A dissenção entre o prefeito de Ananindeua, Dr. Daniel Santos, e o governador Helder Barbalho, que já vinha se desenhando há longo tempo, tomou contornos fáticos hoje. O Diário Oficial do Estado expôs as entranhas do rompimento entre os dois. Nada menos que vinte e duas exonerações de pessoas indicadas pelo prefeito ananin, que ocupavam cargos nevrálgicos, digamos, como as gerências e coordenadorias e assessorias do Iasep. Dono de hospital, assim como o seu vice, Erick Monteiro, que é deputado estadual eleito, é um golpe letal perder o comando do Instituto.
Daniel nunca escondeu seus planos de governar o Pará, que se chocam com os de Helder. Aliados estratégicos em 2018 (na época Daniel Santos era vereador do PSDB, presidia a Câmara Municipal de Ananindeua e se elegeu o mais votado para a Alepa, que presidiu com o apoio de Helder) e em 2020 (passou de mala e cuia para o MDB e se elegeu prefeito, também com apoio de Helder), ultimamente já estavam expostas as fraturas da aliança. Durante a campanha deste ano houve uma última parceria, e a primeira-dama ananin, Dra. Alessandra Haber, foi eleita com votação consagradora deputada federal, e o vice, estadual, manobra de fortalecimento do projeto de poder apelidado República de Ananindeua.
Para se firmar como protagonista na política nacional, onde já transita com desenvoltura, inclusive em eventos internacionais de relevância como a COP 27, no Egito, na qual será palestrante, o governador precisava se cacifar junto a Lula com uma votação decisiva no segundo turno. Convidou todos os políticos da base aliada, com mandato ou não, para a empreitada. Prefeitos, vereadores, deputados estaduais e federais aderiram à campanha, mas o Dr. Daniel, sua esposa Alessandra e o vice Erick Monteiro foram as ausências mais vistosas. Não só se mantiveram silentes como trabalharam contra as expectativas de Helder, que tem feito muitas obras e serviços importantes em parceria com o município e esperava a contrapartida no apoio a Lula. Fato revelador é que o presidente Jair Bolsonaro foi vitorioso em Ananindeua, que é o segundo maior colégio eleitoral do Pará. O mapa eleitoral aponta 50,28% contra 49,72% para Lula. O estrago só não foi maior porque o governador Helder Barbalho e o presidente da Alepa, deputado Chicão, moram e votam em Ananindeua e comandam grande parcela do eleitorado.
A situação, assim, se tornou insustentável. Agora, ficou evidente que a sucessão municipal na Região Metropolitana de Belém será alvo de uma engenharia política tão ou mais complexa e eficiente quanto a que assegurou a Helder a reeleição em patamar inédito, concebida, alinhavada e costurada com antecedência, desestruturando partidos adversários e cavando embaixo dos pés dos oponentes, com ações cuidadosamente planejadas, como um jogo de xadrez. É o comando do partido onde tudo começa. Com o controle do MDB Ananindeua nas mãos do presidente da Alepa, deputado Chicão, é evidente que o Dr. Daniel e a Dra. Alessandra Haber logo desembarcarão da sigla, pois nela não terão espaço. Para onde irão é outra história.
O jogo de gato e rato está em andamento.
Comentários