Um vídeo que circula entre policiais federais e vazou para a imprensa é revelador dos bastidores da prisão, à noite passada, do ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB). A conversa com um policial federal que negociava a rendição dele – testemunhada pelo Padre Kelmon (PTB), candidato derrotado à Presidência da República – não podia ser mais cordial, a ponto de o policial dizer: “fique tranquilo”, “o que o senhor precisar a gente vai fazer”. Roberto Jefferson não só confirmou que atirou balas de fuzil e granadas, como também contou que os agentes da PF estavam desarmados e sem colete. “Ele três vezes ficou enquadrado no meu red dot [função que auxilia o atirador na hora do disparo]. E eu falei, ‘não atira nele, Roberto Jefferson’. Eu não atirei. Quando eles correram para atrás da viatura, aí eu joguei a granada na frente”. Admitiu, ainda, ter jogado uma segunda granada. O negociador da PF disse a ele que os colegas baleados “são da área de inteligência, burocráticos, trabalham em escritório e não são operacionais”. O criminoso está no presídio de Benfica, na zona Norte do Rio, e terá audiência de custódia nesta segunda-feira (24), às 16h, na Justiça Federal, com o juiz auxiliar Aírton Vieira. Em seguida, será conduzido ao presídio Pedrolino Werling de Oliveira, conhecido como Bangu 8, no Complexo de Gericinó, onde esteve preso no ano passado. Jefferson requereu ao STF autorização para utilizar a sala reservada de Bangu 8, de modo a viabilizar o exercício amplo da defesa e o direito de acesso aos seus advogados. O pedido foi negado.
O advogado, político e ex-apresentador de TV Roberto Jefferson, réu confesso por corrupção no Mensalão, que ele denunciou, condenado pelo Judiciário em todas as instâncias e preso domiciliar sob alegação de doença terminal, tumultuou o processo eleitoral, proferiu discursos de ódio, afrontou instituições democráticas e insultou a ministra Cármen Lúcia, do STF, com adjetivos gravíssimos, tais como “prostituta”, “vagabunda” e “arrombada”, pelas redes sociais. Ante a revogação do privilégio e decretação de sua prisão, ele atacou com pelo menos duas granadas e mais de vinte tiros de fuzil os agentes da Polícia Federal que foram cumprir a ordem, ferindo dois policiais e causando perda total no veículo da PF em que ambos estavam no cumprimento do dever.
Não bastasse essa sequência assombrosa e surreal, ele ainda gravou dois vídeos mostrando o carro da PF crivado de balas e afirmando que resistiria até à morte. “Eram quatro, eles correram, e eu falei: ‘sai porque eu vou pegar vocês’”, disse ele em um dos vídeos. Sua filha, a ex-deputada federal Cristiane Brasil (que foi impedida pelo STF de ser ministra no governo de Michel Temer), teve as contas nas redes sociais suspensas ao veicular convocação a extremistas para a luta armada em defesa do seu pai e do bunker da família. Foi necessária a expedição de nova ordem judicial do ministro Alexandre Moraes, dessa vez cumulativa (prisão judicial e em flagrante delito por quatro tentativas de homicídio, além de outros crimes cometidos durante a ação) e ainda enfatizando que “a intervenção de qualquer autoridade em sentido contrário, para retardar ou deixar de praticar, indevidamente o ato, seria considerada delito de prevaricação”. Mesmo assim, Jefferson só capitulou depois de oito horas de resistência.
Assessor político do vereador Robson de Souza na Câmara Municipal de Três Rios (RJ), Diogo Lincoln Resende agrediu o cinegrafista Rogério de Paula, de 59 anos, que cobria a operação da PF em frente à casa de Roberto Jefferson, com socos nas costas. A violência foi gravada em vídeo por populares. A vítima chegou a ser internada na UTI do Hospital local. O agressor, indiciado por lesão corporal, está foragido e já foi exonerado, conforme nota da Câmara.
O ministro da Justiça, Anderson Torres, viajou do Distrito Federal para o Rio de Janeiro a fim de acompanhar a situação na casa de Roberto Jefferson, mas não visitou no hospital os policiais federais feridos, que são seus colegas de carreira na PF.
O presidente e o vice-presidente da República, e o presidente da Câmara dos Deputados, assim como o ex-presidente Lula, repudiaram em nota nas respectivas redes sociais os atos de Roberto Jefferson.
Até o deputado federal Felício Laterça, bolsonarista declarado, se manifestou indignado. “Roberto Jefferson é um miliciano. Agiu como miliciano. O vídeo do policial que negociava rindo é péssimo. Aquilo foi péssimo e pegou muito mal entre nós, policiais, e na população em geral. Não tem que rir para bandido. Por mais que os ferimentos do delegado e da agente não fossem graves, tenham sido pelo estilhaço, não era para ficar rindo. Roberto Jefferson tem que apodrecer na cadeia. Se referir à Polícia Federal como ‘Gestapo do Xandão’ e ‘polícia do Xandão’, quando quem estavam ali eram profissionais… Ontem, o STF acertou o alvo ao fazer Roberto Jefferson perder a razão, se é que ele a tinha”, afirmou.
O negociador que tratou amistosamente Roberto Jefferson é o chefe substituto do GPI da Polícia Federal e do NEPOM RJ. Ele se justificou perante os colegas sustentando que “a responsabilidade da negociação era enorme, não havia condições de fazer uma entrada tática com tantas pessoas na casa e a informação que havia várias armas! Virou um gerenciamento de crise, se sai um inocente ferido ou morto seria uma tragédia e nome da PF na lama! Eu vesti um personagem para desacelerar a situação da melhor maneira possível! Graças a Deus tudo terminou bem sem ninguém ferido ou morto e o perpetrador preso! Infelizmente, não dá para colocar todos os detalhes aqui, mas tenham certeza que, se a equipe do GPI estivesse no momento da troca de tiro, o resultado poderia ser outro, mas chegamos com uma situação de gerenciamento de crise, aí toda conduta muda!”
O Brasil não é mesmo para amadores. Assistam aos vídeos.
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