Qual a razão para tanta saudade? Ah, bons tempos, todos dizemos, os que têm acima de 50 anos, creio, ao lembrarmos de fatos, artistas, música, amores. Mas em um mundo tão voraz, rápido, caudaloso de informações e eventos, o que há para termos tanta saudade? O filme com a Fernanda Torres, sobre o assassinato, por parte do Exército, anos 60, do deputado Rubem Paiva está cotado para o Oscar, a atriz batendo recordes de likes e tais na internet, platéias aplaudindo e chorando ao final. Ainda não assisti, mas vou. Estou lendo o livro “O que não tem censura, nem nunca terá”, de Márcio Pinheiro, para a L&PM Editores, que compila os problemas que Chico Buarque teve, durante todo o tempo da ditadura militar no Brasil, com a censura. Às vezes chega a ser muito engraçado ler a “interpretação” de alguns militares censores, ineptos para suas funções. É também digno de admiração os truques, os dribles, as figuras de linguagem utilizadas nos textos e letras de músicas que eram liberadas para após alguns dias, executadas maciçamente na mídia e reveladas as óbvias (menos para os censores) mensagens, tendo como consequencia, quase sempre, a dispensa dos canas. Quando acabar de ler, passo a um livro sobre Torquato Neto, um dos grandes poetas do tropicalismo, ator de filmes undergrounds e que, infelizmente, tirou a própria vida. Ele também é daqueles anos 60… No carro danei-me de ouvir Gal Costa de “Tuareg”, de Ben, “A Cultura e a Civilização”, de Gil, “Namorinho de Portão”, de Tonzé, enfim, “aqueles tempos bons”, caí no clichê. Na Disney, assisti ao documentário de Martin Scorcese sobre a chegada dos Beatles aos Estados Unidos em 1964. A explosão dos jovens, tirando o luto da recente morte de Kennedy, brutalmente assassinado. A perplexidade dos garotos, chegando a um país que não conheciam. Fãs de rock and roll e de r&b, eles ouviam na Inglaterra, discos de cantores negros e passaram a gravar seus sucessos, sem se importar ou saber, realmente, do racismo cretino que havia nos EUA. Seus ídolos eram Ronettes, Miracles, Smokey Robinson e, de repente, os bobocas yankees tiveram de engolir a boa música negra. Adiante, os Rolling Stones chegaram chamando de deuses os músicos do blues, que também eram execrados. Foram visitar o lendário Chess Studios e havia um negro pintando as paredes. Era Muddy Waters, que depois teve a fama merecida. Tudo coisa dos anos 60. O tempo passou, nossos ídolos estão acima dos 80, naturalmente menos prolíficos e estamos voltando ao passado para ouvir tudo de novo, discos remixados, filmes com melhor qualidade, livros que aprofundam questões. E o que há de novidade, hoje, que parece não nos entreter? Bom, não nos esqueçamos que a geração mais velha, hoje, não parou de consumir. Os velhinhos continuam trabalhando, produzindo e consumindo. Os produtores culturais mais jovens estão fazendo seu tempo, sua maneira de consumir e propor cultura. Temos direito à opinião que filmes de super heróis assistíamos quando tínhamos uns doze anos de idade, não parecendo fazer sentido assistir agora, adultos. Mas as platéias estão lotadas. Felizmente há novos escritores, sobretudo aqui no nosso Pará, que estão arrebentando. Mas na música, puxa, está muito difícil. Pedro Luiz e a Parede lançaram disco novo. A única faixa interessante é um remake de “Muito Romantico”, de Caetano Veloso. A francesa Zaz gravou com Alceu Valença “La Belle de Jour”. O baixista Jorge Helder lançou um cd tocando músicas de Chico Buarque. Não me falem das estrelas do funk e sertanojo, please. Na Prime estreou a penúltima temporada de “Outlander”, trama que se passa no século XVIII, mais uma do passado. Pra quê tanta saudade? Nós, os mais velhos, temos é saudade de nós mesmos? Do que fomos? Mas como, se ainda somos?
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