fazer em um semestre o que o governo federal não fez nas
quatro últimas décadas: concluir as obras da BR-163, a rodovia Cuiabá-Santarém.
No trecho paraense, de 1,1 mil Km de extensão, quase 600 Km não passam de
estrada de terra, sem sinalização, cheia de buracos e atoleiros onde, nesta
época de inverno amazônico, caminhões deslizam pelo barro, tombam e impedem de
vez o tráfego.

O Dnit promete que, a partir de maio, quando as
chuvas amainarem, reinicia a ansiada pavimentação, de modo a direcionar as
cargas aos portos de Santarém e Miritituba, no município de Itaituba, onde
grandes cargueiros serão substituídos por balsas, mais adequadas à navegação pela
hidrovia do Tapajós. Cada comboio pode transportar até 30 mil toneladas de
grãos, o equivalente a mais de 800 caminhões.

As gigantes do setor já correram para se
instalar, antevendo o próspero negócio. As tradings
americanas Bunge e Cargill já estão em processo de licenciamento ambiental de
seus projetos e querem começar a construir terminais de grãos ainda neste ano.
Operadoras logísticas como Hidrovias do Brasil, Cianport, Unirios e Terfron
também já trataram de demarcar seus territórios.
Miritituba tem a vantagem
da interseção da BR-163 com a BR-230, a Transamazônica. Melhor ainda é que o
eixo rodoviário se integrará à hidrovia Tapajós/Teles Pires/Juruena. Além de
ser uma rota bem mais barata que a estrada, a hidrovia polui incomparavelmente
menos, é mais rápida e ajudaria a desafogar portos estrangulados e impactaria
diretamente no preço do frete que hoje é cobrado do produtor rural. Hoje, a
tabela de preços praticada no Brasil é 425% superior à da Argentina e 370% mais
cara que a dos EUA. A redução do tempo e dos custos significa maior
competitividade no mercado internacional.
Hoje, o escoamento dos
produtos da Zona Franca de Manaus é feito de barco até Belém e depois, num
trajeto irracional, segue por 3 mil Km de estrada até São Paulo. E para se ter
uma ideia da viabilidade do aproveitamento da Santarém/Cuiabá, nos 745 Km entre
Cuiabá e a divisa com o Pará, um censo industrial feito pelo Sebrae listou mais
de 800 empresas que poderiam ter suas operações turbinadas pela conclusão da
rodovia.
A pergunta salta,
serelepe: e por que essa rodovia demora 40 anos para sair do papel, se é capaz
de, aliada à feliz localização geográfica que a integra a hidrovias e portos
estratégicos, destravar os principais gargalos que travam a evolução da
infraestrutura logística do País?! Pode-se dizer que dificuldades com
regularização de terras e licenciamento ambiental, omissão do poder público e
corrupção fazem da parte da resposta.
A necessidade que o
Sul/Sudeste estão sentindo de nova rota é a grande chance do aproveitamento da
hidrovia Tocantins/Araguaia, como grande eixo de integração nacional, superados
os problemas nos trechos críticos de navegação, como o Pedral do Lourenço e
Nazaré dos Patos, que também apontam a urgência de nova ampliação do porto de
Vila do Conde, em Barcarena (PA), e de viabilizar os portos de Vila Pernambuco,
em Inhangapi, e Espadarte, em Curuçá.
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, presidente da Academia Paraense de Jornalismo, membro da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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