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Líbero Luxardo foi meu tio. Formou com minha tia Adalcinda Camarão um casal potente na área da Cultura. Ele com livros e filmes, ela com a poesia. Paulista, chegou nos anos 40, do século passado em Belém com dois filmes já realizados. Aqui, foi muito ativo na política e amigo pessoal de Magalhães Barata. A ele coube o encargo de comunicar ao público que lotava a casa da Dr. Moraes o falecimento do caudilho. Mas foi a Cultura que o notabilizou. Escreveu livros e fez filmes. Quase sem equipamento e usando de conhecimento técnico para driblar as dificuldades foi o pioneiro no Pará. É claro que sofreu críticas. Os cinéfilos da época talvez esperassem a mesma qualidade dos europeus ou americanos. Não perceberam a grandeza, coragem, iniciativa e pioneirismo de Líbero. Agora, seus filhos Líbero Antonio e Mônica estão relançando seus trabalhos de maneira a perpetuar sua obra, principalmente em uma terra de tão pouca memória. Pela Paka Tatu saiu “Um Dia Qualquer”, um de seus primeiros livros e percebemos claramente sua intenção de a partir de histórias simples de amor, registrar o mundo daquela época, Belém de paralelepípedos nas ruas, Manoel Pinto da Silva, Grande Hotel e seu terrace, Maloca, com frequentadores tomando Guarasuco, Museu Emílio Goeldi, Ver o Peso, Igreja e Praça do Carmo, Cemitério da Soledade e Mosqueiro. Maravilhoso. Também percebemos que Líbero foi audacioso ao incluir duas cenas de nus femininos, feitas com delicadeza. Saibam que não havia captação direta do som, sendo necessário, em laboratório, que os artistas dublassem suas falas. Outras manifestações são o Círio de Nazaré, Terreiro de Macumba, festa de São João com até ônibus trafegando ornados com as capelinhas de São João. A batalha de dois bois bumbás também é registrada. Líbero não era um diretor de atores e por isso os diálogos são fracos, na medida certa, se percebermos as circunstâncias em que tudo foi feito. A montagem, edição final às vezes mostra detalhes da filmagem com uma câmera apenas, imaginem só, mas não prejudica. Todos os atores são amadores, gente de sociedade, como o Dr. Helio Castro, o violonista Sebastião Tapajós, tão novinho, letras de Bruno de Menezes nos bumbás e os dois grandes Cláudio Barradas e Nilza Maria. Paro por aqui de citar nomes porque não lembro agora de todos. Especial mesmo e que eu não sabia é o fato do grande Maestro Pixinguinha ser o autor da trilha sonora, com vários chorinhos, marchinhas e temas românticos executados por sua orquestra. Muito especial. Onde estará a trilha sonora? O filme é ótimo para rever Belém. Eu era bem menino, mas reconheci tudo. Líbero Luxardo era encantador. Um homem bonito e que magnetizava a todos que chegassem perto. Ele ia na minha casa e conversava com meus pais. Talvez não entendesse nada mas ficava ouvindo, impressionado, a melodia de sua voz, sua inteligência, seu brilho natural. Imagino a dupla que formou com minha tia Adalcinda, quando circulavam pela cidade, se metendo em manifestações políticas, dando sua opinião e marcando sua presença neste mundo. Eu os convido a assistir ao filme “Um Dia Qualquer” e ler o livro. O filme assisti no YouTube, após a leitura e compreendendo todas as circunstâncias e a importância tanto do livro quanto do filme. Aproveito para avisar que em dezembro, outro livro, “Purus” será lançado. Aguardem.

Edyr Augusto Proença
Paraense, escritor, começou a escrever aos 16 anos. Escreveu livros de poesia, teatro, crônicas, contos e romances, estes últimos, lançados nacionalmente pela Editora Boitempo e na França, pela Editions Asphalte. Foto: Ronaldo Rosa

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