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Leio Elias Pinto e sua aventura caminhando pela Praça da República, tentando proceder como cidadão comum, gozando de seu direito de ir e vir em plena segurança. Não há. Há uma violência vigente atualmente em nossa cidade. Há uma selvageria nas ruas, promovida por todos nós que tanto odiamos esta cidade. Circulo diariamente pela Praça da República, que conheço por uma vida inteira. Passei a infância em suas alamedas. Adulto, levava meus filhos e na velhice, meus cachorros. Não dá mais. Será que seria uma despesa absurda se a Prefeitura mantivesse uma equipe, sei lá, duas pessoas responsáveis pela manutenção dos logradouros? A grama está sempre alta. Instalaram postos policiais somente para os guardas conversarem animadamente e até manterem relações de amizade ou compadrio com moradores de rua, traficantes, drogados e malucos que circulam. Há até antiquados hippies que se jogam em mini apês pelas calçadas. Malucos se masturbando calmamente. Pedintes agressivos. Venezuelanos abandonados com suas crianças encarregadas de pedir esmolas. Um lugar tão lindo, um oásis em meio à loucura do trânsito, das pessoas mergulhadas em seus celulares, outras na correria diária. E não serve para um pitstop, uma pausa para recuperar o fôlego. Elias Pinto disse mais, sobre o trânsito. Transformamo-nos em criminosos à bordo dos nossos veículos. Em Belém, dirige-se por imposição. Chuvas de motociclistas não obedecem nenhuma lei e trafegam zunindo em ziguezague, contramão, nas calçadas de maneira feroz, reagindo estupidamente a qualquer senão apontado. Bicicletas, quase todas na contramão em avenidas de grande fluxo. Pedestres atravessando em qualquer lugar ou andando pela rua ao invés da calçada, talvez por medo de assalto. Ônibus assassinos, caindo aos pedaços, abrem espaço na marra. Automóveis na contramão aproveitando qualquer espaço. Taxis ou Uber que param no meio das ruas e quem estiver atrás que se lixe. Caminhões a qualquer momento estacionando em filas duplas, triplas, para descarregar suas cargas. Dirigir em meio a essa selvageria é um risco enorme. Quando param nas faixas de segurança, mantém os pedestres sob tensão, acelerando, fazendo roncar os motores, os motociclistas passando no meio dos pedestres porque não vão obedecer sinal algum, nem os ciclistas. É como um tiroteio e penso às vezes em me jogar no chão para não levar uma bala perdida. Perdida?. É o egoísmo elevado à máxima potencia. Faço o que quero e pronto. E ai de quem reclamar. Não há solução à vista Envolve um projeto de Educação dos Cidadãos que nem sei por onde começar. Há também essa pressa em que o mundo inteiro foi jogado que nos dá a impressão que se não passarmos na frente, não ultrapassarmos, não conseguiremos salvar o mundo, algo assim como nesses filmes em que somente uma pessoa pode evitar a catástrofe final. Há um desrespeito pelo outro. O outro. Ele vale menos porque te atrapalha na sanha de passar primeiro. E há o ódio pela cidade, que nos faz ter ruas cheias de buracos, cidade alagada a qualquer chuva, pichadores atentos a qualquer parede recentemente pintada. É preciso destruir a cidade. É preciso agredi-la. É preciso gritar nosso descontentamento. Nossa miséria. Nosso desemprego. Nossa falta de Educação. Nós somos cretinos e temos orgulho. E odiamos Belém. Somos nós que não deixamos nada melhorar. E nossos políticos que são os maiores aliados do caos. Cidades grandes são grandes complexos que precisam ser geridas por especialistas e não políticos, que dêem conta de suas necessidades. Vivemos uma selvageria. Lamentável. Quanto a mim, amo minha cidade.

Edyr Augusto Proença
Paraense, escritor, começou a escrever aos 16 anos. Escreveu livros de poesia, teatro, crônicas, contos e romances, estes últimos, lançados nacionalmente pela Editora Boitempo e na França, pela Editions Asphalte. Foto: Ronaldo Rosa

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