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Sempre quis domar o tempo e deve ser por isso que sou viciada em criar alarmes no celular. Tenho horário certinho pra tudo: acordar, meditar, estudar, tomar café, me exercitar e até pra namorar meu marido… Espremo as horas até a última gota numa tentativa ingloria de segurar a vida, talvez porque por algumas vezes senti que ela estivesse fugindo de mim…

Aos 5 anos sofri um acidente grave onde perdi muito sangue…lembro de sentir o cheiro e a temperatura dele: Jorrava vida do meu ferimento e eu não sentia medo! Num determinado momento uma leveza, nada de dor. Era só o colo seguro da minha avó Ester a caminho do pronto socorro.  Era só o não ter que acordar mais tão cedo pra ir pra escola. Era a coleção de figurinhas incompleta e o sorvete que tinha ficado pra depois… »então morrer é isso? » foi exatamente o que pensei. Acho que foi nesse dia que tive minha primeira consciência sobre a finitude e que talvez viver tivesse um certo peso porque eu estava morrendo e me sentia relaxada.

Estou na semana do meu aniversário, são 44 anos carregando Como posso o peso de estar viva. Isso passa longe de ser uma queixa, uma constatação fisiológica apenas. A vida vai pesando e a gente segue buscando maneiras de suporta-la com tudo que ela carrega, sejam bons ou maus momentos. É engraçado porque quanto mais longa a vida, somam-se as bagagens. Nossa história é uma biblioteca de Alexandria a tira colo. E isso é tão bom, e isso dói tanto alguns momentos! Que pesada a nossa rica e incomparável bagagem! 

Quanto a carregá-la, já tive mais disposição, mais pressas e urgências. Hoje assumo as rodinhas que carinhosamente as agreguei. 

Sobre o tempo, desse não desapego. Escrevo aqui sobre a égide das cobranças de meus alarmes criativos. E me levanto mais um domingo para carregar tudo o que tenho e driblar num jogo de esconde e esconde minhas duras verdades e minhas mentiras de estimação e alívio.

Viver é bom! Viver é tudo que me importa. Segue ó tempo, implacável! 

Feliz aniversário pra mim!

*segue a foto conceitual do mar visto através de um biscoito « globo”.

Duas delícias que ainda me fazem acreditar num bom futuro pra nossa gente desse Rio de Janeiro tão esculhambado…

Landa de Mendonça
Atriz, cantora e produtora. Nascida em Belém do Pará, em 2009 mudou para o Rio de Janeiro, onde frequentou cursos de interpretação e de canto no Conservatório Brasileiro de Música, participou de musicais, peças e filmes. Em Brasília, compôs o coro cênico da ópera “Olga” de Jorge Antunes, no encerramento do Festival de Ópera da cidade em 2013, sob a direção de William Pereira. Foi residente da Cité Internationale des Arts de Paris, juntamente com sua família de artistas de 2018 a 2019 apresentando como resultado o projeto “Chico Buarque de Chambre”, que estreou em 9 de dezembro de 2019 onde cantou arranjos de seu marido e parceiro artístico, o maestro Mateus Araújo, passeando pelo universo musical e cênico de Buarque. De volta ao Brasil, em 2020 fez parte do elenco do curta metragem  « Totem » de Kadu Zargalio. E-mail landatrizprofessional@gmail.com

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