Parece que tem um Curupira na redação do Diário do Pará, pregando peças às editorias e fazendo confusão. Na edição de anteontem, dia 24, que também foi a de ontem, 25, o jornal publica matéria de página inteira sobre a ação do Ministério Público do Estado contra o secretário de Saúde e vários servidores da Sespa, aproveitando para bater no governador, tanto que o título é “Jatene desrespeitou a lei de propósito, diz promotor“. Já a chamada da capa ficou assim: “Presença Viva – promotor afirma: Simão Jatene não desrespeitou a lei“.
Lembrou-me de imediato o poema lírico e dramático de “Fado Tropical” (Chico Buarque e Ruy Guerra), que tenta equilibrar sentimentos e atitudes, declamando desabafos e justificando a crueldade de seus atos.
“Sabe, no fundo eu sou um sentimental. Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo ( além da sífilis, é claro). Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar, o meu coração fecha os olhos e sinceramente chora…”
“Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto,
De tal maneira que, depois de feito,
Desencontrado, eu mesmo me contesto.
E as minhas mãos o golpe duro e presto,
De tal maneira que, depois de feito,
Desencontrado, eu mesmo me contesto.
Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito,
Me assombra a súbita impressão de incesto.
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito,
Me assombra a súbita impressão de incesto.
Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadura à proa,
Mas meu peito se desabotoa.
Ostento a aguda empunhadura à proa,
Mas meu peito se desabotoa.
E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa,
Pois que senão o coração perdoa”.
Mais que depressa a mão cega executa,
Pois que senão o coração perdoa”.
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