Publicado em: 21 de junho de 2025
Mestre e doutor em Física e professor titular da Universidade Federal do Pará, pesquisador e escritor, Luís Carlos Bassalo Crispino, 54 anos, é bolsista de Produtividade em Pesquisa e membro do Comitê Assessor de Física e Astronomia do CNPq, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Física da UFPA e revisor de periódicos internacionais. Membro titular da Academia Brasileira de Ciências e do Conselho da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, cadeira nº 20 do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, tem foco na teoria quântica de campos em espaços-tempos curvos, buracos negros e análogos, além de emissão de radiação por cargas aceleradas.
A trajetória de Luís Carlos Bassalo Crispino é fascinante. Nascido em Belém em 1971, desde criança se interessava por ciências e astronomia. Ainda adolescente, enquanto seus amigos jogavam bola, dava aulas particulares para montar seu laboratório de observação do céu. Teve incentivo da família, em especial de um tio, o professor doutor José Maria Filardo Bassalo, pioneiro da Física na Amazônia. Um amigo dele presenteou o jovem Luís Carlos com uma coleção de revistas Sky, especializada em astronomia. Um vizinho deu-lhe um telescópio.
Aos 21 anos, antes de cursar pós-graduação, Crispino já era professor da UFPA. Ocupava um cubículo e utilizava sucata e garrafas pet. O Núcleo de Astronomia, fundado em 2006, funcionava com os telescópios que ele tinha desde garoto. Hoje, o Núcleo tem o maior acervo de telescópios da Amazônia e o Programa de Física é sediado em prédio de dois andares, com dezenas de salas, que conseguiu construir graças à colaboração do CNPq, da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), da própria universidade, professores e alunos.
Ao agradecer o prêmio, humilde como todos os sábios, o genial Bassalo Crispino pediu apoio e fomento à divulgação científica, principalmente na Amazônia, onde os recursos são parcos. “As pessoas precisam saber da importância da ciência. Porque é isso que vai nos ajudar a combater o negacionismo e as fake news. Eu recebo obviamente esse prêmio com muita alegria, mas recebo não para mim. Eu recebo para todos os meus colegas, para os alunos que nos ajudam, e recebo pela Amazônia sabendo da responsabilidade, do compromisso que tenho ao receber”.
Em 2007 Luís Carlos Bassalo Crispino ganhou o Prêmio CLIO de História, outorgado pela Academia Paulistana de História. Em 2020, o Prêmio Ernest Hamburger, concedido pela Sociedade Brasileira de Física. Promovido pelo CNPq, o Prêmio José Reis foi criado em 1978 e reconhece os que contribuem de modo significativo para a formação de uma cultura científica e por tornar a Ciência, a Tecnologia e a Inovação conhecidas da sociedade. É atribuído de forma anual, em sistema de rodízio, a três categorias: Pesquisador e Escritor; Jornalista em Ciência e Tecnologia; e Instituição e Veículo de Comunicação.
“Essa questão de pertencimento, de dizer ‘olha, eu não preciso sair de Belém do Pará, eu não preciso sair da Amazônia para fazer parte de um grupo, de uma equipe que realiza ciência de qualidade’, eu acho que isso é importante inclusive para a autoestima do jovem. Ele perceber que o seu local tem valor, inclusive no que tange à produção científica. Não é simplesmente o cidadão amazônida saber da importância da Amazônia para o mundo. Ele precisa saber do valor da Amazônia para ele mesmo. Entender que é capaz de ter uma vida digna na Amazônia. Porque nós só vamos conseguir preservar a Amazônia quando o cidadão amazônida tiver uma vida digna para si e para sua família”, comenta o premiado cientista.
O ser humano é apresentado à ciência na escola. Então eu acho que é muito importante que as instituições de ensino superior, os centros de pesquisa, tenham sempre um contato, uma parceria com as escolas de sua região ou mesmo online. Nós aqui constantemente recebemos ensino fundamental, ensino médio, ensino superior, a terceira idade. É importante para o divulgador de ciência ter muito claro o seu público. Quando vou apresentar uma experiência, um conceito de ciência para o meu filho de dez anos de idade, tenho que pensar em qual a melhor maneira e estar sempre aberto através do feedback, através do retorno que ele me dá. Muitas vezes uma pessoa não vai conseguir comprar um smartphone, não vai ter acesso a um sinal de satélite e internet, mas vai ter uma escola e ali é onde tem que ser apresentada a ciência para ele, complementa o pesquisador.
Através de projeto financiado pelo CNPq, Crispino já realizou mais de vinte mostras de astronomia e ciências espaciais em cidades do Pará, às quais cientistas da UFPA se deslocam levando equipamentos, monitores, voluntários e técnicos de laboratório. Ficou marcado de modo especial em São Félix do Xingu, em outubro de 2023. Naquele mês, aconteceu um eclipse anular do sol, perceptível na Amazônia e, em particular, naquele município. “A nossa equipe foi com uma pessoa da Secretaria Municipal de Educação de São Félix do Xingu em uma aldeia indígena, e lá colocamos um telescópio para a observação do eclipse. Isso me comoveu. […] É uma das uma das realizações mais emblemáticas da divulgação científica desse centro que hoje nós temos aqui”, conta o professor.
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