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Santarém é, historicamente, berço de poetas, escritores, músicos e artistas plásticos, mas também terra de revolucionários. A cidade tem população alegre, pacata e hospitaleira, mas que viveu intensamente a Cabanagem e resistiu à ditadura militar, tendo sido por isso declarada área de segurança nacional. De modo que, por pouco, não houve um levante de santarenos hoje. É que o vereador Carlos Silva (PSC), protocolou em maio na Câmara Municipal o Requerimento de nº 940/2021, aprovado à unanimidade pelos 21 vereadores, cujo objeto era homenagear com uma sessão solene os 153 anos da chegada dos chamados Confederados, supremacistas brancos estadunidenses, em 17 de setembro do século XIX.

A reação foi contundente: quinze entidades divulgaram duro manifesto repudiando a iniciativa, que consideraram uma celebração ao terror, à eugenia, ao racismo e à violência covarde perpetrada por grupos que defendem a escravidão negra e indígena.

Aí, dois vereadores do PT, após a repercussão da nota, perceberam o equívoco e também mudaram seus votos e se declararam contra a sessão, além do que a Executiva do partido também se pronunciou sobre o tema publicamente, contrária a qualquer tipo de ideologia racista, escravagista e supremacista.

Com o clima de insurreição iminente, a sessão marcada para amanhã, dia 14, foi cancelada. Em suas redes sociais, o vereador que concebeu a ideia tentou se justificar, esclarecendo que os descendentes dos Confederados não compactuam com os ideais racistas das famílias pioneiras que aportaram em Santarém – o que é verdade -, e afirmando que a contribuição deles foi fundamental para a edificação da Igreja Batista. Acontece que, como se sabe, a Ku Klux Klan é a representante desse grupo até hoje nos EUA.

Em seu blog Furo, o jornalista, escritor, pesquisador e professor Rogério Almeida lembrou que a imigração dos Confederados foi possível graças a um convênio firmado entre o presidente da Província do Pará e o major Lansford Warrem Hastings, em novembro de 1866.

O historiador Eurípedes Funes, autor de uma tese na USP sobre a presença quilombola no Baixo Amazonas, apurou que os Confederados oriundos do Vale do Mississipi, Tennessee e Alabama aportaram em terras parauaras fugidos após a derrota na Guerra de Secessão. Era um grupo com mais de cem pessoas.

O Barão do Tapajós (Miguel Antônio Pinto Guimarães), genro de Maria Macambira, latifundiária na região do Baixo Amazonas célebre por sua crueldade com os negros, firmou sociedade com o confederado Romulus Rhome (sociedade Pinto & Rhome), a fim de modernizar a fazenda Taperinha, cujos escravos fugidos fundaram quilombos no chamado Planalto Santareno, área de terra firme.

Sobre os confederados em Santarém, além da obra de Norma Guilhon e a tese de Eurípedes Funes, foi publicada a tese de doutorado de Célio Antonio Alcântara Silva, na Unicamp. Cliquem aqui para ler a íntegra desse estudo.

Na foto de Rogério Almeida, o Solar dos Brancos, localizado no centro de Santarém, símbolo da presença dos Confederados no município, hoje descaracterizado por uma loja de departamentos que funciona no térreo.

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