0

Mais um “causo” do livro ainda inédito do advogado Ronaldo Passarinho, conselheiro aposentado e ex-presidente do TCE-PA, ex-deputado e ex-presidente da Assembleia Legislativa do Pará, remista apaixonado, relatado com com exclusividade:

“Na minha juventude uma revista americana nos empolgava pela variedade de informações e artigos utilitários. “Seleções do Reader Digest” trazia em seu bojo uma coluna intitulada “Meu tipo inesquecível”. Não poderia escrever sobre apenas um tipo pois durante minha longa vida tive diversos que me marcaram até hoje. Minha avó materna, Julia Passarinho foi um dos maiores.

Nascida e criada em Viseu, de lá saindo após seu casamento, vovó Julia manteve a vida inteira hábitos arraigados em sua juventude. Ensinou “máximas” úteis até hoje: “remédio que não arde, não presta”; “não precisamos de nada na vida mas, muitas vezes, até as ervas que crescem nas calçadas e quintais nos são úteis”. Referia-se à erva cidreira, ao chá do maracujá, ao chá do broto de laranjeiras, etc., etc. Quando um objeto se perdia, o remédio era uma oração em forma de quadrinha que se mostrava infalível: “São Tomaz de Vila Nova, Bispo e Arcebispo, deparai com o perdido, pelas chagas de Jesus Cristo”. Até hoje, Marília e eu, quando estamos aflitos, recorremos a São Tomaz, mesmo sem saber da sua existência. O resultado é sempre bom e o objeto “fujão” logo aparece.

Católica por tradição familiar, vovó Julia mantinha um oratório com muitas imagens de santos e santas. No seu quarto, na nossa casa, um enorme móvel chamado de gavetão, com três gavetas, guardava suas roupas, lençóis, toalhas e algumas quinquilharias. Em um certo domingo, tio Saint-Clair e tio Jarbas foram me buscar em casa para assistirmos a um jogo entre Remo e Paysandu. Vovó tomou uma providência para ajudar em uma vitória do Remo. Uma imagem de Santa Joana D’Arc, guerreira que expulsou da França os invasores ingleses, foi colocada em um móvel da sala de jantar, circundada por velas. Promessa feita, fomos para o estádio. Na nossa volta, vovó, ansiosa, perguntou o resultado. Disfarçando a tristeza, anunciamos a vitória do … Paysandu. Vovó não contou conversa. Apagou as velas que cercavam a santa, pegou a sua imagem, foi para o seu quarto, abriu a gaveta de baixo, tirou uma toalha de banho, envolveu a imagem da santa que não atendeu suas preces e a colocou de castigo no fundo do móvel. Santa Joana D’Arc, queimada na fogueira há muitos séculos, desta vez foi cassada pela vovó Julia.”

Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

Cristina Serra candidata a presidente da ABI

Anterior

Circuito Rango de Feira revela vencedores

Próximo

Você pode gostar

Comentários