Uma pesquisa desenvolvida na Universidade Federal do Pará (UFPA) foi agraciada com Prêmio de Melhor Tese de Doutorado do Observatório Nacional (ON). A tese “Challenging the Kerr Hypothesis with Scalar Fields, Tidal Forces and Shadows”, de autoria de Haroldo Cilas Duarte Lima Júnior, com orientação do professor Luís Carlos Bassalo Crispino, já havia conquistado o Prêmio José Leite Lopes da Sociedade Brasileira de Física (PJLL/SBF) em 2024. O estudo, que investiga as propriedades e o comportamento dos buracos negros, destacou-se pela inovação no campo da gravitação, astrofísica e astronomia, trazendo contribuições inéditas sobre a forma como o ambiente externo pode influenciar esses misteriosos objetos do universo.
Os prêmios do Observatório Nacional e da Sociedade Brasileira de Física são reconhecidos como marcos de excelência na área de pesquisa em Física no Brasil. O Prêmio do ON, concedido em parceria com a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da Computação Científica (FACC), reconhece os melhores trabalhos de doutorado nas áreas de Astronomia & Astrofísica e Geofísica. Já o Prêmio José Leite Lopes (PJLL/SBF) destaca teses de excelência que ampliam o conhecimento da natureza, sendo uma das mais importantes distinções acadêmicas do país.
Para Haroldo Lima, receber ambas as premiações representa um reconhecimento pelo esforço científico e também uma oportunidade de projeção para sua pesquisa e para a UFPA: “O Observatório Nacional é uma instituição científica de grande prestígio no Brasil, e receber uma distinção concedida por essa entidade é uma enorme satisfação. O Prêmio Observatório Nacional de Melhor Tese na Área de Astronomia & Astrofísica representa um momento importante na minha carreira, pois reconhece a qualidade da pesquisa desenvolvida durante o meu doutorado no Programa de Pós-Graduação em Física da UFPA. Acredito que esta conquista trará inúmeros benefícios para minha carreira, incluindo maior visibilidade nacional para a pesquisa em gravitação”.
A pesquisa de Haroldo Lima desafiou a chamada Hipótese de Kerr, um dos modelos mais aceitos na descrição dos buracos negros. Seu estudo propõe que o comportamento desses objetos pode ser alterado por fatores externos, como campos magnéticos e interações com matéria ao redor, questionando o modelo tradicional que considera buracos negros isolados no universo.
Entre os principais resultados da tese, destacam-se as afirmações de que as sombras dos buracos negros podem variar significativamente dependendo do ambiente em que estão inseridos, sugerindo que as imagens captadas por telescópios, como o Event Horizon Telescope (EHT), podem ter variações inesperadas dependendo da presença de campos magnéticos externos; a dinâmica de partículas e campos ao redor de objetos compactos pode indicar que esses corpos celestes não são necessariamente buracos negros convencionais, mas sim estrelas de bósons ou até mesmo buracos de minhoca; e que esses objetos podem apresentar características bem diferentes dos modelos teóricos tradicionais, tendo em vista que o impacto do ambiente astrofísico sobre as propriedades dos buracos negros foi analisado de forma detalhada.
A pesquisa foi realizada no Programa de Pós-Graduação em Física (PPGF) da UFPA e contou com um ano de doutorado sanduíche na Universidade de Aveiro, em Portugal. Além disso, Haroldo colaborou com cientistas de Portugal, Japão e China, o que atribuiu o caráter internacional da investigação.
Para o orientador da pesquisa, professor Luís Carlos Crispino, a conquista de dois prêmios nacionais de grande relevância reafirma o potencial da UFPA como polo de excelência científica no Brasil. “São feitas pesquisas na UFPA com uma qualidade comparável às melhores pesquisas feitas no país e no mundo. Este prêmio é uma mostra disso. A Amazônia possui duas principais vocações naturais, que são a Biologia e a Geologia. Mas não é só isso. Nossos jovens e nosso povo, de uma maneira geral, quando lhes é dada a devida oportunidade, têm condições de fazer pesquisa de ponta em qualquer tema. Talvez a sociedade não tenha conhecimento da relevância das investigações científicas realizadas na Amazônia em diversas áreas e acredito que este reconhecimento pode ajudar nesta percepção”, destaca.
O professor também ressalta as dificuldades enfrentadas por pesquisadores em regiões distantes dos grandes centros de pesquisa. “Realizar um estudo dessa magnitude longe dos principais polos científicos e com recursos limitados é um grande desafio. Ver essa tese ser reconhecida com prêmios nacionais em diferentes áreas demonstra que alcançamos nossos objetivos. Como ouvi recentemente, ‘o impossível fazemos com alguma frequência, milagre é um pouco mais difícil’”.
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