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Acabei de ler o livro de Airton Souza, premiado pelo SESC como o melhor romance e publicado pela Record. O autor, de Marabá, vem colecionando prêmios com seus trabalhos, em uma movimentação necessária para furar a bolha que nos separa dos grandes mercados literários do sul e sudeste. “Outono de carne estranha” é um belo romance que se caracteriza por uma linguagem adoravelmente áspera, exatamente o aspecto diferente que chama a atenção e se destaca. Um escritor árabe disse uma vez “escrever é muito fácil, por isso é tão difícil”. Com os novos tempos e a possibilidade de publicação em sites, ou então impressão de pequenas quantidades em gráficas rápidas, muita gente (que bom!), deixou a timidez de lado e atirou-se à literatura. Mas, para se destacar, diferenciar-se, além de uma boa história, é preciso uma escrita ímpar. E Airton consegue em uma narrativa com número de páginas suficiente para nos levar ao ambiente absurdo, vivido na Serra Pelada por milhares de homens com a ambição de encontrar ouro e bamburrar, como diziam. Com a proibição da entrada de mulheres, bebidas e armas, havia uma imensa tensão entre aqueles corpos suados, enlameados, cansados, mas presos a um sonho. Há um padre que em um domingo, se depara com apenas seis fiéis para assistir sua missa, diante dos milhares de garimpeiros seduzidos por outro deus, o do dinheiro. Deixa tudo para trás e vai também procurar ouro. E há dois homens que por diferentes motivos, mantém relações sexuais, cheios de problemas, deixados em suas casas, distantes, ou na vida. Há o “marechal”, na verdade o Major Curió, cercado de bate paus, distribuindo sua noção de justiça e prostitutas recebendo homens sedentos de sexo em Marabá ou em dois outros puteiros, na estrada. E tudo isso em linguagem ligeira, aqui e ali privilegiando emoções, perdas, saudades e amores. Um grande livro que me enche de orgulho, como paraense. Imoral foi a postura em alguns Estados de censura e proibição, por conta de cenas de sexo e palavrões. Isso é voltar à barbárie. Pior a saída da Record como parceira do programa do SESC. Pois faço um convite para que todos possam usufruir de um grande livro, com excelente Literatura.

Edyr Augusto Proença
Paraense, escritor, começou a escrever aos 16 anos. Escreveu livros de poesia, teatro, crônicas, contos e romances, estes últimos, lançados nacionalmente pela Editora Boitempo e na França, pela Editions Asphalte. Foto: Ronaldo Rosa

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