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Foto: Betto Silva/Norte Energia
Brasil, País da contradição. Mais um dos imensos rotores que serão instalados na Usina Hidrelétrica Belo Monte está cruzando o território nacional, ao longo de 2.200 quilômetros entre a fábrica da Andritz Hydro, em Araraquara(SP), até a área de montagem, em Vitória do Xingu, no Pará. A peça, que mede 8,7 metros de diâmetro externo, tem 5 metros de altura e pesa cerca de 330 toneladas, vem um caminhão de 100 metros de comprimento e quase 9 metros de largura. Não é preciso imaginação fértil para perceber o enorme transtorno no trânsito, a poluição ambiental e o risco de morte que tal transporte causa para todas as milhares de pessoas com as quais o equipamento vai cruzar nas estradas. 

Deveria tal peça ser transportada exclusivamente por via hidroviária, aproveitando as várias bacias hidrográficas que interligam o País de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Mas no Brasil, historicamente, a matriz de transportes é distorcida para atender interesses rodoviaristas, em detrimento do portentoso potencial dos rios, que proporcionam transporte muito mais barato, menos poluente e com risco reduzido de acidentes. Estranhamente, nenhum mandatário que ocupou o Palácio do Planalto, ao longo de décadas, verdadeiramente teve vontade política de viabilizar a integração nacional através de hidrovias, executando as obras necessárias para permitir a livre navegação, o que inclusive daria competitividade aos produtos nacionais no mercado mundial, com a diminuição do custo do frete. Inexplicavelmente, são sempre as rodovias, congestionadas, poluídas e manchadas de sangue as escolhidas para os investimentos. A indústria de carretas agradece. A sociedade se mantém muda e queda. E o disparate continua, atravessando os séculos.

Conforme informações da Norte Energia, que constrói o empreendimento no rio Xingu, no Pará, o rotor da turbina será instalado na unidade geradora 03 da casa de força principal, no sítio Belo Monte, a 55 Km de Altamira. Para se ter uma ideia, o transporte da máquina iniciou em 4 de outubro e a previsão de chegada é só em janeiro de 2016. A megaoperação até o canteiro de obras deve durar 90 dias.
Já estão em Belo Monte quatro rotores do tipo francis. A casa de força principal de Belo Monte terá 18 peças semelhantes à que está a caminho. A previsão de entrega da última unidade é para o primeiro trimestre de 2018. 

Além da Andritiz, as empresas Voith e Alstom fornecem equipamentos deste porte para a UHE Belo Monte que, até setembro, já tinha recebido 34.759 toneladas de equipamentos.
O rotor é a peça mais importante da turbina, o núcleo que gera energia em uma hidrelétrica. As 13 pás do equipamento recebem a água do rio e transformam a energia cinética em energia mecânica, transmitida ao rotor do gerador para produzir energia elétrica. Após a descida do rotor a próxima peça será o eixo da turbina.
Com 18 unidades geradoras, a casa de força principal, no sítio Belo Monte, terá capacidade instalada de 11 mil MW (611,11 MW cada turbina). O complexo de Belo Monte conta, ainda, com a casa de força complementar, que está em fase de conclusão, no sítio Pimental, com 6 turbinas e capacidade de gerar 233,1 MW. 
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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