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Dois jovens quilombolas, Elisaldo e Vanderson, que estavam desaparecidos havia dezessete dias, foram resgatados hoje (10) perto da comunidade Nova Aliança, no Acapu, região do Alto Trombetas, em Oriximiná. Eles foram vistos pela última vez na comunidade Erepecu, onde enveredaram na mata fechada procurando castanha para coletar e se perderam. As famílias estavam desesperadas, há muitos perigos na floresta. Para agravar ainda mais a situação, não há destacamento do Corpo de Bombeiros Militar no município, um dos mais importantes do Pará, e o prefeito Argemiro Diniz Filho dissolveu a Brigada de Incêndio municipal assim que assumiu o cargo, não se sabe o porquê, já que se trata de serviço essencial.

Diante da inércia da prefeitura e da agonia da população, o vereador Manoel Buchecha, remanescente quilombola, protagonizou ato heroico para salvar os jovens, atendendo aos apelos da comunidade. Fez uma “vaquinha” e assim conseguiu os recursos necessários para contratar os Bombeiros Civis demitidos pelo prefeito, que empreenderam a busca e nesta quinta-feira veio o resultado: os rapazes foram encontrados, vivos. Manoel Buchecha contratou também uma lancha, que fez o resgate e transportou os jovens para o hospital no distrito de Porto Trombetas, onde receberão atendimento adequado.

Estabelecidas ao longo do rio Trombetas, as comunidades negras de Oriximiná são emblemáticas, por serem protagonistas do primeiro caso de titulação de terra quilombola no Brasil, e também pelo título coletivo da propriedade conquistado com pioneirismo, precedente da maior importância para ações em todos os estados brasileiros. Em 1989 as comunidades negras locais se organizaram em torno da Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Município de Oriximiná (ARQMO), ferramenta de luta, marco e exemplo para as demais comunidades quilombolas no país.

Oriximiná é um extenso município da Amazônia parauara. Tem 107.603 Km2, é maior do que Portugal. Lá vivem cerca de dez mil quilombolas e 3.500 indígenas de diferentes povos, ocupando 12 territórios.

A coleta da castanha-do-pará (Bertholletia excelsa) faz parte da tradição dos quilombolas de Oriximiná e constitui elemento importante de sua identidade étnica. A lida com a castanha teve início quando os escravos fugitivos constituíram seus quilombos nas matas que margeiam o rio Trombetas e seus afluentes. Ao fugir, os negros tiveram que aprender a extrair da floresta sua sobrevivência. Passaram a caçar, pescar e coletar produtos vegetais na mata. Além da castanha, os quilombolas extraíam a salsaparrilha, o cumaru, o óleo de copaíba, andiroba e pequiá. Desde o século 19 a castanha representa importante fonte de renda para os quilombos da região.

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