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Nos dias 21 e 22 de junho de 1982 a sessão do Conselho Permanente de Justiça da 8ª Região Militar, com sede em Belém, durou vinte horas e selou o destino dos padres franceses Aristides Camio e François Gouriou e 13 posseiros (João Matias da Costa, Antônio Resplande, Raimundo Resplande Coelho, Raimundo Resplande da Silva, Simplício Vieira, Venâncio Pereira da Anunciação, Raimundo Pereira da Anunciação, Arnaldo Lopes Queiros, José Ribamar, José Parreira de Araújo, Leônidas Alves Furtado, Milton de Souza Almeida e José de Araújo e Silva), todos condenados por crime contra a segurança nacional. O padre Aristides Camio, acusado de ter incitado os lavradores à revolta, foi apenado com 15 anos de reclusão e a pena do padre François Gouriou foi de 10 anos. O líder dos posseiros, João Mathias, foi sentenciado a 9 anos, e os demais a 8 anos de prisão. Mas o que o regime da ditadura militar queria mesmo era deportar os dois missionários católicos.

A mobilização popular foi crucial para a libertação deles. Assim surgiu o Movimento pela Libertação dos Presos do Araguaia, que congregava religiosos, leigos, movimento estudantil, militantes de partidos políticos de esquerda, grupos de pastoral da Juventude, sindicatos, parlamentares, diplomatas, donas de casa e movimentos sociais, numa vigorosa rede de solidariedade com conexões nacionais e internacionais. Cristãos, católicos, luteranos, evangélicos, religiões de matriz africana e inclusive ateus integraram o MPLPA. Obviamente nem todas essas pessoas concordavam com a ideologia dos presos, mas o senso de justiça prevaleceu. Ninguém suportava mais a repressão.

Foi um belíssimo e vitorioso exemplo de resistência da sociedade brasileira, sofrida com censura, perseguições, prisões, torturas, desaparecimentos e mortes, desaceleração da economia, elevado índice de desemprego, privilégios a fazendeiros, industriais e banqueiros, além dos próprios militares.

Em 1983, o governo federal finalmente capitulou e alterou a Lei de Segurança Nacional. E em 11 de novembro de 1983, no mesmo dia em que foi inaugurada a Paróquia Cristo Libertador, construída em homenagem aos padres, eles foram libertados. Durante os dois anos, três meses e dezoito dias em que estiveram presos, os religiosos franceses e os posseiros do Araguaia ficaram em diferentes cárceres, no Grupo de Trabalho Araguaia Tocantins (GTAT), em São Geraldo do Araguaia; 2º Batalhão de Infantaria de Selva; no Comando Militar Aeronáutico (Comar), na sede da Polícia Federal, no Presídio São José (somente os agricultores), em Belém (PA) e no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília.

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